Em 13 de setembro, um domingo, Everaldo Marques chorou ao desligar o microfone. Encerrara a primeira transmissão de sua vida da Fórmula 1 em uma TV aberta. Era sua estreia na Globo. O marco profissional do homem foi acompanhado do lastro sentimental do menino que se criou apaixonado por automobilismo. "Eu lembro muito da vitória do Emerson Fittipaldi em Indianápolis em 1989. Eu, com 10 para 11 anos de idade, na sala da minha casa gritando, pulando, torcendo e chorando."
Quando deixou os estúdios da emissora, Everaldo entrou no carro examinando a importância daquela transmissão em sua história pessoal. Na infância, ele desenvolveu gosto pela narração porque só tinha a companhia do rádio durante o dia. O pai e a mãe precisavam sair trabalhar. Evê escolheu uma música que considera carregada de simbolismo.
"Eu fiz uma coisa que eu não costumo fazer. Buscar uma música para ouvir especificamente. Era Na Estrada, do Cidade Negra, e ela diz: 'Você não sabe o quanto eu caminhei para chegar até aqui. Percorri milhas e milhas antes de dormir...'"
Termômetro dos humores nacionais, as redes sociais exaltavam a narração. A consagração individual do narrador ganhava validação coletiva. Só no Instagram foram cinco mil comentários. Os fãs que rolaram a página para imagens antigas viram postagens de Charlie Brown. Everaldo explica que ele e Minduim partilham a timidez, a falta de aptidão nos esportes e o tamanho da cabeça.
Meu, o Charlie Brown nunca conseguiu rebater uma bola na vida. Nunca roubou uma base. Nunca conseguiu chutar uma bola. Acho que a gente é parecido em algumas coisas. O Peanuts [nome do desenho] é uma coisa meio introspectiva."
Everaldo Marques aponta as semelhanças, mas concorda que sua trajetória se enquadraria no Charlie Brown que deu certo ao crescer. Filho de uma empregada doméstica com um zelador, ele narrou bingo aos sete anos e agora trabalha na maior empresa de comunicação do país. Vai narrar skate e surfe nas Olimpíadas de Tóquio. "Consegui chutar a bola, consegui chegar na base."