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Paraciclista se alistou para derrubar Talibã e perdeu perna no Afeganistão

Freddy de Los Santos, paraciclista dos EUA, é veterano de guerra - Divulgação/Northwestern University
Freddy de Los Santos, paraciclista dos EUA, é veterano de guerra Imagem: Divulgação/Northwestern University

Demétrio Vecchioli

Do UOL, em São Paulo

27/08/2021 14h00

As marcas da Guerra do Afeganistão, que parece perdida para os Estados Unidos, estarão para sempre no corpo e seguem também na cabeça de Alfredo de Los Santos, o 'Freddy', um dos 21 veteranos que compõem a equipe dos Estados Unidos nos Jogos Paralímpicos de Tóquio.

"Quando meus vizinhos fazem churrascos, o cheiro é um gatilho. Se você já cheirou quando alguém morreu, alguém se queimou, esse cheiro nunca vai embora", contou o paraciclista, em recente entrevista para a NBC.

Nascido na República Dominicana, Freddy migrou para os Estados Unidos com a família quando era adolescente. Formou-se em design gráfico pelo prestigiado City College of New York e trabalhava nessa área quando um atentado terrorista derrubou as duas torres gêmeas de Nova York.

Inspirado por um sentimento patriótico pelos Estados Unidos, ele se alistou no Exército e foi convocado para lutar no Afeganistão contra o regime Talibã. E foi na guerra que ele se tornou um deficiente físico, depois que, em outubro de 2009, o veículo que ele dirigia foi atingida por uma granada disparada por foguete. Freddy teve a perna direita amputada acima do joelho e sofreu uma lesão cerebral traumática.

"Quando você está lá, você está bem, nada te incomoda. Você vê seus amigos morrerem, e no dia seguinte você tem que sair. É a sua zona de conforto, é para isso que você foi treinado. Mas é quando você volta para casa que você começa a ter todos aqueles sintomas... E as pessoas percebem ver que você mudou", contou ele à NBC.

Sem conseguir apagar da memória tudo o que viveu e deixar para trás os fantasmas do passado, o veterano tentou o suicídio. Misturou álcool com remédio e bebeu até desmaiar. Escapou da morte por sorte, e procurou tratamento. Foi quando ele conheceu os esportes adaptados. Tentou vários, até se apaixonar pelo paraciclismo.

"Todo mundo representa o país de formas diferentes. Alguns o fazem internamente, outros internacionalmente, como soldados, e há quem goste de fazer isso em outras áreas, mais amigáveis, que é o caso do esporte. E eu adoro isso. Quero continuar servindo, e agora representou meu país no paraciclismo", explicou.

Além de pedalar, Freddy também se reencontrou com sua velha paixão pela arte. Passou a pintar e a fotografar em branco e preto, realizando exposições pelo estado de Nova York. "Minha pintura me dá o lugar de expressão, a perspectiva de deixar os outros verem as coisas que estão dentro de mim. Isso me mantém apegado ao passado, mas não preciso voltar lá. Me permite tirar a dor e me ajuda a mudar para um futuro melhor", contou em entrevista ao site do comitê norte-americano.

"Quando estou pedalando, estou me sentindo um homem viril, que ainda sou o mesmo", continuou ele. "Eu ainda sou poderoso. Mas sou amputado e às vezes, quando acordo de manhã, me olho e é difícil não dizer que me odeio. Estou sempre com dor. Minhas costas, braços, algum tipo de dor. Mas quando eu subo na bicicleta, essa dor desaparece emocionalmente, fisicamente."