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10/06/2004 - 09h30
À frente da seleção feminina, Renê Simões consagra "carreira estranha"

Daniel Tozzi
Enviado especial do UOL
Em Teresópolis (RJ)

Renê Simões chegou ao caos. Não bastou levar o futebol à Jamaica e a Jamaica à Copa do Mundo, nem tentar repetir a dose, sem sucesso, em Trinidad e Tobago, ou mesmo dirigir um Flamengo que havia oficializado a presença de torcedores organizados na sua diretoria. Simões, 52, ainda tinha que conhecer o futebol feminino no Brasil.

Arquivo/Agência Folha 
O técnico Renê Simões, que levou a Jamaica à Copa, orienta treino da seleção
"A situação é caótica", afirmou Renê Simões em conversa com o UOL na Granja Comary, em Teresópolis. Não há campeonatos, calendário, nada. Apenas uma seleção que joga em Atenas-04 uma cartada decisiva para mudar a cara da modalidade no país.

"Acharam que eu não ia aceitar", disse o treinador sobre a resposta esperada pela cúpula da CBF quando ocorreu o convite para assumir a seleção feminina. "Mas acabei aceitando o desafio, acho que tem sido muito legal. Espero que no final consigamos transformar nosso sonho em ouro", completou o treinador que concedeu a entrevista abaixo no intervalo de um dos treinos do grupo para as Olimpíadas.

UOL Esporte: Técnico da seleção feminina de futebol precisa entender mais de futebol ou de mulher?
Renê Simões:
Primeiro de futebol (risos). Se entender de tratar bem as mulheres e não entender de futebol você não vai montar um time. Então em primeiro lugar é entender de futebol.

Mas tem que entender de mulheres também, porque é muito diferente. Elas camuflam menos os sentimentos. Você sabe o que está acontecendo, às vezes até em demasia (risos). E você tem que dar explicações, sempre. O homem quer resolver uma relação, já a mulher quer primeiro discuti-la. Você tem que ser mais paciente, dar mais explicações.

UOL Esporte: Você chega a ser menos enérgico?
Renê Simões:
Não. Trato como se fossem minhas filhas, mas tem a hora da punição, a hora de falar grosso. Se vão chorar, a gente vê depois. Eu me baseio muito numa entrevista que vi da (jogadora da seleção de vôlei) Virna. Ela diz que o Bernardinho a fez chorar muito, mas ela agradece tudo o que ela é ao Bernardinho. Então, às vezes, vou fazer minha jogadora chorar, mas me preocupa mesmo é que ela aprenda alguma coisa, que possa evoluir.

UOL Esporte: Você trabalha mais que numa equipe masculina?
Renê Simões:
Muito mais, não tenha nem dúvida. O grande problema é que não chegam jogadoras bem nutridas, bem trabalhadas, com lastro. Não têm trabalho de base, ao contrário do masculino. Mas elas têm boa qualidade técnica. E o verdadeiro problema está em montar um grupo. E uma outra jogadora que eu queira, onde é que está? Eu não sei onde ela está, porque não há campeonatos.

UOL Esporte: Você levou a Jamaica à Copa, foi diretor do Flamengo com chefes de organizadas na gestão do clube e, quando chegou à seleção principal, assumiu a feminina, cuja modalidade tem problemas estruturais. Concorda que sua carreira tem uma face "outsider", com desafios inusitados?
Renê Simões:
Bem, desafios foram muitos. Voltei dos Emirados Árabes em 1984 e, no ano seguinte, levei o Mesquita pela primeira vez à Primeira Divisão do Rio. Na Jamaica, não foi apenas classificar a equipe para a Copa, mas sim dirigir todo o futebol do país. Era diretor técnico, criei o campeonato, a fórmula, o futebol feminino, as categorias de base. Mas não considero que o Flamengo tenha sido um desafio. O presidente (Edmundo Santos Silva) me apresentou uma idéia para um projeto fantástico, só que não era verdade. Não existia nada daquilo, era só vender uma idéia para fora. Consegui resolver alguns problemas, mas quando vetei a contratação do Gamarra, que ia dar uma comissão absurda para empresários, não servi mais. E me avisaram, ligaram e disseram "você não conhece o Flamengo, a partir de hoje você terá problemas". E foi o que aconteceu.

UOL Esporte: E como a seleção feminina do Brasil entra nesse contexto?
Renê Simões:
É um desafio muito grande, como foi a Jamaica. Porque temos à nossa frente as seleções dos Estados Unidos, da Alemanha, da Suécia, da China, então seríamos a quinta seleção. Mas ainda tem o México, talvez sejamos a sexta seleção. Então fazer que o sexto seja o primeiro é um desafio muito grande.

UOL Esporte: Que avaliação você faz do futebol feminino no Brasil?
Renê Simões:
A situação é caótica. Não há campeonatos nem esporádicos. Precisamos de uma liga nos moldes do que existe no vôlei, no basquete, no futsal. E com regras para mulheres, não as regras dos homens. Acho que o campo podia ser de 90m por 60m, que é a dimensão menor para os homens. A bola podia ser menor, e o jogo com quatro tempos de 25min. Acho que seria muito bom.

UOL Esporte: Você vê a CBF com uma idéia nesse sentido ou o projeto é "Renê Simões e a atual seleção trazem uma medalha?"
Renê Simões:
Acho que a CBF tem muita boa vontade. Se existe uma seleção é fruto da CBF, do trabalho do Paulo Dutra (supervisor da seleção feminina). Mas há de se montar agora um projeto mesmo, de fazer uma liga.

UOL Esporte: Mas tem algum projeto desses, seja de uma agência de marketing, de alguma federação, que tenha chegado à CBF?
Renê Simões:
Não sei se isso já foi feito, mas tenho conversado com pessoas que estão interessadas em fazer.

UOL Esporte: Quem seriam essas pessoas?
Renê Simões:
São pessoas, elas não autorizaram a falar ainda, estão trabalhando e costurando isso. Vamos ver se sai mesmo.

UOL Esporte: As jogadoras crêem que uma medalha mudaria a cara do futebol feminino no Brasil. Você concorda?
Renê Simões:
Acho que em termos de seleção mudaria muito. Todos querem jogar contra um medalhista, principalmente medalhista de ouro. O Brasil teria muito mais convites e elevaria seu nível internacional, além de trazer retorno financeiro, pois a seleção feminina, assim como as categorias de base, não geram receitas, apenas gastos.

Em termos internos, talvez dê uma sacudida, com as empresas descobrindo o futebol feminino. E tenho absoluta certeza que se fizermos uma liga bem organizada, que tenha eventos em torno dela, voltada para a família, a exemplo da Stock Car dos EUA, que atrai milhares de pessoas para a prova, mas ainda tem um milhão nas feiras, exposições e negócios afins que giram em torno do evento. Mas com pés no chão, não como fizeram antes nos EUA, com salários absurdos, gastos absurdos. Agora repensaram, vão começar mais de baixo. Não tenho nenhuma dúvida que a liga dos EUA dará certo.

UOL Esporte: Já tem um time base para as Olimpíadas?
Renê Simões:
Sempre passa isso na cabeça do treinador, mas a gente não revela, até porque ainda não fiz a relação das 18 (jogadoras). Elas estão ansiosas, mas eu quero deixar essa pressão para elas, elas têm que sofrer, aprender a suportar a pressão.

UOL Esporte: Acha que o fato do masculino estar fora das Olimpíadas ajuda a seleção feminina?
Renê Simões:
Só ajuda na divulgação. Só isso, mais nada, porque todos nós aqui gostaríamos muito que a seleção masculina estivesse presente. É o Brasil, isso aqui é o país do futebol. Estamos superfelizes e orgulhosos com a ginástica, o vôlei, temos muito respeito pelo pessoal da natação, do atletismo, torcemos muito, batemos palmas, mas não tem jeito, aqui é o país do futebol, então (o masculino) deveria estar lá. Agora só espero que o espaço que seria dado à seleção masculina seja destinado à seleção feminina.



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