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Portela foi roubada? Juiz brasileiro diz que imagens da TV às vezes enganam

Roberto Salim

Colaboração para o UOL, em São Paulo

28/07/2021 17h22

A disputa dos Jogos Olímpicos tem provocado algumas noites mal dormidas nos fãs das várias modalidades. E não é só porque o fuso horário japonês atrapalha o sono. Mas também porque algumas decisões polêmicas têm atingido atletas brasileiros. E aí é inevitável: as discussões invadem a madrugada. Foi o que aconteceu com o professor Jeferson Vieira, árbitro, desde 2009, do Circuito Mundial da Federação Internacional de Judô, depois que a judoca Maria Portela perdeu para a russa Maidina Taimazova, no golden score da luta válida pela categoria até 70 kg nas oitavas de final dos Jogos de Tóquio. Com a derrota, a brasileira foi eliminada da competição.

"Essa história está dando um blá-blá-blá no país inteiro", admitiu Jeferson, que está se preparando para viajar a Tóquio, onde vai trabalhar nas Paralimpíadas. "Depois da luta da Maria Portela não deu mesmo para dormir, porque o meu telefone não parou, com gente querendo saber se a decisão da arbitragem tinha sido correta."

E foi ou não foi? Com a palavra o ex-judoca, professor de educação física, que trabalha com arbitragem há exatos 35 anos e é o atual vice-presidente da Federação de Judô do Estado do Rio de Janeiro. "Pelo ângulo mostrado pela transmissão de TV aconteceu o wazari, e a Maria Portela deveria ter sido declarada vencedora naquele instante, pois estávamos na disputa do golden score. Eu acho então que ela foi a vencedora da luta. Eu como árbitro avaliaria o wazari."

Mas ele vai fazer aqui uma ressalva. "O ângulo mostrado pela TV me passou essa nítida impressão: pois nós, como árbitros, usamos sempre a imagem do back-number (que é onde vai o nome do atleta) para definir se os ombros tocaram mesmo no tatame. E foi o que eu achei. O que eu vi."

"Porém", prossegue Jeferson, "a imagem mostrada pela TV não é a mesma gerada para o Comitê Organizador. São no mínimo outras dez câmeras que mostram vários ângulos e então são os supervisores de arbitragem que acionam o árbitro de tatame por um ponto eletrônico, falando a ele se houve o golpe ou não".

Parece complicado? O professor Jeferson segue em frente. "Não há mais a figura dos árbitros de mesa. Então os supervisores têm o contato com a coordenação de arbitragem e técnica que, quando acha necessário, aciona um técnico que põe à disposição um equipamento chamado o triplay. O triplay contêm todas essas câmeras, e eles repetem as imagens captadas por vários ângulos para que a decisão seja analisada e tomada pelos supervisores. Feita a decisão, ela é repassada para o árbitro de tatame pelo rádio. Se a questão merece a avaliação ou não."

É o VAR do judô. "O árbitro de tatame solicitou a revisão do vídeo replay e, após algum tempo, não foi considerada a avaliação da projeção da atleta brasileira. Na minha opinião foi um erro, porque estavam no golden score, e a luta terminaria ali. E pelo ângulo da transmissão por TV pairava no mínimo uma dúvida. O VAR foi acionado, mas não deu a avaliação da projeção da atleta brasileira. Só se eles viram algo muito claro, mas que não passou na imagem da TV."

"A disputa seguiu e, aos 10 minutos aproximadamente, a russa estava com mais iniciativa, tinha três tentativas contra Maria Portela, e o árbitro de tatame optou por aplicar o terceiro shidô, por uma punição por falta de combatividade."

Como conclui o professor Jeferson: as imagens do judô às vezes enganam.