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Nunca o telespectador esteve tão perto dos atletas em Jogos Olímpicos

 Tecnologia de ponta e profissionais especializados para cada esporte, em Tóquio - Patrick Smith/Getty Images
Tecnologia de ponta e profissionais especializados para cada esporte, em Tóquio Imagem: Patrick Smith/Getty Images

Denise Mirás

Colaboração para o UOL, em São Paulo

26/07/2021 04h00

Sem poder comparecer às competições olímpicas, o público japonês conta ao menos com uma vantagem: ver parte das Olimpíadas pela tevê a partir de imagens em 8K da NHK, a empresa estatal do país. Ou, como está sendo divulgado, "no limite do olho humano". A experiência permite uma "proximidade" nunca vista do telespectador com os atletas. E, sob a tecnologia Multi-Cam Replay. É possível visão de performances em variedade de ângulos inusitados, com replays acionados em pontos diferentes de tempo.

As imagens são fornecidas pela OBS (Olympic Broadcasting Services), que a partir de 2001 se tornou a responsável exclusiva pela captação dos Jogos para o Comitê Olímpico Internacional (COI).

O privilégio dos telespectadores japoneses - 200 horas em 8K - é possível porque a NHK, emissora estatal do país, é a única com tecnologia para receber essa geração de imagens e distribuí-las em larga escala.

Assim, Tóquio-2020 é um marco, pela transição tecnológica mais que significativa da tevê: o UHD (Ultra High Definition), também conhecido por SHV (Super Hi-Vision), equivale a 16 vezes a resolução do HD (High Definition). Para além das siglas, o espectador acompanhará detalhes deslumbrantes pelo canal BS8K (Broadcast Satellite 8K).

Em países como o Brasil, é preciso fazer uma "desconversão", porque a tevê digital só deverá suportar transmissões em... 4K (ainda) em 2023.

Mais conteúdo, mas possibilidades

A OBS anunciou aumento de 30% no conteúdo, em relação ao Jogos do Rio 2016. E a novidade do armazenamento em nuvem (de até 9 mil horas de imagens de 17 dias de competições) permite mudança de foco: em vez de apenas conteúdo esperado para tevê, abre possibilidades para plataformas digitais. Espetadores agora se voltam para diferentes formatos em diferentes, como os mais adequados a redes sociais em celulares, tablets e laptops, por exemplo.

Outra novidade é com relação à internet móvel de alta velocidade: a 5G se mostra de dez a 20 vezes mais rápida que a 4G, permitindo transmissão de vídeos com imagens em ultra-HD praticamente sem delay. A tecnologia pode se valer de streaming de realidade virtual para novas experiências nos eventos olímpicos - ao alcance das mãos, com o celular.

A OBS se valerá do 3DAT (3D Athlete Tracking) da Intel, sistema por computador a ser acionado no atletismo, com visualizações das formas de corpos em movimento sobrepostas, em tempo real. Nas provas de velocidade, a Inteligência Artificial ainda analisa a biomecânica desses movimentos em replays. E o OBS ainda terá tecnologia de detecção vital, para monitoramento da variação de frequência cardíaca ao vivo de arqueiros, por exemplo, e câmeras analisando mudanças de cor da pele por contração de vasos sanguíneos.

Ainda há muito mais.

Vôlei de praia em Sydney-2000 - Tony Marshall - EMPICS/PA Images via Getty Images - Tony Marshall - EMPICS/PA Images via Getty Images
Vôlei de praia em Bondi Beach, nas Olimpíadas de Sydney-2000: transmissão de tevê por brasileiros
Imagem: Tony Marshall - EMPICS/PA Images via Getty Images

Por trás da tecnologia

Mas como eram feitas as transmissões de tevê antes do OBS? A cargo das tevês locais... E em Los Angeles-1984 virou até gozação dos jornalistas não norte-americanos, porque os atletas "do país" nunca perdiam. Se estavam em terceiro na natação, a câmera acompanhava o terceiro, com o locutor exaltando o bronze (e os jornalistas sem saber quem tinham sido primeiro e segundo). Se estavam perdendo no boxe ou beisebol, orgulhos do país - e pior, para Cuba -, a transmissão era cortada e se passava a algum esporte onde os norte-americanos estivessem ganhando...

Somente em imensos telões verticais no Centro Principal de Imprensa (Main Press Center, ou MPC na sigla em inglês) de Seul-1988 se pôde ver imagens em superslowmotion. Que só depois de anos passariam a ser corriqueiras nas transmissões olímpicas.

Mas o trabalho das transmissões foi ganhando em importância. E Sydney-2000 consagrou um modelo que valeria como base para o futuro OBS: para cada esporte, foram chamados técnicos em transmissão de cada país que fosse mais forte. Assim, esses técnicos seriam muito mais experientes e "safos" para se colocar em posições que rendessem mais imagens interessantes - câmeras acostumados a coberturas da vela, do boxe, do basquete, do futebol... - e menos erros.

Não, do futebol não foram chamados profissionais do Brasil. A SOBO (Sydney Olympic Broadcasting Organization) chamou brasileiros para o vôlei de praia -um esporte que marcou um novo ciclo relacionado ao público olímpico, com música e muita dança, locutor e participação ativa dos espectadores nas arquibancadas.