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Carteira de repórter do UOL é furtada e devolvida com metade do dinheiro

Repórter Beatriz Cesarini no Main Press Center, nas Olimpíadas de Tóquio - UOL
Repórter Beatriz Cesarini no Main Press Center, nas Olimpíadas de Tóquio Imagem: UOL

Beatriz Cesarini

Do UOL, em Tóquio

22/07/2021 08h11

Dizem que o último furto de carteira no Japão aconteceu nas Olimpíadas de 1964. E, adivinhem? Aconteceu de novo. Comigo. Brincadeiras à parte, eu tomei um baita susto no segundo dia da minha primeira cobertura olímpica in loco.

Foram meses de ansiedade até a chegada do grande dia do embarque. Depois de tantas incertezas, só acreditei que estava indo para as Olimpíadas quando entrei no aeroporto de Guarulhos. Logo após o check-in, me deparei com Gabriel Medina chegando para o mesmo voo. Meu amigo e companheiro de cobertura aqui no UOL Adriano Wilkson, que está comigo em Tóquio, escreveu: "A bola procura o craque".

Não poderia ter começado melhor. A primeira matéria saiu antes mesmo que pisasse no Japão. E foi um estouro. Minha conta no Twitter nunca ficou tão movimentada com a história do casal. Medina falou que não estava indo 100% porque iria sem Yasmin. Ela, por outro lado, disse que ele estava pronto. Esse vídeo está com mais de um milhão de visualizações.

Mas, convenhamos, acho que ninguém está totalmente seguro em uma estreia olímpica. Por isso me identifiquei com Medina. Quem não curte ter alguém do lado para incentivar e apoiar em um momento novo?

Dito isto, volto ao começo do texto. No meu segundo dia no na maior redação do mundo —o grandioso Main Press Center — ainda estava encantada com o enorme intercâmbio cultural. Caramba, eu estou aqui com os melhores jornalistas do mundo.

Fui almoçar com o Felipe Pereira, que também está aqui pelo UOL. Publiquei a foto do meu prato no Instagram para manter a hashtag #biaolímpica ativa — ela foi criada nas Olimpíadas de 2016, quando trabalhei de São Paulo e escrevi sobre as Olimpíadas do Rio de Janeiro. De repente, percebo que minha carteira sumiu. Dentro tinham cerca de 30000 ienes (o equivalente a 300 dólares), dois cartões de crédito, carteira de motorista, chaves dos cadeados da mala e alguns dólares da minha sogra. Ferrou ou não?

Eu desabei. Agradeço por ter o Felipe ao meu lado. Procuramos por todos os lados e perguntamos para toda a galera. Nada. Simplesmente sumiu. Fomos ao centro de ajuda e um voluntário japonês me aconselhou a voltar mais tarde, porque deveria aparecer. Não aconteceu. Quando retornei lá, ele aconselhou a falar com a segurança das Olimpíadas.

Como quase nenhum dos japoneses fala inglês, esse mesmo voluntário fez toda a intermediação. Eu estava desesperada. Falei com outra amiga que sempre me ensinou a ser cascuda: "Eu sei que é difícil. Mas não fique assim. Não deixe que isso estrague sua cobertura. Bens materiais a gente recupera".

De repente me vi em uma sala com uns 10 policiais japoneses para fazer o "Boletim de Ocorrência" daqui. O processo durou quase três horas. E uma surpresa. Não tinha câmera no restaurante. Me falaram que seria muito difícil de encontrar. Afinal, o Japão é considerado seguro, mas estou num evento com pessoas do mundo inteiro.

Policiais no Main Press Center, em Tóquio, atendendo repórter do UOL - UOL - UOL
Policiais no Main Press Center, em Tóquio, atendendo repórter do UOL
Imagem: UOL

Falei com a família e com namorado. Todos disseram que não era bom ficar chorando. Ainda tinham 22 dias pela frente na cobertura que é a realização de um sonho.

É isso: segue o jogo, né? Acordei pronta para trabalhar. Voltei ao MPC, encontrei um brasileiro no centro de informações, mas ele disse que minha carteira não estava lá. Fui almoçar com colegas brasileiros que conheci aqui e que já estavam me chamando de "a menina que perdeu os 300 dólares". Ainda estava sem dinheiro e um deles pagou a refeição do dia.

Na volta do almoço, passei lá de novo e o brasileiro acenou. Minha carteira estava lá! Com tudo. Quase tudo na verdade. Metade dos yenes estava faltando, mas está ótimo. Em que lugar desse planeta o ladrão devolve uma carteira com todos os pertences e metade do dinheiro?

É isso, como disse Candinho em "Êta Mundo Bom", tudo que acontece de ruim na vida, é para melhorar.