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Murilo Garavello*
Enviado especial do UOL
Em Atenas (Grécia)

Vanderlei Cordeiro de Lima conquistou, de última hora, a medalha mais imprevisível das que o Brasil ganhou nas Olimpíadas de Atenas. O bronze significou para o país o melhor resultado da história na prova, mas deixou uma sensação de indignação, já que a vitória esteve perto de ser alcançada. O pódio inesperado, porém, transforma Cordeiro em um herói brasileiro em Atenas pelas circunstâncias que cercaram a conturbada maratona.


Por causa de um manifestante que atrapalhou o brasileiro por volta do 36º quilômetro da prova, Vanderlei Cordeiro viu sua vantagem de cerca de 40 segundos despencar rapidamente. Um padre irlandês invadiu a pista e arrastou o maratonista para a calçada. Com a ajuda do público -e diante de um policiamento ineficiente-, o brasileiro conseguiu voltar para a pista, mas demorou a retomar o ritmo que levava até então.

Nos últimos minutos, o italiano Stefano Baldini e o eritreu naturalizado norte-americano Meb Keflezighi ultrapassaram Vanderlei. Acabavam ali as chances do brasileiro de conquistar a medalha de ouro. Mas o maratonista segurou a terceira posição e garantiu o bronze.

"Não fiquei lesionado, nem nada, mas aquilo cortou meu ritmo", contou Vanderlei, após a prova. "Tenho certeza de que teria ganhado o ouro se não tivesse sido esse louco idiota. A vitória escapou naquele momento, pois me assustei muito. Não sabia se ele estava com uma arma, fiquei apavorado", disse o maratonista, que garantiu que, apesar de tudo, ficou satisfeito com o bronze.

Até então, nas 24 vezes que a prova foi disputada em Olimpíadas, a melhor colocação de um brasileiro havia sido nos Jogos de Atlanta-1996, quando Luís Antônio dos Santos completou os 42,195 km na 10ª colocação, em 2h15min55.

Participando de sua terceira Olimpíada, o ex-jogador de futebol tornou-se em Atenas o maior herói do atletismo brasileiro nos Jogos. Ele salvou a modalidade de sair dos Jogos sem medalhas, fato que havia acontecido apenas uma vez -em Barcelona-1992- entre Cidade do México-1968 e Sydney-2000.

Único a conquistar medalha no evento, depois do fracasso dos favoritos Jadel Gregório e da equipe do revezamento 4x100 m, o paranaense de Cruzeiro D'Oeste, criado na pequena Tapira (ambas no PR), foi para a Grécia sem estar no centro das atenções.

Embora considerado um dos maiores maratonistas do país, Vanderlei não figurava entre as apostas de medalha para Atenas. Em Sydney-2000, quando estava no auge de sua forma física -em 1998 havia feito seu recorde pessoal, correndo a maratona de Tóquio em 2h08min31s-, o brasileiro esteve mais em evidência e era cotado para o pódio.

Vanderlei, no entanto, não conseguiu nem ao menos cumprir seu objetivo de chegar entre os dez primeiros. Depois de um treinamento intenso na altitude da Cidade do México, o maratonista se contundiu e correu a prova olímpica no sacrifício. O resultado acabou sendo pior que em Atlanta-1996, quando foi 47º. Na Austrália, o brasileiro foi apenas o 75º.

Quatro anos mais tarde, Vanderlei não temia que o azar de Sydney se repetisse. "É muito bom chegar em uma Olimpíada com confiança. O que aconteceu lá [em Sydney-2000] foi uma fatalidade. Agora estou no meu auge como atleta e espero trazer um bom resultado de Atenas. É difícil, é bem verdade, mas estou vivendo bons momentos na vida". Leia mais




O protesto religioso feito na maratona ofuscou a boa organização das Olimpíadas. Sem que ninguém percebesse, o infrator invadiu a pista e pegou Vanderlei Cordeiro de Lima de surpresa, já que o brasileiro estava concentrado apenas no percurso. Cordeiro foi arrastado para a calçada e perdeu o ritmo que vinha mantendo na liderança da prova. As autoridades locais ainda não confirmaram o nome do indivíduo, mas as evidências apontam para o padre irlandês Cornelius Horan, o mesmo que invadiu o circuito de Silverstone, no final do GP da Inglaterra de F-1 do ano passado para divulgar mensagem religiosa.

*colaborou Cláudia Andrade



Veja as fotos da maratona que valeu
o bronze
  FICHA TÉCNICA

Nome completo: Vanderlei Cordeiro de Lima

Data de nascimento: 11/08/1969

Local de nascimento: Cruzeiro D'Oeste (PR)

Altura: 1,68 m

Peso: 54 kg

Residência: Maringá (PR)

Participações em Olimpíadas: Atlanta-1996, Syndey-2000 e Atenas-2004





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