Parece que ser o último é pior... Tinha ido ao banheiro fazer xixi não sei quantas vezes, a barriga estava um gelo, minha mão pingava, eu passava no chão para ficar um pouco áspera, para o bastão não escorregar. O Estádio Olímpico, em silêncio total. Mas foi dado o tiro de largada para mais de 100 mil pessoas começarem a gritar. E eu não escutava mais nada. Eu parado, ali, vi o Vicente (Lenílson) correndo, vi o Edson (Luciano) quando ele entregou para o André (Domingos).
A gente tem uma marquinha na pista. Fico olhando para o chão, porque quando ele pisa, eu saio correndo. Aí corro e não olho mais para trás. Quando o André grita 'Vai, Nei!!', estico a mão e ele coloca o bastão.
Mas não ali, não naquela final dos 4x100m! Com aquele barulho ensurdecedor, eu não escutava nada! Nada mesmo! Não escutava o André.
Aí eu senti o cheiro dele.
É a convivência. Você vive muito com a pessoa, sabe o cheiro. O cheiro dele é bom. Não escutava ele gritando, mas aí veio aquele ventinho, sei lá. Eu falei: 'Tá aqui do lado!'. Quando estiquei a mão, você pode ver no vídeo - estou quase em cima dele, que até faz assim, encolhe a mão. Peguei o bastão assim, ó! Naquela hora, só vi o Maurice Greene e o Freddie Mayola. Dá tempo de ver tudo isso. O Greene, apaguei da minha vista. Eu não ia ganhar do recordista do planeta, mas o cubano podia passar. Olhei para o painel. E chego meio caindo, assim. Dei tudo.
São duas as medalhas mais importantes na minha vida. A prata dos 200m no Mundial de Sevilha 1992 e essa prata do revezamento da Olimpíada de Sydney 2000. O meu medo naquele 29 de setembro era falhar, não conseguir pegar o bastão e não corresponder ao time - Vicente Lenílson, Edson Luciano, André Domingos e o Cláudio Roberto, que correu as eliminatórias. Eu podia chegar em quarto, quinto lugar, mas precisava pelo menos terminar a prova com tudo bonitinho. Graças a Deus não falhamos. Ah, e o perfume do André é maravilhoso!