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Treinar seleção de vôlei do Quênia ajudou brasileiro a superar covid

Luizomar Moura vivência sonho olímpico como técnico da equipe do Quênia - Divulgação
Luizomar Moura vivência sonho olímpico como técnico da equipe do Quênia Imagem: Divulgação

Roberto Salim

Colaboração para UOL, em São Paulo

24/07/2021 13h58

O treinador brasileiro Luizomar de Moura realiza o sonho de estar em uma Olimpíada pela primeira vez. Ele aceitou o convite Federação Internacional de Vôlei para trabalhar três meses com as quenianas, num projeto para melhorar o nível das africanas. A equipe dele estreia neste domingo (25) contra as donas da casa, na Ariake Arena.

Antes de assumir a equipe, há 70 dias, ele precisou superar a covid-19, que o manteve, ainda no Brasil, internado por 10 dias em uma UTI, de onde ele saiu com 11 quilos a menos.

A esposa dele, Márcia, diz que aceitar o convite o ajudou a superar os "perrengues da doença". "Por enquanto ele está sentindo o gostinho de estar em uma Olimpíada, coisa que ele não conseguiu como atleta. E está sendo muito bom, porque foi um projeto estimulante que o fez reagir e esquecer o perrengue que passou com a doença."

O time do pernambucano vai jogar contra a equipe brasileira nos Jogos Olímpicos de Tóquio no dia 2 de agosto, mas não há ilusões em seu sonho. Marcar alguns pontos, surpreender em algumas jogadas estudadas, explorar a potência física das atletas negras e quem sabe, muito dificilmente, ganhar um set.

"O vôlei do Quênia está ainda em uma fase de desenvolvimento, e nosso objetivo é só mostrar essa evolução", conta Luizomar, que nasceu em Caruaru, foi criado no ABC paulista e é o competentíssimo treinador da equipe de Osasco.

Sonho olímpico

Ele foi liberado do comando da equipe feminina de Osasco para aceitar o convite da Federação Internacional de Vôlei. E Luizomar aproveitou para realizar também um sonho de qualquer esportista do alto rendimento: viver o ambiente de uma Olimpíada. E isso, ele está fazendo intensamente.

Ao chegar a Tóquio com as quenianas, o técnico enviou uma mensagem emocionada aos amigos. Nela, ele citava Raul Seixas e a música "Prelúdio". "Sonho que se sonha só. É um sonho que se sonha só. Mas sonho que se sonha junto é realidade."

Ele já realizou a fantasia maior, que foi pisar, entrar na Vila Olímpica. "Chegar ao simbólico topo do Monte Olimpo significa realizar o sonho de participar da Olimpíada", sintetiza o técnico.

E ele já conseguiu. Estar na competição mundial é uma aspiração que Luizomar tem há algum tempo. Aos 55 anos é um dos técnicos mais respeitados do país, já dirigiu a seleção do Peru, e sua chegada ao comando do time brasileiro pode ser uma questão apenas de tempo. E então ele, que foi técnico das seleções de base do Brasil, estará preparado para assumir uma responsabilidade tão grande.

"Eu queria entender todo esse processo, vivenciar esse glamour dos Jogos Olímpicos, notar onde a jogadora vai perder o foco, entender as armadilhas que existem, conviver com os grandes atletas."

"Para o trabalho no Quênia, que foi incentivado pela Federação Internacional de Vôlei, levei auxiliares brasileiros, mas fiz questão de manter o Paul Bitok como meu assistente. Afinal, foi o técnico queniano quem classificou a equipe para os Jogos Olímpicos."

Mudança no treino e evolução

Luizomar Moura e comissão técnica no Quênia - Divulgação - Divulgação
Luizomar Moura e comissão técnica no Quênia
Imagem: Divulgação

E aos poucos, arrumando o piso da quadra, dando treinamentos específicos com todo o material que levou do Brasil, Luizomar viu uma evolução no rendimento da equipe.

"Elas estão jogando agora de maneira mais organizada. E o que me surpreendeu muito foi a disposição e a vontade de atingir uma alta performance. É um time com potencial de crescimento."

Uma das primeiras coisas foi mudar o trabalho físico, que era feito sempre com muita corrida. "Acho que influenciadas pela tradição queniana no atletismo e nas provas de fundo, elas treinavam e corriam. E hoje não se corre no vôlei. O treino físico é mais de potência e força. E foi impressionante o crescimento delas na parte física", avalia o treinador.

Luizomar pretende trazer pelo menos as quatro melhores jogadoras para estágios em clubes intermediários brasileiros, para que no futuro adquiram mais técnica e elevem o nível de seu voleibol. Ele elogia muito a jogadora Chumba. "Ela tem potencial de salto, é muito veloz e tem o braço pesado".

Quando acabar a Olimpíada, além de Chumba e de outras jogadoras que possam se destacar, o técnico pode voltar ao Brasil também com novas receitas para fazer ao lado da esposa Márcia, sua namorada há 38 anos. Ele diz que Márcia é o pai e a mãe da casa.

Luizomar de Moura, técnico do Quênia - Arquivo pessoal - Arquivo pessoal
Luizomar de Moura, técnico do Quênia, disse que se adaptou à cultura local
Imagem: Arquivo pessoal

"Eu me adaptei bem à culinária local, e o churrasco com carne de carneiro é muito bom." A cerveja queniana também caiu no gosto do técnico.

"O Luizomar gosta de provar as comidas típicas dos lugares aonde vai. E além das receitas, vai trazer uma mala cheia de lembranças do Quênia. Ele já me falou que está trazendo quadros de animais, que tanto adora", conta Márcia, que foi nadadora, bailarina e técnica de natação.

Ela afirma que o marido é muito romântico, que estão juntos desde os 15 anos e que recebeu outro dia rosas enviadas por ele na data de aniversário de casamento.

E revelou que Luizomar pensa sim em chegar um dia a uma Olimpíada dirigindo a seleção do Brasil. "É o objetivo dele, é um caminho natural, principalmente porque trabalhou durante muitos anos com as seleções brasileiras de base."

Agora, Márcia e os filhos Luiz Henrique e Gustavo se preparam para acompanhar a estreia das quenianas contra o Japão. E na residência em São Bernardo do Campo, no ABC Paulista, nomes como Chumba, Moim, Pamela, Agripina e Waçu entraram para o dia a dia da família. Afinal, o papai Luizomar foi homenageado no dia do seu aniversário pelas jogadoras, que levaram um bolo ao treino e até cantaram parabéns em português.

"Quando elas estão felizes, gostam de dançar. E eu para entrar no clima dancei também, só que embora tenha nascido em Caruaru, eu estou mais para Bonecão de Olinda", reconheceu Luizomar.

Quem sabe o técnico e suas meninas não dancem de satisfação após o jogo contra as brasileiras. Nem será preciso muitos pontos, uma boa exibição bastará para que as quenianas deixem a quadra felizes e dancem de alegria levando o técnico pelo braço.