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Brasil bate recorde de medalhas na natação após baque de reclassificações

Carol Santiago com sua segunda medalha de ouro das Paralimpíadas de Tóquio - Miriam Jeske/ CPB
Carol Santiago com sua segunda medalha de ouro das Paralimpíadas de Tóquio Imagem: Miriam Jeske/ CPB

Demétrio Vecchioli

Do UOL, em São Paulo

01/09/2021 08h41

A história mostrava que, sem Daniel Dias e André Brasil, a natação paralímpica brasileira podia até acumular medalhas de prata e bronze, mas não botava medo em ninguém. É verdade que o Brasil conquistou 21 ouros nas últimas três edições dos Jogos Paralímpicos na natação, mas todos através de desempenhos individuais dos dois astros. Assim, quando um processo de reclassificação em 2019 tirou dos dois o favoritismo em suas respectivas classes, o baque foi enorme.

No esporte paralímpico, os atletas passam por reclassificações de tempos em tempos. São avaliados por classificadores, que julgam em qual classe funcional aquele atleta se encaixa. Só na natação paralímpica são 10 classes para atletas com deficiência física. Daniel Dias sempre foi da S5, intermediária. André Brasil, da S10, para os nadadores com menor comprometimento físico motor.

Em 2019, ao ser submetido a um processo de reclassificação em São Paulo, André Brasil foi desclassificado. Em outras palavras, ele foi declarado inelegível para o movimento paralímpico, porque, no entender do classificador, a deficiência que ele tem na perna não o torna apta para competir entre paralímpicos, exceto nas provas de peito, onde ele nunca teve sucesso. Na prática, ele foi expulso do movimento paralímpico.

Paralelamente, a Itália e a Ucrânia, principalmente, conseguiram que atletas seus fossem rebaixados para classes mais baixas. Entre eles o italiano Francesco Bocciardo, que já era campeão olímpico na S6 e passou a competir contra atletas que tinham maior comprometimento físico motor. De uma hora para outra, atletas mais rápidos que Daniel Dias foram colocados para competir contra ele, que rapidamente teve seus recordes mundiais batidos.

Sem poder contar com medalhas de ouro dos dois únicos atletas que conseguiram medalhas de ouro na natação nos últimos três ciclos paralímpicos, o Brasil foi atrás de renovação. Já em 2019, Carol Santiago, atleta com algum histórico na natação convencional e que tem deficiência visual e estreou com dois ouros e uma prata individuais no Mundial. Em 2020 foi a vez da migração de Gabriel Bandeira, que era atleta do Minas Tênis Clube na natação convencional, e descobriu ter deficiência intelectual.

Se historicamente a natação brasileira dependeu de atletas dominantes em suas classes, que garantiam muitas medalhas, em Tóquio a aposta foi em um aumento do leque de possibilidades. E deu certo. Faltando ainda dois dias de finais, o Brasil já tem quatro campeões paralímpicos, o dobro das últimas três edições somadas. E os quatro — Carol, Gabriel Bandeira, Gabriel Araújo e Wendell Belarmino — são estreantes. Além disso, o Brasil já tem nove atletas diferentes indo ao pódio em provas individuais, mesmo número de 2016. Em 2012 haviam sido só cinco.

O sucesso aparece no quadro de medalhas, também. Com o ouro de Carol Santiago, o Brasil chegou à sua 20ª medalha na natação em Tóquio, uma a mais do que as 19 da Rio-2016 e as 19 de Pequim-2008. Em ouros ainda há uma diferença para tirar. São sete douradas por enquanto, contra nove em Londres-2012 e oito em Pequim-2008. Mas na Rio-2016 haviam sido só quatro.