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Pepê chora, reclama falta de apoio e diz que investiu R$ 100 mil do bolso

Pepê Gonçalves em ação nas semifinais da canoagem slalom K1 nas Olimpíadas de Tóquio - Stoyan Nenov/Reuters
Pepê Gonçalves em ação nas semifinais da canoagem slalom K1 nas Olimpíadas de Tóquio Imagem: Stoyan Nenov/Reuters

Demétrio Vecchioli

Do UOL, em Tóquio

30/07/2021 08h00

Depois de dizer aos repórteres de televisão que estava saindo de Tóquio orgulhoso por "colocar a canoagem em um lugar onde ninguém nunca imaginou", Pepê desabou. Eliminado na semifinal do K1 como penúltimo colocado da etapa na canoagem slalom dos Jogos Olímpicos de Tóquio, nesta sexta (30), ele abraçou o assessor de imprensa da Confederação Brasileira de Canoagem (CBCa) e caiu no choro. Ficou alguns minutos ali, primeiro no ombro do amigo, depois ajoelhado chorando, até recuperar as energias e atender o UOL.

Inicialmente, negou que estivesse chateado. "Chateado é uma palavra muito forte. Eu dei o meu máximo, deixei tudo na água, o que eu tinha e o que eu não tinha." Depois, disse que estava "desapontado". "O choro foi de saber que eu poderia estar com essa medalha no peito hoje, saber que eu estou pronto, saber que um detalhe me tirou da final. E o choro talvez seja mesmo por estar desapontado, por não ter entrado na final. Mas por outro lado estou orgulhoso, porque briguei de igual para igual num esporte que é feito por europeus, para europeus"

E aí veio o desabafo. Primeiro, de fazer parte de uma modalidade que praticamente só acontece na Europa. "Eles toda vez tiram a gente da jogada, com campeonatos só na Europa, equipamentos só na Europa. A gente tem de fazer um esforço que eles não têm de fazer para participar deste esporte, destes campeonatos. A cada prova na Europa, os caras acabam e vão jantar com a mãe, com a esposa e com as filhas. A gente está no esporte de gaiato e fazendo história em um esporte que é feito por europeus e para europeus", reclamou.

Mas o incômodo não é só com a estrutura internacional da canoagem. Como já havia feito Ana Sátila ontem (29), de forma mais discreta, depois de ficar sem medalha na final feminina do C1, Pepê reclamou de ter ficado quase todo o ciclo olímpico sem treinador. Ele fez duras críticas à CBCa, ressaltando, porém, que no último ano as coisas melhoraram.

"Fizeram escolhas depois da Rio-2016 que impactaram aqui. A gente ficou quatro anos sem treinador, a gente ficou quatro anos tendo que planejar da nossa cabeça algumas coisas, coisa que a gente não tem que fazer. Então o tempo que a gente tinha de gastar a energia só para entrar na água e treinar, a gente teve de ser o nosso treinador, o nosso preparador físico, a nossa logística", reclamou.

"Talvez os erros que aconteceram hoje foram de um ciclo olímpico começando falho, já demitindo o Ettore Valti, que é o melhor treinador do mundo. Demitiram ele, demitiram o meu treinador. E vieram com uma ideia totalmente diferente, que impactou totalmente o nosso ciclo olímpico", continuou. Segundo Pepê, ele teve que investir mais de R$ 100 mil do próprio bolso só comprando equipamentos, isso sem contar gastos com viagens, competições, treinamentos...

Ele fez questão de frisar, porém, que as coisas melhoraram no último ano. Em janeiro morreu João Tomasini, até então único presidente que a CBCa já tivera. Em março, a confederação elegeu como mandatário o gaúcho Jonatan Maia, então vice-presidente da gestão Tomasini.

"O Jonathan é muito aberto, a gente já expôs isso a ele, o COB também já está sabendo, e acredito que acabando aqui os Jogos de Tóquio, a gente já estará com a cabeça em Paris, e eles vão aprender com esses erros cometidos lá atrás."