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10/06/2004 - 09h26
Para craque, só ouro, marketing e atitude salvam futebol feminino

Daniel Tozzi
Enviado especial do UOL
Em Teresópolis (RJ)

Até os 21 anos, Kátia Cilene se dividia entre o atletismo e aquela dita "prática estranha" que juntava 22 mulheres atrás de uma bola. Diziam que "até parecia" futebol. Hoje, aos 27, ela já tem sua receita para fazer com que no Brasil o futebol feminino seja, pura e simplesmente, futebol.

Arquivo/Agência Folha 
Apesar da situação do esporte no país, Kátia tem até chuteira personalizada
"Precisa de divulgação. Um ouro valerá por 80% dessas mudanças. Mas também tem que ter uma mudança de atitude das jogadoras, em saber como usar um espaço que é nosso", avaliou a atleta do San Jose Cyber Rays, dos EUA, onde joga desde 2001.

Espécie de "Ronaldo" das boleiras, Kátia Cilene tem patrocinador pessoal e até chuteira personalizada. Assim como astro do Real Madrid, já passou por problemas clínicos sérios.

No ano passado, dois cistos no ovário quase a tiraram do Mundial dos EUA. Recuperou-se, jogou a Copa e, hoje, se prepara na Granja Comary, onde foi feita esta entrevista, para ser a estrela do futebol brasileiro em Atenas. Afinal, os marmanjos estão fora.

Após a vivência norte-americana, a jogadora receita um misto de resultados, marketing e criação de ídolos _até acredita no potencial de "garotas propagandas" dentro do grupo.

UOL Esporte: Como avalia a atual situação do futebol feminino no Brasil?
Kátia Cilene:
Bom, estamos numa situação um pouco complicada. Ganhamos o ouro no Pan (de Santo Domingo), mas não vimos nenhuma mudança. E acho que ainda existe aquela coisa de aceitação, que acho de extrema ignorância. Mas agora temos mais uma oportunidade de mudar isso na cabeça dos brasileiros. Temos a certeza que uma medalha de ouro nas Olimpíadas vai mudar de vez a cara do futebol feminino no Brasil.

UOL Esporte: Mas você acha que o preconceito contra o futebol feminino ainda é muito forte no Brasil?
Kátia Cilene:
O preconceito existe, mas não tão forte quando no passado. Mas o que nós precisamos é de vocês (jornalistas), que já fazem um trabalho um pouco melhor com o futebol feminino. E precisamos de divulgação em outras áreas, porque nós sabemos que temos meninas muito bonitas, que podem ser aproveitadas para outras coisas, não apenas para o futebol.

UOL Esporte: Então você acha mesmo que ajudaria a modalidade que jogadoras sejam aproveitadas em campanhas publicitárias ou em ensaios fotográficos, a exemplo do que ocorre no vôlei e no tênis, por exemplo?
Kátia Cilene:
Exatamente. Isso tem que ser feito porque nós temos rostos muito bonitos, só que isso não está sendo bem explorado. Temos a Juliana, a Maravilha, a Andréia, eu, afinal, se não me achar bonita, ninguém vai achar (risos). Esses trabalhos serviriam para o futebol feminino se expandir muito mais.

UOL Esporte: Um pódio ou mesmo uma medalha de ouro bastaria para mudar a situação da modalidade no que se refere à estrutura e organização?
Kátia Cilene:
Acho que sim. Uma medalha seria responsável por 80% dessa mudança. E seria mais um ouro, porque já conseguimos uma medalha de expressão no Pan. Mas com um ouro nas Olimpíadas todos começariam a ver o futebol feminino de maneira diferente.

UOL Esporte: E quem, ou o quê, entraria com os outros 20% necessários para uma "revolução" por campeonatos, estrutura e calendário regular?
Kátia Cilene:
A mentalidade da gente (sic). Não adianta só pedirmos para vocês mudarem, acho que nós também temos que mudar nossa atitude, entendeu, saber que nós temos condições de ter o nosso espaço. Acontece que não sabemos como trabalhar esse espaço que temos. Falta muito dessa visão a muitas jogadoras.

UOL Esporte: As atletas brasileiras são subservientes a essas condições precárias?
Kátia Cilene:
Acho que deveriam brigar um pouco mais, sim. Estão aceitando muito. Criamos um espaço, e já está na hora de sabermos como usá-lo. Não é para agredir ninguém, mas apenas conversar e exigir o que é nosso, porque resultado nós já estamos mostrando.

UOL Esporte: E, nesse cenário, o que você considera o maior problema?
Kátia Cilene:
É o mesmo do masculino. A parte financeira é o que está pegando.

UOL Esporte: Mas você entende que a organização está necessariamente ligada ao dinheiro? A CBF e as federações não poderiam tentar parcerias com universidades e prefeituras, por exemplo?
Kátia Cilene:
Parceria é uma saída, mas também precisa de dinheiro para ter organização em longo prazo. Não adianta ter agora um campeonato que reúne vários times e centenas de jogadoras e no ano que vem não ter nada. Tem que aparecer, rápido, um projeto que dure três, quatro anos, até porque, caso contrário, vamos continuar conversando sobre a mesma coisa ano após ano.

UOL Esporte: Você perdeu as esperanças de jogar no Brasil?
Kátia Cilene:
Não perdi, pois sei que um dia vamos dar a volta por cima. Queria muito voltar a jogar pelo meu clube, o São Paulo, onde estive por quatro, cinco anos. Éramos tratadas como profissionais.

UOL Esporte: Você acha que, pela falta de divulgação do futebol feminino, a população acaba colocando a modalidade na esfera de "outros esportes", como vôlei, basquete, natação?
Kátia Cilene:
Exatamente. Hoje a divulgação do feminino não é feita dentro do futebol, mas sim junto com outros esportes. Quando o masculino ia para as Olimpíadas, parecia que era um esporte totalmente à parte. Nós não temos esse destaque, até por causa dos resultados também. Temos que dar mérito para o masculino, que já ganharam cinco Copas do Mundo. Eles conseguiram o espaço deles. E nós não queremos o espaço de ninguém.



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