Ex-elefante branco

Arena Pantanal chega à elite 7 anos após inauguração e muda tendência de desperdício graças ao êxito do Cuiabá

Gabriel Carneiro Do UOL, em São Paulo Alexandre Schneider/Getty Images

Um dos 12 estádios construídos ou reformados no Brasil para a Copa do Mundo de 2014, a Arena Pantanal completa hoje (2) sete anos de seu jogo de inauguração. Mais do que a data comemorativa, o ano é importante porque pela primeira vez há uma perspectiva de realização de jogos de elite com frequência no local, graças ao acesso do Cuiabá à Série A do Brasileirão.

Além da Arena Pantanal, Arena da Amazônia, Arena das Dunas, Arena Pernambuco e Mané Garrincha desde o Mundial se tornaram "elefantes brancos", estádios que só recebem jogos de pouco apelo ou caça-níqueis de empresários em acordo com a Confederação Brasileira de Futebol (CBF) e grandes clubes, principalmente do Rio de Janeiro — até um esquema de corrupção na venda de mandos foi descoberto.

Em 2021, porém, a arena passa a ser um estádio que não depende mais de "favores" para ter futebol de alto nível. Fundado em 2001, o Cuiabá Esporte Clube subiu para a Série A junto com Chapecoense, América-MG e Juventude e colocou o Mato Grosso na elite após 25 anos. O time usa o estádio desde a inauguração.

Alexandre Schneider/Getty Images

Nossa decisão de comprar e investir no Cuiabá foi impulsionada pelo fato de ele pertencer a uma cidade que foi sede da Copa do Mundo de 2014 e à construção do estádio. Foi o ponto principal para a retomada do futebol local e lá conquistamos títulos e grandes vitórias. Durante as séries C e B, o povo da cidade vinha acompanhar, mas não era atrativo o suficiente para utilizar toda a capacidade do estádio. Em uma Série A é possível explorar todas as possibilidades

Cristiano Dresch, vice-presidente do Cuiabá

Junior Silgueiro/SeducMT

Esforço para ocupar uma arena de Copa

A família Dresch, dona de indústrias de borracha no Mato Grosso e que já havia patrocinado a equipe, comprou a operação do clube em 2009 justamente em razão do projeto da Arena Pantanal e perspectivas de futuro. De alguma forma, uma das iniciativas de Fifa e CBF na época da Copa acabou cumprida com o desenvolvimento do futebol em regiões periféricas. Mesmo que a longo prazo e custo.

Para Alberto Machado, secretário de Cultura, Esporte e Lazer (MT), o acesso do Cuiabá no Brasileirão é "um diferencial para a ativação completa da Arena Pantanal".

No ano inteiro de 2017, o estádio recebeu apenas 22 partidas, o que motivou um processo de "reutilização" de suas áreas, ou seja, aproveitar o prédio público ocioso para alguma função útil.

Atualmente, além dos jogos do Cuiabá e de outros clubes da região metropolitana, a Arena Pantanal abriga a Escola Arena (Escola Estadual Governador José Fragelli, para cerca de 400 alunos do 7º ano Fundamental até o 1º ano Médio), a secretaria adjunta de Esporte e Lazer do Estado, uma unidade do Detran (Departamento Estadual de Trânsito), um centro de arrecadação de alimentos e também o Centro de Triagem da Covid na capital.

E, como em outras partes do país, o estádio também acabou aproveitado na operação de combate à covid-19.

O Centro de Triagem de covid-19 foi instalado desde o início do crescimento do primeiro pico da pandemia, em julho de 2020. O Governo do Estado implantou o espaço para oferecer atendimento e tratamento primário, que inclui a testagem, como forma de evitar o agravamento da doença em pessoas que apresentam sintomas leves. O funcionamento está sendo muito importante para impedir casos mais graves e garantir o acesso a um atendimento de saúde público e de qualidade. Enquanto a pandemia se mantiver no país, o espaço continuará funcionando na Arena Pantanal

Alberto Machado, secretário de Cultura, Esporte e Lazer do Mato Grosso

Getty Images

Manutenção abaixo de R$ 4 mi anuais

A Arena Pantanal é mantida e administrada pela Secretaria de Cultura, Esporte e Lazer do Estado, e o custo de manutenção anual varia entre R$ 3,6 milhões e R$ 3,8 milhões, sendo a maior parte de energia elétrica. Toda utilização, para partidas ou eventos, é analisada pelo governo, que cobra 8% das receitas de jogos do clube mandante, seja ingresso, bar e afins. Na pandemia, este valor foi a zero, mas o Cuiabá e a Federação Mato-grossense se encarregaram dos cuidados com o gramado.

Com a possibilidade de aumento das despesas devido às demandas da Série A, estão sendo planejadas parcerias com a iniciativa privada para dividir gastos, porque há preocupações com a estrutura do entorno e imperfeições internas.

A Arena Pantanal custou aos cofres públicos cerca de R$ 630 milhões e recebeu quatro jogos da Copa do Mundo de 2014.

Divulgação

Equipe forte para ficar na Série A

O Cuiabá é um dos times da elite do Brasileirão que mais investiu no mercado da bola este ano, e a representatividade dos nomes mostra um pouco da ambição de formar um elenco de Série A.

Entre as principais novidades estão o goleiro Walter, de 91 jogos e sete temporadas no Corinthians, o lateral-esquerdo Uendel, ex-Corinthians e Internacional, o zagueiro Paulão, ex-Vasco e Fortaleza, o volante Camilo, emprestado pelo Lyon-FRA, e os atacantes Jonathan Cafu e Clayson, cedidos até o fim da temporada por Corinthians e Bahia, respectivamente.

"Assim que confirmamos o acesso já começamos a nos preparar. É um grande desafio jogar a Série A e permanecer nela. O Cuiabá representa um estado e uma região do Brasil que vem crescendo muito nos últimos anos, principalmente por conta do agronegócio, e a gente quer representar essa região de maneira digna. Sabemos das nossas limitações, mas estamos trabalhando para estabelecer a nossa permanência na Série A", diz o vice-presidente Cristiano Dresch.

Restava a definição sobre quem seria o treinador do time na missão Série A. Allan Aal, que dirigiu o acesso, saiu em fevereiro para o Guarani. Nomes como Tiago Nunes, sem clube, e Umberto Louzer, da Chapecoense, foram procurados, mas o clube de Mato Grosso anunciou ontem (1) a contratação de Alberto Valentim, ex-Botafogo.

Os elefantes brancos que sobraram

Portal da Copa

Arena da Amazônia

Também com investimento superior a R$ 600 milhões, o estádio de Manaus tem a manutenção ainda mais cara que a Arena Pantanal, podendo chegar a R$ 10 milhões anuais. Até campeonatos amadores têm tido espaço por lá. O time mais bem-sucedido que faz uso é o Manaus, atualmente na Série C.

Divulgação/Site Oficial

Arena das Dunas

O estádio de Natal recebe as partidas do América, que disputa a Série D do Campeonato Brasileiro na temporada 2021. O custo da praça esportiva na capital do Rio Grande do Norte já passou de R$ 700 milhões e não há frequência significativa de jogos de torneios de elite do futebol brasileiro.

ARNALDO CARVALHO/JC IMAGEM

Arena Pernambuco

Sport, Náutico e Santa Cruz não usam o estádio com frequência por causa da distância, do aluguel caro, da falta do "efeito caldeirão" e de problemas estruturais no entorno. O Náutico foi o que mais se esforçou para aproveitar o investimento público superior a R$ 500 milhões, mas desistiu.

Alexandre Vidal/CRF

Mané Garrincha

O Estádio Nacional, de Brasília, deverá receber jogos importantes neste mês, como a Recopa Sul-Americana (Palmeiras x Defensa y Justicia) e a Supercopa do Brasil (Palmeiras x Flamengo). O último jogo por lá havia sido Brasiliense x Remo, na final da Copa Verde. Pouco uso frequente ao custo de R$ 1,5 bilhão.

Reprodução

Os outros estádios da Copa de 2014

Maracanã (usado por Flamengo e Fluminense), Arena Fonte Nova (usado pelo Bahia), Arena da Baixada (do Athletico-PR), Neo Química Arena (do Corinthians), Beira-Rio (do Internacional), Arena Castelão (usada por Fortaleza e Ceará), Mineirão (usado por Atlético-MG e Cruzeiro).

Buda Mendes/Getty Images Buda Mendes/Getty Images

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