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Olimpíada de Tóquio 2021: O brasileiro que treinou em terreno baldio, superou covid e chegou à final do arremesso de peso

Darlan Romani chega à final do arremesso de peso com quarta melhor marca - REUTERS
Darlan Romani chega à final do arremesso de peso com quarta melhor marca Imagem: REUTERS

04/08/2021 22h22

Superar os adversários talvez tenha sido a tarefa menos espinhosa de Darlan Romani até agora para chegar à final do arremesso de peso na Olimpíada de Tóquio.

Na terça-feira (03/08), o catarinense de 30 anos, que é o principal nome deste esporte no Brasil, conseguiu a marca de 21,31m já na segunda tentativa, superando os 21,20m necessários para se classificar, e se garantiu na decisão.

A prova será realizada às 23h05 (horário de Brasília) de quarta-feira (04/08), no Estádio Nacional.

Mas, para chegar até ali, ele precisou improvisar treinos em um terreno baldio, teve uma lesão provocada pelas condições ruins, passou por uma cirurgia e lutou contra a covid-19.

"Hoje é aniversário da minha esposa, e ela deve estar se acabando de chorar, ela sabe tudo que passamos esse ano", disse ele em entrevista ao SporTV após se classificar para a final com a quarta melhor marca. "É difícil falar."

Treinos em terreno baldio

Darlan vinha tendo um bom no ciclo olímpico até 2019, com treinos fortes e resultados animadores.

"Tivemos uma ótima temporada, melhorando a cada ano, a cada treino. A gente chegou ao nível que queria chegar. Estávamos muito fortes, superbem, cumprindo metas, batendo marcas, cumprindo objetivos. Aí veio a pandemia e atrapalhou muito", disse ele ao jornal O Globo.

Em um primeiro momento, assim como para o resto do mundo, tudo ficou em suspenso na vida de Darlan.

Para retomar a preparação, ele aproveitou um terreno baldio perto de sua casa, em Bragança Paulista, no interior de São Paulo, com a ajuda de um pedreiro, que fez um platô de cimento sobre o chão de terra e grama para ele fazer os arremessos.

"Eu apoio e respeito a quarentena, por isso mesmo estamos aqui arrumando um cantinho para eu seguir os treinos", disse ele em uma publicação no Instagram. "Saúde em primeiro lugar sempre, vamos nos adaptar em casa como puder."

A pandemia também o impediu de continuar trabalhando com seu técnico neste ano, o cubano Justo Navarro, que precisou ir ao seu país em dezembro e não conseguiu voltar ao Brasil por causa da quarentena na ilha.

"A situação é difícil porque o olho do treinador faz toda a diferença", disse ele ao site da Confederação Brasileira de Atletismo.

Lesão e covid

As condições ruins de treino cobraram um preço alto de Darlan, que desenvolveu uma hérnia de disco, passou por uma cirurgia e ficou parado por um mês e meio no início do ano para se recuperar e seis meses sem competir.

O atleta do clube Pinheiros teve ainda outro problema de saúde. Depois que a mãe e o irmão tiveram covid-19 ? ambos foram internados na UTI por causa da gravidade da doença ?, ele ficou doente em maio.

"Sou humano como qualquer outro, e aí eu fui ver minha família e acabei pegando covid também", contou ao programa Globo Esporte.

Ele teve de ficar parado, às vésperas dos Jogos, e isolado, para não contaminar a mulher e a filha.

Por causa da doença e da interrupção nos treinos, o atleta de 156kg e 1,88m perdeu 10kg em duas semanas.

Mas conseguiu se recuperar a tempo dos Jogos e chega agora à final embalado pelo bom desempenho na fase classificatória.

'Estou em busca de um sonho'

Darlan sabe que terá uma prova difícil. O americano Ryan Crouser passou para a decisão em primeiro lugar muito à frente dele, com um arremesso de 22,05m.

Crouser é o atual dono do recorde mundial, batido em junho, com a marca de 23,37m. O recorde anterior, do também americano Randy Barnes, de 23,12m, já durava 31 anos. Também é o atual campeão olímpico e foi prata no Mundial de 2019. Ele é o favorito na disputa.

Mas Darlan tem chance de subir ao pódio ? o neozelandês Tomas Walsh ficou em segundo na classificatória com 21,49m, e o bósnio Mesud Pezer avançou em terceiro com 21,33m, apenas 2cm à frente do brasileiro.

Esta é a segunda Olimpíada de Darlan, que ficou em quinto na Rio 2016. Na época, tornou-se o primeiro a chegar a uma final olímpica do arremesso de peso masculino em 80 anos ? o último havia sido Antônio Pereira Lira, em 1936, em Berlim, na Alemanha.

Ele é decacampeão brasileiro. Foi o quarto melhor no Mundial de 2019 e campeão do Pan-americano de 2019. Sua melhor marca até hoje é de 22,61m, atingida em 2019. É o atual recordista sul-americano e o terceiro no ranking mundial de 2021.

"Estou em busca de um sonho, como o Alison (dos Santos) fez", disse ele após a classificação, em referência ao compatriota Piu, que foi bronze nos 400 metros com barreiras e quebrou um jejum de medalhas de 33 anos do Brasil em provas de pista em Olimpíadas.

"Estou dando meus 200%. Quero muito essa medalha."

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