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Ativistas antiolímpicos fazem protesto e põem Tóquio-2020 na privada

Takeru Abe, professor que estava visitando a exposição do artista e ativista Kai Koyama - Juliana Sayuri/UOL
Takeru Abe, professor que estava visitando a exposição do artista e ativista Kai Koyama Imagem: Juliana Sayuri/UOL

Juliana Sayuri

Colaboração para o UOL, em Tóquio

23/07/2021 04h00

"Arte é protesto", diz o artista e ativista japonês Kai Koyama. "É uma expressão de resistência diante do gigante que é a Olimpíada", acrescenta ele, apontando para a obra de sua autoria, intitulada "Pequena Resistência".

Ao lado de outros artistas, Koyama organizou a mostra "Declaração do fim dos Jogos Olímpicos (urgente)", que está em cartaz na galeria Hitotsubashi, em Tóquio, até 26 de julho.

Além de quadros, eles expõem itens ilustrativos das manifestações de rua, como cartazes e faixas de protesto, cartas rabiscadas, fotos de privadas com os dizeres "Tokyo-2020" e post-its coloridos para o público registrar impressões de outra Olimpíada possível. "O modelo atual já está corrompido", diz o curador.

Artistas-ativistas japoneses têm se reunido para protestar contra a decisão de dar continuidade à Tóquio-2020 apesar da pandemia - para eles, os Jogos atuais são fonte de ansiedade e perigo com uma pincelada de ganância capitalista.

Ativistas - Juliana Sayuri/UOL - Juliana Sayuri/UOL
Manifestantes consideram Jogos fonte de ansiedades aos japoneses
Imagem: Juliana Sayuri/UOL

Entre eles há ativistas anticapitalistas que se opõem ao modelo econômico das Olimpíadas em si. É um movimento que o cientista político norte-americano Jules Boykoff, professor da Universidade Pacific, no Oregon, define como "NOlimpíada". "Não se trata apenas destes Jogos, mas de todos os Jogos", diz.

Além de exposições sobre o assunto (três, até agora), Koyama participa de protestos junto a outros manifestantes (o próximo está marcado para hoje no embalo da cerimônia de abertura).

Se antes os atos costumavam atrair poucos gatos pingados, nas últimas manifestações o número subiu para a casa das centenas, um reflexo do fato de que a maioria dos japoneses são contra as competições esportivas neste momento - segundo a última enquete, 83% prefeririam cancelar ou adiar as Olimpíadas.

Slogans antiolímpicos se popularizaram também com camisetas em referência ao anime "Akira", um quadrinho da década de 1980 que imaginava uma Tóquio anfitriã das Olimpíadas num distópico 2020 - o artista Susumu Kikutake vendeu milhares de peças desta camiseta no último mês.

"É uma irresponsabilidade abrigar os Jogos na atual situação. Um crime", critica Takeru Abe, por acaso um jovem professor de esporte e saúde da Universidade Shiraume Gakuen que visitava a exposição pela primeira vez ontem.

Por dia, a modesta mostra vem recebendo cerca de 50 visitantes, o que os organizadores consideram um bom número. Enquanto o UOL Esporte esteve por lá, passaram mais de 15 visitantes, parando para conversar com os organizadores, pedir mais informações ou escrever seus sonhos olímpicos nos post-its para a pequena intervenção artística.

Às vésperas da cerimônia de abertura, era de se imaginar que os opositores olímpicos estivessem conformados com a batalha perdida. Entretanto, Koyama diz que não: enquanto os Jogos continuarem, eles pretendem continuar. "Até o fim."