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Rebeca Andrade tem seis irmãos e aprendeu a ser guerreira com a mãe, Rosa

Rebeca Andrade com a mãe, Rosa - Reprodução/Instagram
Rebeca Andrade com a mãe, Rosa Imagem: Reprodução/Instagram

Roberto Salim

Colaboração para o UOL, em São Paulo

25/07/2021 13h14

Quem vê Rebeca Andrade voando em suas esplêndidas evoluções olímpicas em Tóquio, não pode imaginar o quanto sua mãe se virou, o quanto fez da verdadeira ginástica sua vida, para cuidar de seus sete filhos. Dona Rosa Santos chama Rebeca de guerreira, mas quem conhece a história da família, sabe muito bem que a batalhadora maior é ela mesmo.

"Você viu a apresentação dela?", indaga e já vai respondendo dona Rosa. "Foi linda! E embora eu sentisse toda a sua segurança, eu tive que me conter para controlar meus batimentos cardíacos."

Não dá para esquecer a sua dedicação e a fé na criação de sua trupe, acordando em plena madrugada, preparando o café possível antes de sair para o trabalho de empregada doméstica, enquanto os filhos mais velhos cuidavam de dar início ao dia, naquela pequena moradia nos fundos de um sobrado em Guarulhos.

"Quem leva a Rebeca para os treinos é o irmão mais velho", me disse ela há muitos anos atrás.

E assim começava a rotina daquele lar, que mesclava muita dignidade, trabalho, música e esporte. Uma das irmãs canta muito. Os irmãos mais novos queriam seguir os passos esportivos de Rebeca. E o irmão mais velho a levava de bicicleta para os treinos e só depois ia para o trabalho.

"E pensar que muitos me criticaram na época, porque logo aos 9 anos ela foi morar fora, foi se dedicar aos treinos. Diziam você é doida de deixar sua filha ir embora. Mas eu tive a sabedoria e a mente aberta para deixá-la seguir seus sonhos. Eu deixei que ela voasse atrás de um objetivo. Deixando também claro que se não desse certo, as portas de casa sempre estariam abertas para ela. Hoje eu vejo que agi certo, por ter ouvido o meu coração".

Os primeiros resultados daquela joia rara do esporte começaram a chegar para a menina talentosa e também os convites para treinar para valer. Ela foi se aperfeiçoando com a técnica Keli Kitaura (que hoje trabalha nos Estados Unidos) e já com a seleção brasileira em Três Rios, no interior do Rio de Janeiro, a treinadora fez o prognóstico de que com o amadurecimento viriam os movimentos como o duplo-duplo e excelência internacional. Tudo para aquela menina que adorava dançar e era fã de Beyoncé.

E com as primeiras medalhas nas grandes competições, vieram algumas mudanças na vida da família. Em alguns anos, Rosa levou sua turma para morar em um apartamento mais confortável em um conjunto habitacional ainda em Guarulhos.

Mas com a aproximação do sucesso e dos treinos mais intensos vieram também as lesões que o esporte de alto rendimento provoca em seus atletas. Com Rebeca não foi diferente.

E ela operou três vezes o joelho. Em uma delas, pensou em desistir. Foi em julho de 2015. Porém, antes de receber a anestesia, mantinha o humor e o sorriso cativante de sempre.

"Sabe o que ela me disse?", relembra sua mãe. "Ela falou assim: mãe, quando eu voltar da cirurgia e chegar no quarto, a senhora me acorda logo e me dá comida, porque eu estou morrendo de fome".

Quando deixou o Hospital Samaritano, após cirurgia bem-sucedida feita pelo cirurgião Caio D'Ellia, a menina passou uma noite de muitas dores e sofrimento já em seu apartamento. "Vocês podem voltar outra hora? A Rebeca não dormiu a noite toda", me explicou a mãe na ocasião. Naquele momento, Rosa estava indo à farmácia comprar um dos remédios receitados para as dores.

Nessas horas, a menina guerreira queria desistir de tudo. Mas os conselhos de sua mãe impediram esse desfecho. E foi assim que a atleta do Flamengo foi superando todos os obstáculos surgidos à sua frente.

Hoje a família continua unida e mais orgulhosa que nunca. Além do telefonema da própria filha ginasta de 22 anos, ela recebeu mensagens e mais mensagens, depois dos voos de Rebeca em Tóquio.

Os pequenos irmãos já desistiram da ginástica, a irmã cantora já tem filhos, dona Rosa tem netos e é quase certo que terá também uma guerreira medalhista olímpica.