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Agredida, skatista fica desfigurada e diz que juiz de skate foi homofóbico

Ana Paula Araújo mostra ferimentos no rosto após ser agredida na praça Roosevelt - Reprodução/Facebook
Ana Paula Araújo mostra ferimentos no rosto após ser agredida na praça Roosevelt Imagem: Reprodução/Facebook

Do UOL, em São Paulo

16/08/2013 06h00

A skatista e estudante de engenharia civil Ana Paula Araújo, de 31 anos, acusa o também skatista André Ervolino Ribeiro, o André “Hiena”, de 39 anos, de agressão. O fato ocorreu em 3 de agosto, na Praça Roosevelt, tradicional reduto do esporte em São Paulo, e o motivo, segundo a vítima, seria uma suposta homofobia por parte do agressor.

Hiena, que é juiz da Confederação Brasileira de Skate (CBSK), profissional renomado de street skate e diretor de uma empresa fabricante de eixos de skate, partiu para cima da menina, a quem chamou de “macho”, e a atacou com tapas, até finalizar com uma “skatada” na cara. O golpe causou ferimentos graves no rosto da skatista.

Ana, que saiu do local sangrando e com hematomas, foi atendida imediatamente pela Guarda Civil Metropolitana (GCM) e encaminhada para o hospital, onde recebeu sete pontos (quatro na testa e três abaixo do olho direito), sendo liberada na sequência.

A reação exagerada de Hiena, que era amigo da vítima há 15 anos, ocorreu por ele estar “alterado”, segundo explicou o próprio agressor. Ele teria ouvido Ana afirmar que a namorada do skatista era “a maior gata”.

“Não sou homossexual”, diz Ana, em entrevista ao UOL Esporte. “Eu o denunciei, pois não quero que outras meninas sofram como eu estou sofrendo”.

Apesar de ter denunciado seu agressor, a skatista diz estar recebendo diversas ameaças desde o ocorrido. Nenhuma, no entanto, partiu do agressor. “Estou a um ponto de pedir as contas do meu estágio, sair da faculdade e de São Paulo”.

Segundo a advogada criminalista Alessandra Jiradi, que representa Ana, o agressor deverá responder inicialmente pelos crimes de injúria e lesão corporal, conforme exame de corpo delito realizado pela skatista no Instituto Médico Legal, e lavrado em boletim de ocorrência na 1ª Delegacia da Mulher, no Centro.

Procurado pelo UOL Esporte, Hiena atendeu a primeira ligação. Ao ser informado sobre o teor da reportagem, desligou e não mais retornou. Por meio do Facebook, Hiena deu a sua versão sobre o caso, sem negar que tenha agredido a skatista.

“Venho esclarecer todas acusações pelo ocorrido. Foi em um momento que estávamos todos bebendo, já estávamos todos alterados, começou com brincadeiras que levaram a discussão, não tive controle e nem noção que causaria, me senti ofendido pelo que ela me disse e acabei causando um grande problema, no estado em que me encontrava tive um reflexo levantando o skate sem imaginar que pegaria no rosto dela causando os ferimentos, não justificando que a bebida é a culpada. Não sou homofóbico, pelo contrário, tenho homossexuais na família e amigos que convivem comigo e frequentam minha casa que sempre tratei com muito carinho e respeito. Quanto à Paula, sempre foi minha amiga, também frequentava minha casa, andávamos de skate juntos e convivíamos todos juntos, temos muitos amigos em comum".

"Consciente de tudo que fiz, tentei prestar toda assistência possível, direta e indiretamente, pois não tenho raiva ou ódio dela, muito pelo contrário, sempre foi uma pessoa que considerei, independentemente das nossas diferenças, sempre a respeitei. Sei o quanto é chocante ver a foto postada e o depoimento, entendo a injúria de todos, levando em consideração por ela ser mulher. A minha vida profissional sempre foi trabalhada com muita dedicação e respeito sem passar por cima de ninguém, onde me tornei skatista profissional, juiz da CBSK, empresário, representante de algumas reivindicações, mas como todo ser humano, temos problemas na vida pessoal, erramos e com toda clareza assumo meu erro".

"Meus patrocinadores, pessoas com quem trabalho, CBSK, amigos e pessoas próximas com quem me relaciono não têm nada a ver com meus problemas e muito menos devem ser julgadas ou importunadas pelo ocorrido, pois foi em um momento em que eu estava fora de trabalho com os meus amigos. Um acontecimento em rede social traz uma forma muito fria, tanto para o bem como para o mal, muitas pessoas me crucificaram, me julgaram, me ameaçaram, mas poucas pessoas foram procurar o que aconteceu e prestar apoio e ajuda para a Paula, pessoas próximas e amigos em comum tentaram saber o que realmente aconteceu e assim prestar apoio tanto à minha parte quanto à dela. Deixo aqui meu esclarecimento, sei o quanto errei, o quanto fui prejudicado, o quanto magoei as pessoas e se um dia puder pedir desculpas e perdão a Paula pessoalmente farei isso”, completou.

Com os ferimentos provocados pela agressão, Ana também deve ter problemas para conciliar outro trabalho: o de modelo. A skatista já participou de dezenas de comerciais e, após ter seu rosto desfigurado, deve ter mais dificuldades para encontrar oportunidades.

Já para Hiena, a agressão resultou em uma suspensão preventiva pelas próximas duas provas por parte da Confederação Brasileira de Skate. A entidade, por meio de um comunicado oficial, ainda espera mais informações sobre o caso para avaliar alguma outra punição.