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Quem são as concorrentes de Bárbara, bancada como titular na seleção?

Bárbara durante partida da seleção brasileira contra a Zâmbia pelas Olimpíadas - Sam Robles/CBF
Bárbara durante partida da seleção brasileira contra a Zâmbia pelas Olimpíadas Imagem: Sam Robles/CBF

Gabriel Carneiro

Do UOL, em São Paulo

28/07/2021 04h00

Pia Sundhage fez seis mudanças e promoveu quatro estreias na seleção brasileira de futebol feminino que encerrou a fase de grupos das Olimpíadas de Tóquio com vitória por 1 a 0 sobre a Zâmbia, ontem (27), em Saitama. Ao lado da zagueira Rafaelle, a única jogadora que atuou o tempo inteiro nos três jogos antes do mata-mata foi a experiente goleira Bárbara.

Em sua quarta Olimpíada, Bárbara chegou a Tóquio com a titularidade contestada por muitos que acompanham o futebol feminino. O UOL Esporte até mostrou que as críticas mexeram com a goleira, que se sentiu desafiada. Em campo, ela foi destaque na estreia contra a China com três defesas difíceis, mas falhou em dois gols da Holanda no jogo seguinte e reabriu espaço para questionamentos sobre seu status. O caso fica ainda mais delicado porque as concorrentes Letícia e Aline Reis estão em alta.

A reserva imediata de Bárbara é Letícia, de 26 anos. Enquanto a titular de 33 joga no Avaí Kindermann, a suplente está hoje no Benfica-POR. Apelidada de Lelê, ela chegou ao futebol europeu em janeiro deste ano já como titular depois de quatro temporadas no Corinthians.

Letícia - Sam Robles/CBF - Sam Robles/CBF
Letícia foi suplente de Bárbara em dois jogos das Olimpíadas; Aline Reis no outro
Imagem: Sam Robles/CBF

Letícia tem 1,74m, três centímetros a mais do que Bárbara. Especialistas e profissionais do futebol feminino não tratam a altura como foco de atenções, e sim a evolução da preparação técnica e física das goleiras. Inclusive, o velho debate sobre reduzir o tamanho das traves de 2,44m em relação ao futebol masculino já é considerado algo fora de questão.

Hoje, a busca é por colocar as meninas para treinar como goleiras cada vez mais cedo, o que ainda não é uma realidade na modalidade e atrapalha a formação, como indica Edson Junior, preparador de goleiras do Corinthians: "O que falta é tempo de vivência de jogo e isso elas vão ganhando com o passar do tempo. No masculino os meninos já jogam como goleiros aos dez, 11 anos de idade disputando competições. No feminino agora estamos começando a ter torneios sub-16, sub-15. Isso vem do processo de desenvolvimento da modalidade e não só das goleiras. Talvez a maior busca nesse momento seja a iniciação, o processo de formação."

A goleira do Benfica é mais habituada ao jogo com os pés que também é a realidade do futebol feminino e elogiada por suas saídas de bola de qualidade na pressão, que facilitam a criação de jogadas pelo chão. É no que mais a difere de Bárbara, formada numa escola que não prioriza este fundamento.

"A Lelê entende bem o jogo e não tem medo de jogar, sempre com tranquilidade incrível, vai bem com os pés, sai do gol. É o futuro da posição na seleção brasileira, ela tem muito a entregar e potencial para ser uma das melhores do mundo", elogia Edson Junior.

A terceira goleira da seleção brasileira em Tóquio é Aline Reis, que também atua na Europa pelo UDG Tenerife, da Espanha.

Aline Reis - Sam Robles/CBF - Sam Robles/CBF
Aline Reis já atuou na Ferroviária e está no futebol espanhol desde a temporada 2018/2019
Imagem: Sam Robles/CBF

Ela tem 32 anos e está na segunda Olimpíada. Com 1,62m, ela é mais baixa do que Bárbara, mas compensa na impulsão e principalmente na leitura de jogo, que permite que a altura não seja um grande problema graças ao posicionamento.

Bárbara, a titular, é considerada uma jogada de mais explosão e potência física que as concorrentes. Ela tem mais facilidade para atacar a bola em lances aéreos, mas a saída pelo chão é vista como um problema, assim como a agilidade em lances mais dinâmicos.

A técnica Pia Sundhage foi questionada sobre a titularidade de Bárbara na última semana e não atribuiu a aspectos técnicos sua decisão: "Eu gostaria de enfatizar como é importante para nós estarmos juntas, ser um time. Não é só sobre Bárbara, é também sobre atacar e defender juntas. Se você olhar a estreia da Bárbara ela nos salvou várias vezes. Contra a Holanda teve bons momentos também. Você precisa de experiência no gol e eu não sou uma grande fã de mudar de goleira durante um torneio."

Pia comandou a seleção brasileira em 21 jogos desde 2019. Ela convocou dez goleiras e Bárbara lidera entre as que mais jogaram, com 16 participações. Aline Reis jogou cinco vezes e Letícia apenas duas, entre partidas como titular ou saindo do banco de reservas.

Goleiras - Sam Robles/CBF - Sam Robles/CBF
Letícia, Aline Reis e Bárbara, as goleiras da seleção em Tóquio, junto com o preparador Thiago Mehl
Imagem: Sam Robles/CBF

"O nível das goleiras está evoluindo nos últimos anos por causa da profissionalização do futebol feminino. Ainda não está no patamar que elas podem alcançar, existe uma margem de crescimento, mas o caminho para isso está muito bom. Profissionais com qualidade vêm trabalhar no futebol feminino, praticamente todos os times das séries A1 e A2 do Brasileiro têm bons preparadores de goleiras e daqui três ou quatro anos veremos uma geração de goleiras com qualidade técnica excelente", analisa Edson Junior.

É a quarta Olimpíada seguida de Pia. Em 2008 e 2012, a estrela Hope Solo foi titular em todos os seis jogos que renderam as duas medalhas de ouro seguidas dos Estados Unidos. Em 2016, no Rio de Janeiro, a Suécia medalhista de prata comandada pela treinadora teve a goleira Hedvig Lindahl mantida também nas seis partidas, mesmo com a goleada por 5 a 1 sofrida para o Brasil ainda na primeira fase.

Com a confiança de Pia, Lindahl defendeu dois pênaltis do Brasil nas semifinais, no Maracanã, e classificou a Suécia naquela oportunidade.