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Ex-goleiras da seleção brasileira defendem Bárbara por falhas em Tóquio

Bárbara, goleira do Brasil, durante jogo contra a Holanda pelas Olimpíadas - Amr Abdallah Dalsh/Reuters
Bárbara, goleira do Brasil, durante jogo contra a Holanda pelas Olimpíadas Imagem: Amr Abdallah Dalsh/Reuters

Roberto Salim

Colaboração para UOL, em São Paulo

26/07/2021 12h31

No centro de treinamento em Pinheiral, onde a seleção brasileira sub-17 se apresenta no mesmo dia em que o time de Pia Sundhage vai jogar com Zâmbia, um dos assuntos da reunião matinal da Comissão Técnica era um velho pesadelo que assombra o futebol feminino nacional: a questão das goleiras. Tudo porque Bárbara foi criticada após o empate de 3 a 3 com a Holanda, nos Jogos Olímpicos de Tóquio.

"É uma questão cultural: a atacante pode perder 10 gols, mas se faz um está tudo certo. Já a goleira pode fechar o gol, mas se tem uma falha, por menor que seja, será crucificada", comentava Romeu Castro, especialista de futebol feminino da CBF.

A seu lado estavam Simone Jatobá, técnica da seleção, e Maravilha e Meg, duas goleiras pioneiras da equipe do Brasil, que integram a comissão técnica da equipe que se prepara para o Campeonato Sul-americano e para o Mundial Sub-17, na Índia.

Maravilha jogou 13 anos na seleção. Meg jogou outros oito anos. Elas eram de uma época em que se adaptava a goleira ao futebol e defendem Bárbara como defendiam suas traves: com muita garra.

"A Bárbara não está em Tóquio por acaso. É a sua quarta Olimpíada", afirma Maravilha, que é a treinadora de goleiras da seleção sub-17 e carrega um ensinamento que trouxe para sua vida particular, herdado de uma falha no Campeonato Mundial de 1999. "Era a semifinal contra os Estados Unidos, e o erro que cometi me ensinou bastante: nunca se pode confiar demais. Na vida ou jogando no gol. Em todas as situações é preciso estar ligado. Mas para a Bárbara, eu digo: não se deve se vangloriar demais quando se faz uma grande defesa, nem se abater com os erros."

Meg foi trazida do handebol, na década de 80. "Tive que me adaptar, era um treinamento antigo. Eu era da seleção de handebol, mas joguei nove anos na seleção de futebol até a Olimpíada de Atlanta [em 1996]. E aprendi que todo mundo acha que entende de futebol. Mas não entende muito. Essa é a verdade. Então, é mais fácil achar um culpado ou dois para um resultado negativo. Mas eu fazia a minha própria análise e não aceitava as críticas de fora. Somente as minhas. E procurava corrigir o que fosse possível."

"Veja o caso da Bárbara", prossegue Meg, que participa dos treinos da equipe sub-17 como assistente pontual. "Ela fechou o gol contra a China na estreia das Olimpíadas e agora sofre com as críticas na partida contra a Holanda. E eu digo a ela: siga com seu preparo psicológico. Nem escute essas críticas, nem leia nada. Não se abale, você é uma medalhista olímpica, você merece respeito".

Este sentimento é o mesmo de Simone Jatobá. A técnica foi lateral direita do Brasil de 2000, quando ocorreu sua primeira convocação, até 2014. "Foram oito ou nove anos jogando efetivamente, e convivi com essa história de que sempre se busca um culpado: a culpa é de uma zagueira ou da goleira. Sempre se busca um culpado. Não tem o 'todos' nessa cultura do futebol. É uma mentalidade antiquada. Só se vê uma peça."

Simone Jatobá vê o time como um todo. Uma engrenagem só.

"Concordo com a Pia Sundhage, que vai manter a Bárbara contra Zâmbia. É preciso depositar toda a confiança nela. Energia positiva. A Bárbara não precisa provar nada para ninguém."

Apesar de toda essa defesa incondicional à goleira titular da seleção olímpica, existe sim uma preocupação com a descoberta de goleiras altas, com mais de 1,80m de altura. Existe um projeto dentro da CBF para a busca de novas goleiras pelo país inteiro.

"Eu e a Maravilha viajamos muito para acompanhar jogos, recebemos vídeos e sempre que se descobre algo a mais no estilo da jogadora nós buscamos mais informações ainda. E isso é ainda mais específico no caso das goleiras", explica Simone Jatobá.

Na apresentação da seleção sub-17 nesta terça-feira, em Pinheiral, no Rio de Janeiro, a comissão técnica estará observando as goleiras Leilane (Ferroviária de Araraquara), Fernanda (Corinthians) e especialmente Mariana Ribeiro (Fluminense).

Mariana tem 15 anos, 1,77 de altura e chamou a atenção de Maravilha e Simone Jatobá. "Ela tem porte, tem tomadas de decisões importantes em campo e estamos esperançosas em seu desenvolvimento", completa Simone, que desta vez testa estas três goleiras. Na convocação anterior tinha à sua disposição Heloisa (Palmeiras) e Bianca (Grêmio).

Como se vê, as goleiras estão chegando cada vez mais jovens aos campos do Brasil. E elas podem acabar com esse pesadelo que ronda a pequena área, as traves e a rede do futebol nacional.