Retranca? Brasil forjou estilo eficiente que irritou craque espanhola

Após perder de quatro na semifinal olímpica, a espanhola Jenni Hermoso disse que a seleção brasileira "não joga futebol". Mas qual é esse esquema do time nacional forjado pelo técnico Arthur Elias que a irritou?

Brasil atacou mais...

Primeiro, é preciso lembrar que, no confronto com a Espanha, o Brasil teve seu jogo com maior número de finalizações (16) nas Olimpíadas e acabou com sete grandes chances. Já a Espanha concluiu 17 vezes, mas teve menos oportunidades claras, somente quatro.

Pode-se debater o placar, mas é indiscutível que o time nacional esteve sempre mais perto da vitória na semifinal.

...mas não é o que ataca mais

Considerado todo o torneio, porém, o Brasil é um time que produz menos ofensivamente do que os outros semifinalistas. Foram 45 finalizações em cinco jogos, sendo 20 na direção do gol.

A Espanha teve mais do que o dobro de conclusões, 108. Destas, 40 na meta. Já o adversário brasileiro na final, os EUA, conseguiram 93 arremates, 39 no gol. Já a Alemanha finalizou 65 vezes: foram 22 no gol.

Só que o Brasil é o mais eficiente entre os quatro em relação a bolas na direção da meta: 44%. Ou seja, em geral, aparece em condição mais claras para arrematar.

Marcação começa pelas atacantes

Isso se explica pelo estilo do time de Arthur Elias. O esquema pode variar, mas tem sido na maior parte do tempo com três zagueiras — até porque o Brasil perdeu duas laterais (Tamires e Antônia) por contusões.

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O que não muda é a pressão na marcação sobre o rival. O Brasil teve menos de posse de bola na maioria dos jogos, mas a rouba e vai na direção do gol de forma vertical. E são quatro jogadores de característica ofensiva, atacantes ou meias, que contribuem bastante para bloquear rivais.

É só observar quantos gols saíram da pressão na frente. Exemplos aconteceram contra Espanha e diante da França. Aconteceram, também, outros tentos marcados após roubadas no meio ou atrás com ligação rápida: dois contra a Espanha na semifinal e um diante do Japão.

Por causa disso, Arthur Elias usa bastante as substituições para manter a intensidade. Trocou as cinco possíveis em quatro jogos, e na outra partida, fez quatro mudanças. Sempre troca atacantes, duas ou três, para manter a marcação ofensiva forte.

Não por acaso seu grupo tem sete atacantes em 18 jogadoras convocadas, excluídas as suplentes do elenco. O técnico já deixou claro que quer todas em ritmo de competição. Gabi Portilho é que a mais concluiu a gol, sete, contra 21 de Shophia Smith, dos EUA. Mas é porque há muito mais rotação. Isso também causa desgastes e contusões.

"Desde o começo da competição a gente só pegou o pedreira. Foram seleções muito fortes, que estão acima de nós no ranking da Fifa, mas fomos passando. Agora estamos na final e vem os Estados Unidos. Mas ganhamos da França dentro de casa, ganhamos da Espanha que é atual campeã do mundo e mostramos nossa força, a gente é capaz."Gabi Portilho à CBF.

Ela comentou como Arthur Elias exige intensidade de todas. Tanto que, independentemente de escalar Marta ou não, todas terão de correr.

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"Quando você faz seis jogos em 16 dias, é preciso saber manusear o elenco para que elas cheguem em condição de fazer um jogo intenso, como foi a característica da seleção sempre. E aprender com as dificuldades que se passam na competição para buscar solução", disse Arthur Elias após a classificação para final.

Ressalte-se que a ideia de forte pressão na marcação para roubar a bola e sair em velocidade é bastante comum no futebol moderno, tanto em times defensivos quanto em equipes ofensivas. É até curioso que uma jogadora de elite como Hermoso diga que isso não é jogar futebol.

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