Topo

OPINIÃO

Paralimpíadas: Valorização de pessoas com deficiência tem de ganhar o mundo

Um avião com apenas uma asa voa na cerimônia de abertura dos Jogos Paralímpicos de Tóquio - Buda Mendes/Getty Images
Um avião com apenas uma asa voa na cerimônia de abertura dos Jogos Paralímpicos de Tóquio Imagem: Buda Mendes/Getty Images

Rui Dantas

Colaboração para o UOL, em São Paulo

25/08/2021 13h00

Nos últimos tempos, entre idas e vindas e apesar de alguns retrocessos, assistimos com felicidade aos avanços sociais que nos trouxeram o empoderamento feminino e o combate ao preconceito racial e à homofobia. É claro que muito ainda há que ser feito e tudo só será alcançado se a luta persistir. Era um abuso sem fim ver a quantidade de piadas misóginas ou homofóbicas em programas "feitos para a família", como "Zorra Total", que vinha embalado com bordões, como "Isso é uma bichona". Tudo isso num período não muito distante.

Por isso, mais que um espetáculo visual, foi lindo ver na Globo/SporTV nesta terça (24) a alegoria do avião sem uma das asas, que, ao final, também podia voar na Cerminônia de Abertura dos Jogos Paralímpicos de Tóquio. O mais tocante, para mim, que tenho um filho e um sobrinho que foram diagnosticados dentro do espectro autista, foi o vídeo exibido no SporTV, explicando os porquês de não usar a palavra deficiente.

Acho que tenho "lugar de fala". Para quem são sabe, não se ligou ou não está nem aí, machuca (e muito) uma pessoa com deficiência visual ouvir piadas e frases como: "Claro que o Stevie Wonder não viu; ele é cego". E esse vídeo contava tudo isso de maneira bem feita, leve, com a participação dos atletas paralímpicos. Espero que se torne uma campanha e seja exibido mais vezes, pios é didático.

E, aos que acreditam que esse tipo de crítica se circunscreve à direita, lembrem-se de que a irmã do compositor Chico Buarque e ex-ministra na gestão Dilma Rousseff, Anna de Holanda, foi rotulada de "autista"... pela esquerda.

Todos podem ter um filho, um irmão ou, por doença ou acidente, se tornar uma pessoa com deficiência. Foi o caso do medalhista olímpico Lars Grael. Todos estamos sujeitos às intempéries da vida. Valorizá-la, ter respeito e seguir nossa existência com diplomacia vale mais a pena do que fazer chacota com as questões alheias ou optar por dizer "não sabia". Como dizia o ditado: "Quem cospe para o cima..."

A edição das Paralimpíadas de Tóquio 2020 tem tudo para se tornar um marco histórico. Nunca houve tanto interesse nem tantas horas de transmissão como desta vez. O SporTV vai exibir mais de 100 horas de sua programação com a transmissão dos Jogos. O Brasil é uma potência paralímpica, e isso é motivo de orgulho.

Será tão mais humano evitarmos comentários pequenos, como sabemos que a mesquinhez de alguns humanos é capaz de produzir, ao comparar Paralimpíadas com Olimpíadas.

Agora, falta o movimento de valorização que, como disse, não está completo nos casos citados acima, e precisa ser ainda pavimentado com relação à causa das pessoas com deficiência. Todos teremos que ajudá-los, pois estas pessoas precisam tanto quanto ou até mais, por suas questões, do que os outros grupos sub-representados.