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Como o Brasil virou potência no goalball até conquistar o ouro paralímpico

Ouro no goalball da seleção brasileira - Ale Cabral/CPB
Ouro no goalball da seleção brasileira Imagem: Ale Cabral/CPB

Denise Mirás

Colaboração para o UOL, de São Paulo

03/09/2021 12h00

A medalha de ouro inédita para a seleção brasileira masculina de goalball nas Paralimpíadas veio hoje com vitória por 7 a 2 sobre a China e consolidou o Brasil como uma potência da modalidade, depois da prata de Londres-2012 e do bronze no Rio-2016. Foram seis vitórias na campanha em Tóquio, contra Lituânia (duas vezes, uma na semifinal), Argélia, Japão e Turquia, com apenas uma derrota, para os Estados Unidos. No feminino, as brasileiras chegaram à disputa do bronze, mas o Japão ficou com a medalha, ao fechar 6 a 1.

No programa desde Montreal-1976 (foi esporte de demonstração em Munique-1972), o goalball é uma das modalidades paralímpicas que mais cresce no Brasil. O país conta com estrangeiros trazidos para algumas competições e o inverso - brasileiros chamados para defender times em campeonatos no Exterior. Os atletas são classificados em B1 (cegos totais ou com percepção de luz, mas sem reconhecer o formato de uma mão a qualquer distância), B2 (com percepção de vultos) e B3 (que conseguem definir imagens), mas todos jogam com vendas.

Hoje, a modalidade não é apenas lazer, porque abre portas para atletas se tornarem profissionais: são pelo menos 60 equipes no país, com 120 atletas apenas na elite da Série A do Campeonato Brasileiro.

Ana Carolina, da seleção de goalball - Koki Nagahama/Getty Images - Koki Nagahama/Getty Images
Ana Carolina, da seleção brasileira de goalball
Imagem: Koki Nagahama/Getty Images

Qualidade e quantidade

O salto de qualidade técnica das seleções de goalball em uma década, no Brasil, é responsável pelo crescimento da modalidade, de acordo com Helder Maciel, secretário-geral da Confederação Brasileira de Desportos de Deficientes Visuais (CBDV). Os campeonatos nacionais se tornaram vitrine e contam com atletas de outros países, principalmente sul-americanos mas também europeus, a exemplo do que já acontecia com o futebol de 5.

As 60 equipes espalhadas pelo Brasil participam de cinco Torneios Regionais (Sudeste 1, Sudeste 2, Nordeste, Centro-Norte e Sul), do Campeonato Nacional (que conta com primeira e segunda divisões) e ainda de Supercopa (com os três melhores times da Série A mais o campeão da Série B).

"O goalball sempre recebeu um carinho especial da comunidade de pessoas com deficiência visual pela identificação, por ser uma modalidade 100% paralímpica", afirma Maciel.

Não foi desenvolvido a partir de esportes mais conhecidos. É único, como paralímpico, criado em 1946 pelo austríaco Hanz Lorezen e o alemão Sepp Reindle. Os dois médicos tinham por objetivo inicial a reabilitação e a socialização de soldados da Segunda Guerra Mundial que haviam retornado cegos.

Perspectiva profissional

Mas, além da afetividade, o dirigente observa que o nível de competição no goalball funciona como motor para os clubes, que já têm tradição de trazer atletas de fora, principalmente sul-americanos, mas também europeus. E o inverso também ocorre.

"Um garoto que começa a praticar a modalidade vê um atleta como o Leomon Moreno, que aqui defende o Santos e também é contratado por um clube europeu para disputar competições lá fora. A menina vê a equipe feminina do Sesi com diversas jogadoras de seleção e vislumbra um futuro no goalball", destaca Helder, para quem hoje já é possível sonhar em ser atleta profissional de goalball e não apenas pensar na modalidade como lazer.

Destaque internacional

Com um jogo de muita flutuação ofensiva (quando os atletas não atacam sempre do mesmo ponto, mas vão alternando arremessos das pontas ou do centro da quadra) e aplicação tática defensiva, a ascensão internacional do goalball brasileiro foi meteórica, na definição de Helder Maciel.

A primeira grande conquista foi no Parapan de Guadalajara-2011, quando a seleção masculina foi campeã e a feminina, vice. A masculina chegou ao topo do ranking mundial com mais dois ouros em Parapans (Toronto-2015 e Lima-2019), dois títulos mundiais (Finlândia-2014 e Suécia-2018), prata e bronze nos Jogos Paralímpicos (Londres-2012 e do Rio-2016).

Jéssica, da seleção de goalball - Koki Nagahama/Getty Images - Koki Nagahama/Getty Images
Jessica, do goalball, que disputa o bronze de Tóquio-2020
Imagem: Koki Nagahama/Getty Images

A seleção feminina é terceira do mundo, atrás de de Turquia e China (a quem venceu em Tóquio-2020). Depois da prata no Parapan de Guadalajara-2011, tem os ouros Toronto-2015 e Lima-2019, mais um bronze do Mundial da Suécia-2018 (que valeu a vaga nos Jogos Paralímpicos).

No Brasil, as seleções se reúnem entre cinco e oito vezes ao ano para treinamentos com duração em torno de 15 dias no Centro de Treinamento Paralímpico, em São Paulo. Por causa da pandemia, depois do treino conjunto em março de 2019, os atletas foram acompanhados remotamente, por reuniões virtuais. Os treinos conjuntos para Tóquio-2020, com sete fases, foram reiniciados apenas em fevereiro deste ano e não foram realizados jogos internacionais.