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Coronavírus: COB já tem 50% de queda em verba da Lei Piva com quarentena

Anéis Olímpicos em Tóquio - Alessandro Di Ciommo/NurPhoto via Getty Images
Anéis Olímpicos em Tóquio Imagem: Alessandro Di Ciommo/NurPhoto via Getty Images

Bruno Doro

Do UOL, em São Paulo

23/04/2020 04h00

Com o adiamento dos Jogos Olímpicos de Tóquio e a paralisação de todas as competições esportivas nacionais e internacionais, o Comitê Olímpico do Brasil (COB) está sendo obrigado a rever suas finanças em meio à pandemia do novo coronavírus. O impacto financeiro é pesado: com a quarentena, a entidade já contabiliza queda de 50% da verba recebida via Lei Agnelo-Piva nos últimos meses.

Como os repasses dependem da arrecadação bruta de todas as loterias federais e os brasileiros confinados estão jogando cada vez menos no período de distanciamento social, o COB entrou em um efeito dominó: seus eventos estão suspensos, sua arrecadação diminui e resta um custo de administração que segue existindo independentemente de outros fatores.

"Nós tivemos uma diminuição de aproximadamente 50% no volume de apostas e de repasse ao COB. A Caixa publica diariamente e a gente recebe o recurso 10, 12 dias úteis depois. A gente vai acompanhando as apostas que foram feitas, os funcionários internos aqui fazem a conta. A gente já tem esse valor aproximado de diminuição de apostas e de repasse para o movimento olímpico", afirma o diretor geral do COB, Rogério Sampaio, em entrevista ao UOL Esporte.

"Eu tenho uma visão que essa diminuição de 50% é momentânea. Eu entendo que, a partir do momento em que diminuir o isolamento social, que as pessoas começarem a levar uma vida normal, esse número de apostas vai subir e o repasse também. Não acredito que, num primeiro momento, chegaremos ao volume que tinha anteriormente, mas entendo que vai aumentar", destacou.

O COB entende, no entanto, que 50% é um número importante e por isso controla as movimentações com a calculadora na mão. "Nós temos hoje um recurso contingenciado. A gente vai acompanhando muito de perto e vamos tomar as medidas necessárias. Mas hoje a gente já tem essa segurança de recursos contingenciados que serve também como fluxo de caixa. E, então, por enquanto, o nosso panorama está bem equilibrado. E as diversas áreas continuam trabalhando de maneira remota, mas continuam trabalhando", ressaltou o diretor.

Teto de 25% para despesas administrativas pode não ser suficiente

O problema do COB é que, como a maior parte de seus recursos vem da Lei Piva, existem uma série de restrições ao seu uso. Atualmente, a entidade tem de gastar 75% do que entra pela lei com esporte (chamados de atividade fim, englobam eventos, mas também treinamentos das equipes; contratação de técnicos; viagens de intercâmbio; participação em competições internacionais; aquisição de equipamentos e materiais esportivos; períodos de aclimatação das delegações...) e apenas 25% com ações administrativas (chamados de atividade meio, que consistem, entre outros, em salários de funcionários e gastos, por exemplo, com aluguel). O problema é que a pandemia fez com que todos os eventos fossem cancelados ou adiados, mas salários, aluguéis e outros contratos seguem em vigor. Essa situação cria um efeito inusitado: sem poder realizar sua atividade fim, a entidade não poderia, também, realizar sua atividade meio.

Por causa disso, o COB pediu ao Ministério da Cidadania, onde foi alocada a pasta do Esporte quando o governo Bolsonaro fundiu ministérios, um estudo de viabilidade para que, enquanto durasse a pandemia, pudesse extrapolar mudar esses limites. "Quando você tem essa diminuição de atividade fim (esporte), fica muito difícil você conseguir cumprir os 25% da atividade meio, porque 25% de cem é uma coisa agora, 25% de zero é zero. Então, o COB entrou em contato com o Ministério da Cidadania, com a Secretaria Especial de Esportes, apresentando esses argumentos e solicitando um estudo inicial para que a gente pudesse, de alguma maneira, resolver essa situação e fazer com que a entidade possa cumprir a regra".

"O objetivo não é aumentar o valor que estava previsto em gastos com a atividade meio. O que estamos pedindo é, durante esse período de exceção, que o valor previsto em orçamento seja mantido e que, ao final do ano, se os gastos com atividade meio não representarem a porcentagem exigida, nós não sejamos punidos. Não queremos aumentar gastos. Simplesmente queremos manter os contratos que foram firmados".

Segundo o COB, os 25% de teto para as despesas são suficientes em anos normais. O planejamento de 2020 previa que só 14% seria usado. O restante iria para o esporte. Com a pandemia, porém, o cenário muda. "Nós, num primeiro momento, já cancelamos alguns eventos, como o evento que iria marcar cem dias para o início dos Jogos Olímpicos, que era em Brasília. Cancelamos um encontro com todos os atletas classificados para os Jogos Olímpicos de Tóquio. Vários eventos estão sendo cancelados".

COB entende que volta das competições será processo lento

A equipe administrativa do COB tem trabalhado de casa, os atletas estão em casa treinando como podem e as competições não têm data para voltar. Com os Jogos Olímpicos reprogramados para 2021, Rogério Sampaio crê que o esporte poderá ser retomado, com otimismo, apenas no final do ano.

"Isso não é um processo de 15 dias. São 60 a 70 dias para um atleta estar pronto para entrar em uma competição. E você tem, ainda, o avanço dessa disseminação no mundo. Na Ásia, o processo já está numa linha bem descendente, quase solucionado. Na Europa, ainda está no auge. Estados Unidos e Brasil, América do Sul e África, ainda estamos num processo de crescimento. Ou seja, o momento em que isso vai desacelerar e terminar são momentos diferentes. Então, quando uma federação internacional vai pensar em fazer um evento, tem que esperar o mundo inteiro resolver para depois vir o evento", comentou.

Nem mesmo as competições já previstas para 2021 estão confirmadas no calendário. "Nossa área de emissões, que é responsável por todas as nossas viagens internacionais, está trabalhando intensamente por conta do adiamento dos Jogos Olímpicos de Tóquio. Nós temos três eventos programados para o ano que vem: os Jogos Pan Americanos Júnior, os Jogos Sul-Americanos de Praia e os Jogos Mundiais de Praia. Esses foram confirmados, mas estão esperando serem novamente confirmados por causa da mudança da data dos Jogos Olímpicos. O calendário vai ter que ser refeito", completou.