100 dias para as Olimpíadas

UOL falou com mais de 100 atletas sobre covid, preparação e se eles ainda apoiam a realização dos Jogos

Demétrio Vecchioli Colunista do UOL, em São Paulo Daniel Varsano/COB

Faltando 100 dias para os Jogos Olímpicos de Tóquio, um a cada três atletas brasileiros classificados ou com possibilidade de se classificar pode ter tido covid. Isso é o que indica uma pesquisa realizada nos últimos dias pelo UOL Esporte junto a 107 atletas sobre o impacto da pandemia. As perguntas tiveram o objetivo de mapear a preparação do Time Brasil para o evento, que deveria ter sido realizado no ano passado e foi adiado exatamente por conta da doença.

As respostas ainda mostraram que 67% dos atletas brasileiros de alto rendimento ficou pelo menos três meses sem conseguir treinar durante a pandemia, mas, mesmo assim, só 23% dos entrevistados acreditam estar com um nível técnico pior do que antes do início da pandemia, em março do ano passado.

A maioria (76%), também, é a favor da realização dos Jogos Olímpicos em julho, mas quase um a cada quatro atletas já não defende a Olimpíada. Entre os que responderam, 7% acham que a Olimpíada deveria ser cancelada e 18% pensam que o melhor seria adiar novamente o evento.

O questionário, anônimo, foi aplicado através de formulário online enviado a atletas que estarão ou poderão estar em Tóquio. A pesquisa, que não tem embasamento científico, foi respondida por 107 atletas de 14 diferentes modalidades, coletivas e individuais, que têm base de treinamento em dez diferentes países, principalmente o Brasil (80% dos respondentes).

Apesar dos números alarmantes do coronavírus no país, que hoje concentra cerca de um terço das mortes diárias pela doença, não se discute o risco de os brasileiros não serem aceitos em Tóquio, da mesma forma como não está na pauta a vacinação obrigatória para os atletas da Olimpíada como um todo. De mãos atadas, aos atletas só resta treinar e se proteger.

Daniel Varsano/COB

Mais de 32% dos atletas teve covid

Só no primeiro turno do NBB, o campeonato nacional de basquete, 65 atletas testaram positivo para covid. Considerando que cada elenco tem em média 16 jogadores, isso significa que 25% dos atletas se infectaram somente durante a primeira metade da fase de classificação. Na Superliga Feminina, a mesma taxa foi registrada em apenas três meses.

Isso em ligas que criaram protocolos em tese rígidos, com testagem regular. Nas modalidades individuais, o controle é mais difícil e há menos dinheiro circulando para realização de testes com alguma periodicidade.

Assim, não surpreende que 32,4% dos entrevistados tenha respondido que já testou positivo para a covid. Outros 2,9% afirmaram que acreditam que já tiveram a doença, mas não tiveram diagnóstico. Os demais, 64,7%, não tiveram a doença.

Os números se aproximam, também, de uma pesquisa realizada pelo COB no fim do ano passado, em novembro, que apontou que 25% dos atletas da "lista larga" (pré-inscritos nos Jogos pelo Brasil) já havia tido a doença.

iStock

A falta de perspectiva e todas as incertezas e preocupações com rede de amigos e familiares em se infectarem tirou a concentração. Por mais que tentasse focar nos treinos, a sensação de estar nadando e continuar no mesmo lugar está sendo muito forte."

Atleta que não quis se identificar na pesquisa do UOL.

Daniel Varsano/COB
Bruno Fratus, principal nome da natação brasileira: ele defendeu adiamento em 2020, hoje, é a favor dos Jogos em julho

25% acha que os Jogos não deveriam acontecer em julho

Há um ano, Bruno Fratus liderou um movimento global pedindo o adiamento dos Jogos de Tóquio. Em poucos dias, a Olimpíada mostrou-se inviável na data inicialmente planejada, e, como se sabe, ela acabou adiada.

Agora, Fratus não virá ao Brasil para a seletiva olímpica da natação, que vai acontecer no Rio de Janeiro. Radicado há muitos anos nos Estados Unidos, ele relatou à Confederação Brasileira de Desportos Aquáticos (COB) e ao COB uma grande preocupação com o risco de pegar um avião e vir ao Brasil. Ganhou, como exceção, o direito de fazer uma tomada de tempo em uma competição na Califórnia, no fim de semana passado.

Qualificado para Tóquio, ele agora acha que é importante realizar os Jogos, apesar das dificuldades. "O adiamento na época foi importante para entender o que estava acontecendo de fato, porque até então ninguém sabia. Mas acredito na ideia de os Jogos Olímpicos serem símbolo da resiliência humana, e algo que pode trazer esperança, inspiração e renovar as energias de quem assiste. O esporte é isso", diz ele.

Fratus pensa como a maioria dos atletas brasileiros. De cada quatro que responderam à pesquisa do UOL Esporte, três são a favor da realização da Olimpíada em julho. Os Jogos deveriam ser adiados para 17% e, cancelados, para 7% deles.

Alexandre Castello Branco/COB
Luiz Fernando, do boxe: seleção chegou a montar CT em hotel para poder treinar enquanto CT em São Paulo estava fechado

Pandemia prejudica preparação

Oito brasileiros que atingiram o índice necessário para disputar o Pré-Olímpico de Saltos Ornamentais já estavam concentrados no Rio de Janeiro, de malas prontas, quando souberam que a competição, que seria em Tóquio dali a duas semanas, estava cancelada. Passaram a trabalhar sem saber para que torneio estavam treinando —e nem onde e quando ele seria.

"A gente fica sem saber se pode mexer nos treinos, treinando uma série forte sem saber se vai precisar", contou Isaac Souza ao UOL, horas antes de ser informado que disputará o Pré-Olímpico na primeira semana de maio.

Sinto que a cada dia que passa meu sonho de ser atleta olímpica está sendo apagado por não está conseguindo treinar devidamente."

Atleta no questionário do UOL

É muito difícil não saber como será o dia de amanhã, se vai haver competição, se tem grupos que estão conseguindo treinar e eu não..."

Atleta no questionário do UOL

iStock

Foi uma temporada desafiadora. Foram 3 meses sem conseguir realizar trabalho de academia de forma apropriada. Perdi quatro quilos de massa magra e foram praticamente oito meses para poder recuperar o condicionamento que foi perdido."

Atleta no questionário do UOL.

Mudanças de planos, idas e vindas, portões fechados e restrições das mais diversas viraram rotina no treinamento de atletas brasileiros. Dos 106 entrevistados pelo UOL Esporte, só 16% deles disseram que tiveram a preparação pouco afetada pela pandemia, marcando entre 1 e 4 em uma escala que ia de 0 a 10.

Em média, os atletas ficaram quatro dos últimos 13 meses sem conseguirem treinar em seus locais usuais de treino. A pesquisa do UOL mostrou que 14% deles ficou mais de oito meses nessas condições, enquanto apenas 22% dos entrevistados permaneceu no máximo dois meses longe de seus locais de treinamento.

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