SuperGT: como um brasileiro se tornou campeão da Stock Car do Japão
Foi nas curvas do autódromo de Zandvoort, na Holanda, que um jovem piloto paulistano conquistou a atenção dos japoneses no fim de 2003. Era a corrida Marlboro Masters da Fórmula 3 e, enquanto o pódio era ocupado por Christian Klien, Nelsinho Piquet e Ryan Briscoe, o 12º do ranking foi abordado e convidado para fazer um teste no autódromo de Suzuka, a pista japonesa lembrada pelas conquistas de Nelson Piquet e Ayrton Senna.
"Aceitei e fiz o teste, sem imaginar que três dias depois já receberia uma proposta e um contrato para assinar e de repente me mudar para o Japão", lembra João Paulo de Oliveira, 40, conhecido como JP. "Já são 17 temporadas aqui", assinala ele, durante um café com a reportagem do UOL Esporte em uma área arborizada de Yotsuya, no distrito de Shinjuku, no centro de Tóquio.
JP foi campeão da Fórmula 3 japonesa de 2005 e da F-Nippon (a atual Super Fórmula) de 2010. Ao todo, já disputou mais de 300 corridas e subiu 117 vezes ao pódio. Atual campeão do SuperGT 300, de 2020, é um dos poucos pilotos estrangeiros que fizeram carreira e se consolidaram no Japão.
Japoneses, diz JP, são apaixonados por automobilismo, principalmente a F-1 e o Super GT. "O automobilismo é muito forte no Japão. Muitos pilotos sonham em um dia correr em pistas como as de Suzuka e de Fuji", conta.
Se a F-1 dispensa apresentações, o GT merece um parênteses: trata-se da principal categoria de automobilismo de carros grã-turismo deste lado do mundo, subdividida em duas classes, o GT500 (dominada por três titãs japonesas, Nissan, Honda e Toyota) e o GT300 (que inclui marcas internacionais como Mercedes, McLaren e Ferrari). "Super GT seria como a Stock Car no Brasil, com a diferença de que conta com envolvimento direto das montadoras japonesas", diz o piloto, que corre pela Nissan.
Outra diferença é o tipo de carro e, portanto, o estilo de pilotagem. "F-1 é o auge de carreira do piloto de carro monoposto, mais desenvolvido e com materiais mais específicos. GT é grã-turismo, com carro mais pesado e menos efeito aerodinâmico. São estilos diferentes: no GT a pilotagem é mais sensível e na F-1 mais agressiva, porque o carro permite", pondera.
Na temporada 2021, a corrida de Suzuka foi adiada de maio para agosto, devido à alta de casos de covid-19 no Japão. O calendário ainda conta com competições em Sugo (setembro), Autopolis (outubro), Motegi e Fuji (novembro). Risco de cancelamento há, "mas é improvável", considera JP, que imagina que as corridas vão ocorrer, com ou sem público.
À espera das provas, JP pedala pelo centro de Tóquio, pelos arredores da Vila Olímpica e nas montanhas perto do Monte Fuji. Faz parte de seu treinamento físico para as pistas de automobilismo, para melhorar fatores como visão periférica e reflexos.
Pedalando, também lembra de duas questões que tomam conta da capital: pandemia e Olimpíadas. Por um lado, o piloto está assistindo animado a quase todas as disputas da Tóquio-2020. Por outro, com a realização dos Jogos Olímpicos, uma bolha do dito "novo normal" na pandemia, a impressão é a de que tudo estaria sob controle e os toquiotas estariam se sentindo mais livres para retomar o ritmo da vida pré-pandemia, movimentando-se mais pela cidade. "Agora é esperar as próximas semanas para ver as consequências."
Se tudo correr bem, a última corrida da temporada acontecerá em novembro. Depois, JP gostaria de visitar a família no Brasil. De férias, porém: depois de 17 anos fora, sua ideia de lar é um pequeno arquipélago no Oceano Pacífico, onde pretende continuar acelerando. "Não é hora de parar."
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