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Leo de Deus destaca preparo mental como o mais difícil para Jogos de Tóquio

Leonardo de Deus no primeiro treino da natação após chegada em Sagamihara - Alexandre Castello Branco/COB
Leonardo de Deus no primeiro treino da natação após chegada em Sagamihara Imagem: Alexandre Castello Branco/COB

Denise Mirás

Colaboração para o UOL, em São Paulo

17/07/2021 04h00

Mais do que nunca o preparo mental foi fundamental para um atleta seguir focado - em meio a uma pandemia - para a disputa dos Jogos Olímpicos. Leonardo de Deus, de 30 anos, diz que esse trabalho sob pressão foi dos mais difíceis. De Sagamihara, onde a equipe brasileira faz aclimatação, ouviu por vídeo o filho Téo falar "papai" pela primeira vez, o que destaca como exemplo do que dá ainda mais força e energia para conseguir o melhor em sua terceira participação olímpica.

"A pandemia não foi ruim só para o esporte, mas a gente teve de se adaptar. A infraestrutura se perdeu e, com isso, a qualidade de treino. Sofremos com a falta de competições, quando alinhamos o que tirar de erros. Não tivemos isso em 2020. Mas agora, acompanhando as seletivas dos outros países pelo mundo, os tempos que vieram foram muito mais fortes do que se imaginava. Vimos quais países conseguiram se manter treinando, como Estados Unidos, Rússia, Austrália com excelentes tempos, e quem não conseguiu. Quais países conseguiram proteger seus atletas, manter abertas piscinas para treinamento, e quais países sofreram mais."

No Brasil, observa Léo, foi difícil para muitos atletas apresentarem resultados, o que só ocorreu com infraestrutura melhor para treinos em 2021. "A gente nadou uma seletiva sob muita pressão. O mais difícil para os atletas, além da preparação, foi a parte mental: vai ter ou não vai ter Olimpíada? O que vai acontecer? E você tentando se manter em alto nível. Foi fundamental o trabalho mental para ficar focado, treinando como dava, com as adaptações, para fazer o índice. E chegamos agora nadando super bem, superando tudo isso de falta de infraestrutura, de cabeça, de indecisões."

Sobre aspecto mental, Renato Cordani, chefe de equipe da natação, lembra da pressão "brutal" a que o atleta se submete: "A pessoa treina quatro anos para um momento que muda tudo. Um nadador de velocidade, por exemplo, decide quatro anos de sua vida em 21 segundos, ainda mais com - literalmente - todo o mundo olhando. O aspecto mental em Jogos Olímpicos é muito importante, mais até que o físico".

Para o dirigente, no entanto, o poder mental não é questão de experiência, mas um talento pessoal. "Quantos atletas já chegam campeões como o Cesar Cielo, ouro em sua primeira Olimpíada? Pode-se treinar esse aspecto, mas até certo ponto. Foco e preparo mental para superar pressão estão mais relacionados com talento do que com experiência."

Mesmo em sua terceira Olimpíada, Leo de Deus diz que ainda sente "o mesmo friozinho na barriga". "Em Londres-2012 eu era apenas um garoto começando. Nestes anos de dedicação, amadurecimento, acredito que estou na minha melhor forma física e mental, pronto para os melhores Jogos Olímpicos da minha carreira."

Em Londres-2012, Leo foi semifinalista dos 200 m costas (13º colocado) e ficou em 21º lugar nos 200 m borboleta. Na Rio-2016, novamente foi 13º nos 200 m costas e nos 200 m borboleta, apesar de anteriormente haver conseguido tempos que lhe dariam vaga na final. Agora, para Tóquio-2020, está apostando tudo nos 200 m borboleta.

"Meu treino foi mais um pouquinho de força e velocidade, para não me desgastar no fim da prova. Estou nadando bem melhor na parte subaquática da prova, na frequência de braçadas. Vai ser a diferença de tempo na briga para a final olímpica. Tenho um objetivo só: os melhores Jogos Olímpicos da minha carreira, com disputa de medalha com os melhores do mundo."