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Conheça os candidatos a ocuparem lugar de Daniel Dias no esporte brasileiro

Carol Santiago e suas cinco medalhas paralímpicas - Ale Cabral/CPB
Carol Santiago e suas cinco medalhas paralímpicas Imagem: Ale Cabral/CPB

Demétrio Vecchioli

Do UOL, em São Paulo

07/09/2021 04h00

Desde que o Brasil se tornou protagonista dos Jogos Paralímpicos e a competição passou a ser exibida na televisão no país, em Atenas-2004, o movimento paralímpico brasileiro depende de super-astros. Primeiro, Clodoaldo Silva, que ganhou seis ouros na Grécia antes de ser reclassificado e nunca mais subir ao pódio em uma prova individual. Depois, a dupla Daniel Dias e André Brasil, que somou 21 ouros entre 2008 e 2016.

Daqui em diante, pela primeira vez no século, o país não poderá contar com nenhum dos três. Com Clodoaldo e Daniel aposentados e André Brasil excluído do movimento paralímpico (os classificadores passaram a entender que sua deficiência não o torna apto a competir em Paralimpíadas), o Brasil se viu forçado a procurar por novos ídolos. E a busca em Tóquio foi frutífera.

Não que a delegação brasileira tenha tido qualquer atleta com uma enorme coleção de medalhas. Não foi o caso, ainda que Carol Santiago tenha faturado três ouros. Mas a variedade de brasileiros subindo ao lugar mais alto do pódio, em modalidades e classes também variadas, aponta para um futuro tão próspero quanto o passado e o presente. Não à toa o país chegou a 22 medalhas de ouro, recorde histórico.

A história de Clodoaldo, André e Daniel Dias, duramente prejudicado pelo rebaixamento de diversos atletas de uma classe mais alta para a dele, mostra que esses super-astros cumpriram papel preponderante para o movimento paralímpico brasileiro chegar onde chegou, pelas medalhas e pela visibilidade como ídolos, mas que uma simples canetada de um classificador (o especialista responsável por atestar em que classe funcional um atleta se encaixa) pode pôr tudo a perder.

Assim, o ótimo desempenho do Brasil nas Paralimpíadas de Tóquio está sendo festejado não só pelos muitos recordes igualados ou superados (de medalhas, de ouro, de classificação no quadro de medalhas, de modalidades com ouro, de modalidades no pódio...), mas também por apresentar atletas com potencial de, juntos e individualmente, ocuparem a lacuna deixada por André Brasil, forçadamente aposentado desde 2019, e Daniel Dias, que recém pendurou a touca.

Essa lista é encabeçada por uma mulher. Maria Carolina Santiago tem baixa visão e tentou carreira na natação convencional, sem grande sucesso. Chegou a abandonar o esporte e, na volta, passou a competir em provas de águas abertas por um clube gaúcho importante na natação olímpica, o Grêmio Náutico União (GNU). Convencida a migrar para o esporte paralímpico, faturou cinco medalhas logo em sua primeira Paralimpíada.

Nunca uma mulher brasileira havia ganhado tantas medalhas de ouro quanto as que ela ganhou em Tóquio (três) e, de cara, Carol, como é conhecida no meio esportivo, já é a segunda mulher brasileira com mais conquistas em Paralimpíadas, atrás apenas de Ádria Santos, que levou 12 anos para colecionar quatro ouros. Terezinha Guilhermina, também do atletismo, tem três ouros como Carol.

A natação ainda tem outros dois candidatos a astros, estreantes como a nadadora pernambucana, mas mais jovens. E os dois, curiosamente, têm o mesmo nome. Gabriel Araújo, de apenas 19 anos, disputou três provas na classe S2, para deficientes físicos, e ganhou dois ouros e uma prata. Gabriel Bandeira, de 21 anos, que tem deficiência intelectual, começou voando, com um ouro, e depois ganhou outras duas pratas, além de um bronze em revezamento.

O trio chama atenção por ter deficiências e perfis diferentes entre si, o que é positivo para o movimento paralímpico no Brasil, gerando referências para os três grupos que competem na natação: os deficientes visuais, os deficientes físicos e os deficientes intelectuais. E se a lista incluir também o Wendell Belarmino (23 anos, um ouro e um bronze individuais) e Tallison Glock (26 anos, mesma campanha), passam a ser abrangidos também cegos e deficientes físicos de classes altas.

No atletismo, o Brasil brilhou brilhou principalmente nas classes para deficientes visuais, especialmente com cegos. Yeltsin Jacques, 29 anos, está longe de ser um novato (foi campeão mundial em 2013), mas em Tóquio fez a melhor competição da vida. Cego, ele venceu os 1.500m e os 5.000m e vinha bem na maratona antes de abandonar a prova na metade. Nas provas de campo, Alessandro Rodrigo, de 37 anos, ganhou um ouro e uma prata.

Entre as mulheres, Silvânia Costa se sagrou bicampeã paralímpica no salto em distância e Thalita Simplicio mostrou que pode ser o grande nome do país nas provas de velocidade. Ela, que tem 24 anos, foi prata nos 200m e nos 400m, e chegou a terminar a final dos 100m em terceiro, sendo desclassificada por um erro bobo literalmente no erro final — o guia soltou a cordinha que o ligava a ela.

E ainda há, claro, Petrúcio Ferreira, que continua sendo o homem mais rápido do movimento paralímpico e que venceu os 100m na classe T47, para deficientes físicos. No caso dele, porém, ele já estava no panteão dos grandes nomes do esporte paralímpico no Brasil.

Em Tóquio, o Brasil também ganhou duas medalhas de ouro em esportes coletivos, ambos para cegos, o goalball e o futebol de 5. Nos dois casos, as conquistas devem ajudar a popularizar o esporte. No caso do goalball, a modalidade já é bastante praticada pelo país e a tendência é o sucesso do time de Josemarcio, o Parazinho, 25 anos, artilheiro do time, e de Leomon Moreno, 28 anos, ajuda a atrair ainda mais jovens para o único esporte do movimento paralímpico que não tem origem em um esporte olímpico.