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  20/02/2004 - 16h58
Do próprio bolso, Maria Elizabete Jorge tenta produzir novos campeões

Ricardo Zanei
Em São Paulo

Única pesista brasileira a chegar às Olimpíadas, Maria Elizabete Jorge quer produzir novos campeões. O objetivo: formar atletas com potencial olímpico. Como fazer isso? Do próprio bolso.

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Maria Elizabete Jorge durante treinamento preparatório para os Jogos de Sydney
A idéia veio da sua própria história de vida. "Eu e minha família passamos fome por alguns meses. Corri atrás e ninguém me deu oportunidade. O único meio que achei foi lavar roupa pra fora. Hoje, mais estabilizada, me veio a idéia de ajudar. Quero trabalhar com crianças carentes, bancar uma pequena bolsa para cada um treinar", afirmou, sem informar os valores que pretende investir.

O passado motivou a atleta a tomar tal atitude, já que ela vê uma realidade muito difícil nas crianças com as quais trabalha. "Se eu começar a fazer isso, dá para elas comerem ao menos em alguns dias da semana. Mas seria legal se surgissem patrocínios", afirmou a técnica, que hoje utiliza um local cedido pela Universidade de Viçosa, com catorze plataformas, e busca ajuda de empresas de ônibus que contribuam com vale-transporte.

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Elizabete (de verde) treina crianças na Universidade de Viçosa, em Minas Gerais
Na próxima semana, depois do Carnaval, Elizabete começa uma peregrinação nas escolas da região de Viçosa para recrutar trinta crianças - quinze meninos e quinze meninas -, que imediatamente passarão por testes e começarão a treinar na universidade da cidade mineira.

"Vamos aos colégios e perguntamos quem quer treinar. A criança, de oito anos para cima, vem aqui e faz um teste. Se passar, dá continuidade ao treinamento", explicou Elizabete.

No momento, a atleta é responsável pelo treinamento de cerca de cem pessoas, entre crianças e adolescentes, de ambos os sexos. "Mas até o meio do ano quero trabalhar com trezentas crianças", revelou.

O outro lado
Os gastos de Elizabete não deveriam ser justificados, pois a Confederação Brasileira de Levantamento de Peso conta com um recorde negativo, como já havia informado a reportagem do UOL Esporte: em 2002 e 2003, a entidade liderou o ranking de não-aplicação dos recursos da Lei Piva, simplesmente pela falta da apresentação de projetos.

Em 2002, não usou um total de R$ 223.685, o que corresponde a 48,7% do total a que tinha direito. No ano passado, as "sobras" chegaram a R$ 390.928 (46,3% do total). Esse dado certamente teve peso no corte de verbas que o COB impôs à entidade em outubro de 2003. Se antes recebia 1,5% do total destinado às confederações, hoje o levantamento de peso recebe 0,5%.

Longo prazo
A idéia de Elizabete, hoje professora de levantamento de peso na Universidade de Viçosa, é ainda mais ousada. Além de bancar as crianças, ela pretende mudar o treinamento feito no país.

Atualmente, a criança que passa nos testes realiza um trabalho de adaptação. São 36 dias, três séries de doze dias, com treinos com determinada "quilagem". Aí, elas passam a treinar com flexão profunda dos joelhos. Só depois de toda a "maratona" é que elas fazem um teste de carga máxima. Para Elizabete, a "maratona" de hoje deve ser ainda mais puxada.

"Esse trabalho de hoje é feito para fortalecer as articulações, mas acho que isso tem sido feito em pouco tempo. Nos EUA, por exemplo, eles fazem um ano em cada fase. Aqui, são doze dias para cada fase. Eu quero fazer isso, pegar as crianças mais jovens e trabalhar", explicou.

"Quando chegar aos 15 anos, idade em que poderá competir, já será um campeão, pois domina a técnica. Quero trabalhar só a técnica. A idéia é chegar com pelo menos 85% de técnica. Para competir num Mundial, numa Olimpíada, uma mulher precisa de, no mínimo, de oito anos de treinamento. Para os homens o tempo é ainda maior, ou seja, dez anos. O trabalho é a longo prazo. Eu levei oito anos para chegar numa Olimpíada", completou.

Elizabete foi a primeira pesista a representar o país em Olimpíadas, nos Jogos de Sydney-2000. As mulheres tiveram sua estréia na competição australiana, 104 anos depois dos homens. Mineira de Viçosa, à época com 43 anos, Elizabete conseguiu levantar 60 kg no arranco e 75 kg no arremesso, ficando em nono lugar na categoria peso até 48 kg.


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