| 24/08/2004 - 09h18 Erros e protestos sobre notas mancham a ginástica em Atenas Das agências internacionais Em Atenas (Grécia) Quatro anos depois de ver sua campeã geral ser pega no antidoping, a ginástica artística volta a viver um momento ruim em Olimpíadas. Já afastados da polêmica de doping, dessa vez o esporte ocupou as manchetes com erros de pontuação e medalhas que só devem ser decididas no tapetão.
 | | Alexei Nemov pede calma ao público, que não se conformou com sua nota | Nesta terça-feira, o programa do esporte terminou em Atenas com a exibição de gala dos campeões. Nos bastidores, porém, as disputas continuam. O resultado de pelo menos quatro provas está sendo contestado.
Na segunda-feira, após as finais da prova de barra fixa, o russo Alexei Nemov foi aplaudido pelo público, mas por decisão dos juízes, ele ficou só com o quinto lugar. Os torcedores, então, começaram a vaiar o resultado e só pararam depois de dez minutos, quando o próprio Nemov subiu ao pódio para pedir silêncio.
Um juiz canadense que atuou nas finais por aparelhos afirmou que deu notas maiores porque foi pressionado pelo público. Segundo Chris Grabowecky, a platéia estava "fora de controle" e uma autoridade lhe pediu "que fizesse alguma coisa" para resolver a questão.
"É difícil descrever a pressão sob a qual estávamos. Eram 13 mil pessoas gritando e as pessoas que comandam o evento pedindo que a gente fizesse alguma coisa", disse o juiz, que é ex-ginasta e exerce esta função desde 1993.
O pedido para melhorar a nota de Nemov -que buscava sua primeira medalha em Atenas e a 13ª de sua carreira- teria partido de Adrian Stoica, o coordenador oficial do evento. "Eu percebi que Stoica fez um sinal com a mão, me chamando. Ele me deu um olhar enfático e eu imediatamente fiz a correção", narrou o canadense, que aumentou a nota de Nemov de 9,725 para 9,762.
Mais confusão No domingo, o grego Dimosthenis Tampakos levou o ouro nas argolas, mas a Bulgária contesta o resultado. A FIG rejeitou nesta terça-feira um pedido de revisão das notas do campeão mundial Jordan Jovtchev.
Por regras da entidade, um atleta não pode pedir revisão das notas de outro competidor. E é justamente a nota de Tampakos que gerou os protestos. Segundo os búlgaros, a nota foi alta demais para a rotina apresentada pelo grego, primeiro atleta do país-anfitrião a conquistar o ouro nas argolas.
No sábado, foi a vez de outro membro da delegação russa reclamar. Ginasta mais vitoriosa que estava participando dos Jogos, Svetlana Khorkina ficou com a medalha de prata na final individual geral, atrás da norte-americana Carly Patterson. A um jornal russo, ela disse que "antes mesmo de competir na primeira prova, já sabia que não iria ganhar a medalha de ouro".
 | | Khorkina lamenta segundo lugar na final | O caso mais grave, porém, aconteceu na sexta-feira. A Coréia do Sul reclama que a medalha de ouro no individual geral, dada ao norte-americano Paul Hamm, deveria ter sido dada a Yang Tae-young, que ficou com o bronze. Os juízes erraram a nota de partida do sul-coreano e por isso ele ficou com uma nota inferior.
A FIG suspendeu três juízes, mas não mudou o resultado. Os sul-coreanos anunciaram que vão apelar à Corte de Arbitragem Esportiva (CAS), que está fazendo audiências em Atenas durante os Jogos. O CAS, porém, ainda não recebeu os protestos. Os Estados Unidos avisaram que concordariam com uma eventual divisão da medalha de ouro, mas FIG e Coréia do Sul ainda não deram parecer sobre a idéia.
Perseguição russa A Rússia, aproveitando a comoção causada pelas duas derrotas, está elaborando um protesto-monstro contra a FIG. O plano é mandar uma carta diretamente ao COI (Comitê Olímpico Internacional), reclamando, além das decisões sobre Khorkina e Nemov, de outras notas dadas a seus ginastas.
"A reação do público no caso de Nemov mostra que estamos certos com nossos protestos", disse Gennady Shvets, porta-voz do Comitê Olímpico Russo.
Khorkina, que não deve mais disputar as Olimpíadas, pediu alterações nas regras. "Eu fiz praticamente tudo certo e simplesmente me deixaram de lado. Acho que o esporte tem de sofre várias mudanças", disse a ginasta, que antes dos Jogos afirmou que quer trabalhar na FIG quando parar de competir.
Essa não é a primeira vez que a Rússia protesta contra juízes. Nos Jogos de Inverno de Salt Lake City, em 2002, o Comitê Olímpico ameaçou abandonar as competições após erros de juízes contra atletas gregos. As reclamações envolviam juízes de patinação artística, hóquei no gelo e esqui cross country.
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