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Bicampeã de esgrima com mãos e pés amputados, Bebe Vio é fenômeno nas redes

Beatrice Vio, bicampeã paralímpica de esgrima em cadeira de rodas  - Tasos Katopodis/Getty Images
Beatrice Vio, bicampeã paralímpica de esgrima em cadeira de rodas Imagem: Tasos Katopodis/Getty Images

Denise Mirás

Colaboração para o UOL, de São Paulo

30/08/2021 04h00

Se parece impossível, ainda assim se pode fazer. E duas vezes. É o que diz Maria Beatrice Vio. E prova, porque acaba de chegar a seu segundo ouro na esgrima das Paralimpíadas — sem que necessite obrigatoriamente de mãos e pés para competir. Utilizando-se de próteses especialmente desenhadas e com mobilidade suficiente para disputas da modalidade em cadeira de rodas, "Bebe" Vio se tornou um fenômeno no esporte e também nas redes sociais (tem mais de um 1,1 milhão de seguidores no Instagram, outros 620 mil no Facebook e mais de 63 mil no Twitter).

Aos 24 anos, a floretista defende que não exista mais divisão de eventos olímpicos e paralímpicos, para que atletas possam competir em um mesmo grande evento mundial. Enquanto isso, trabalha visando o crescimento do movimento paralímpico na Itália, para que em oito anos os níveis se igualem. "Isso exigirá mudança de mentalidade e muita energia, principalmente da parte das crianças, para um impulso cultural", afirma em seu site oficial.

Beatrice Vio, da esgrima paralímpica - Tasos Katopodis/Getty Images - Tasos Katopodis/Getty Images
Contra o impossível: Bebe Vio soma segundo ouro em Paralimpíadas
Imagem: Tasos Katopodis/Getty Images

Multitarefas

Desenhista gráfica e comunicadora, Bebe tem patrocínios de gigantes como L'Oréal, Toyota, Visa, Tommy Hilfiger, Dior. É capa das mais variadas revistas, como Vanity Fair, Wired e Rolling Stones, posta fotos com celebridades como o presidente Barak Obama ou se divertindo de biquíni, com amigos e familiares, sem esconder cicatrizes no corpo ou no rosto, em vídeos de maquiagem. Participa de eventos de gala, programas de rádio e tevê, já escreveu livro. Tem um projeto em parceria com a art4sport, para inclusão de crianças com deficiências nas atividades físicas. E faz campanha por vacinas.

Porta-bandeira na abertura de Tóquio-2020, Bebe Vio publicou, sobre as Paralimpíadas: "É o momento de provar que você pode mudar o mundo. Pode mudar a percepção do que é diferente e do que é normal. Para inspirar as novas gerações".

Beatrice Vio, ouro no florete da esgrima em cadeira de rodas, em Tóquio-2020 - Tasos Katopodis/Getty Images - Tasos Katopodis/Getty Images
A canhota Beatrice Vio vibra com segundo ouro no florete, em Tóquio-2020
Imagem: Tasos Katopodis/Getty Images

A italiana é canhota —o que dificulta para adversários, em sua maioria destro — e sai de Tóquio como bicampeã paralímpica de florete na classe B (atletas com menor mobilidade no tronco e menos equilíbrio), com ouro na final por 15-9, sobre a chinesa Zhou Jingling (a conquista do ouro no Rio-2016 foi ainda com 17 anos). E também com a prata que ajudou a Itália a conquistar, na disputa por equipes, "transformando" o bronze no Rio-2016, como destacou.

"Vá atrás"

Bebe Vio se tornou celebridade e inspiração para jovens com deficiência ou não. Já jogava esgrima quando, aos 11 anos, em 2008, teve meningite. Com extremidades necrosadas, teve mãos e pés amputados, mas foi incentivada, principalmente pelo pai, a continuar no esporte e a frase que ouviu se tornou o nome do programa que passou a apresentar, já campeã paralímpica, na RAI, o canal estatal de tevê de seu país: "La Vita è una Figata!" (ou "A Vida é um Barato!", numa tradução aproximada).

Beatrice Vio, esgrimista paralímpica - Stephane Cardinale - Corbis/Corbis via Getty Images - Stephane Cardinale - Corbis/Corbis via Getty Images
Esportista e celebridade, Beatrice Vio trabalha pelo movimento paralímpico na Itália
Imagem: Stephane Cardinale - Corbis/Corbis via Getty Images

A esportista fez sucesso como entrevistadora de celebridades, que contam como conseguiram realizar sonhos. Ela mesma ainda conta histórias divertidas de como faz, por exemplo, para usar salto alto —uma de suas paixões— com suas próteses. Chegou a dizer que, como as amputações, a esgrima ficou mais emocionante, porque "com as pernas, eu podia correr para trás na pista e agora que não posso fugir preciso ter mais garra".

Durante coletiva em Tóquio, Bebe Vio falou: "Tanta gente me disse que era impossível jogar esgrima sem as mãos... Foi importante mostrar que não importa se você não tem mãos, ou pernas, ou o que seja. Se você tem um sonho, vá atrás".