Amor sem medalha

Medina voltará para os braços de Yasmin após ficar fora do pódio no Japão

Adriano Wilkson Do UOL, em Tóquio Pat Nolan/World Surf League via Getty Images

A última imagem de Gabriel Medina nas Olimpíadas de Tóquio é um borrão. Ele segura sua prancha embaixo do braço e finge não ver os cerca de dez jornalistas brasileiros que o esperam para a entrevista que todo o atleta dá depois de cada bateria. Está apressado e de cabeça baixa. Um funcionário do Comitê Olímpico Brasileira o detém e tenta convencê-lo a parar e falar à imprensa.

Gabriel balança a cabeça, informa que vai apenas tomar uma água e voltar em seguida. Derrotado pelo australiano Owen Wright, o brasileiro deu uma rápida declaração à TV Globo, mas não quis falar com os outros jornalistas do país que o esperavam na praia. Ele não retornou à praia quando Ítalo Ferreira saiu do mar campeão e nem quando seu parceiro recebeu a medalha no pódio.

Foi o fim de uma semana em que o surfista não estava "100%", conforme ele mesmo disse ao UOL Esporte antes de embarcar a Tóquio. Faltava ao seu lado a modelo Yasmin Brunet, que acompanhou de perto (mesmo que de longe) as idas e vindas do marido do outro lado do mundo. "Ela mudou minha a vida. Quando você está bem pessoalmente, isso se reflete também no surfe", disse Medina a um jornalista estrangeiro que o questionou sobre o motivo de estar surfando tão bem neste ano.

Com o quarto lugar conquistado no Japão, Medina volta ao Brasil frustrado, mas com a certeza de que em breve terá a seu lado a pessoa que o completa. "Ela me deixa mais leve, é muito raro encontrar alguém assim", afirmou ele logo após avançar à semifinal.

Pat Nolan/World Surf League via Getty Images

Derrota veio por detalhes e notas controversas

Havia muita expectativa em relação ao desempenho do bicampeão mundial na primeira edição do surfe olímpico e, se você olhar só para o que Medina fez dentro da água, fica difícil dizer que o brasileiro decepcionou. Os tradicionais aéreos altos e a segurança sobre a prancha estiveram sempre presentes, assim como a autoconfiança exibida após cada manobra bem-sucedida.

Na bateria decisiva da semifinal ele novamente surfou bem, mas não pôde fazer muita coisa quando o japonês Kanoa Igarashi recebeu um 9,33 por uma manobra que ele mesmo considerou uma das melhores de sua vida. Para piorar, isso aconteceu nos minutos finais, e o brasileiro não teve tempo de reverter.

Na única declaração que deu à imprensa após sua derrota, ele deixou transparecer uma queixa em relação à nota dos juízes, cujos critérios foram muito questionados nas redes sociais. A verdade é que a nota atribuída à onda de Igarashi, apesar de questionável, não foi necessariamente injusta.

É triste quando isso acontece. Muita gente mandou mensagem... É difícil passar o ano treinando, se esforçando, e chegar nisso. Mas minha parte fiz, estou amarradão, fiz o meu melhor, e agora é continuar trabalhando. Têm coisas que não dá para entender, mas tinha que ser assim."

Gabriel Medina, ao SporTV, após perder a disputa de bronze para Kanoa Igarashi

Ryan Pierse/Getty Images Ryan Pierse/Getty Images
Reprodução/Time Brasil

Viagem solitária

Uma cena insólita no aeroporto de Doha, no Catar, deu pistas de como seria a viagem de Medina ao Japão. No meio da madrugada, o bicampeão olímpico e uma das principais esperanças de medalha do Time Brasil estava sozinho esperando a conexão para Tóquio. E falando preocupado ao telefone.

É raro (talvez até inédito) um atleta do tamanho de Medina empreender uma viagem tão longa sem assistência, ainda mais levando em consideração a necessidade do desembaraço burocrático das pranchas caríssimas que viajaram com ele. E, no entanto, lá estava o surfista, no meio da madrugada e de atletas de vários países que viajavam em delegações, tentando resolver sozinho os próprios problemas.

"Não dá, estou resolvendo várias tretas", informou ele quando um repórter se aproximou pedindo uma entrevista.

Reprodução

Casal tentou até o último momento ficar junto

As coisas poderiam ser diferentes se 1) as Olímpiadas não estivessem sendo realizadas no meio de uma pandemia ou 2) Yasmin Brunet tivesse sido autorizada a viajar com ele. Quanto à primeira situação, o casal Medina não pôde fazer nada. Mas eles tentaram até o último momento reverter a segunda.

Alegando que Yasmin ajuda a organizar sua alimentação e sua mente nas etapas do circuito mundial, Medina insistiu que a única credencial de acompanhante a que ele tinha direito fosse dada à esposa, mas o COB negou. O desgaste virou assunto nacional, gerou memes, piadas e conversas na mesa do bar, que trouxeram mais uma vez à tona os problemas de relacionamento entre os pais do atleta e a modelo.

No aeroporto antes do embarque ao Japão, a modelo afirmava que o marido viajaria focado na medalha de ouro e nas poucas vezes que se permitiu algum contato com a imprensa, Gabriel exibia uma resignação diante dos fatos.

"Chega uma hora que é preciso olhar pra frente", disse ele antes da semifinal.

Reprodução Instagram

Yasmin explode no Brasil

Mesmo distante, a modelo não deixou de acompanhar o passo a passo do marido no litoral japonês. Suas transmissões comentadas de cada bateria atraíram milhares de seguidores, mesmo com a maioria das provas acontecendo na madrugada no Brasil.

Quando Medina foi eliminado, Yasmin reagiu com indignação, alertando o público que o marido havia sido roubado. Frustrado, o surfista preferiu se recolher.

"Não cheguei a conversar com ele ainda", afirmou Ítalo Ferreira na entrevista horas depois de garantir o ouro. "Mas o Gabriel é uma excelente pessoa, um moleque que faz a diferença no circuito, um cara que puxa o nível da galera. A gente podia fazer a final junto, mas o Kanoa [Igarashi] ganhou a bateria. Acho que ali no final o Gabriel relaxou um pouco. Mas faz parte. Hoje eu representei."

No final da noite do Japão (final da manhã no Brasil), Medina apareceu em um story no Instagram na festa em homenagem a Ítalo na casa que hospeda o surfe do Brasil. Ele tinha novamente um sorriso no rosto, o mesmo que abandonou ao perder na semifinal.

Lisi Niesner/Reuters Lisi Niesner/Reuters

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