Da Redação Em São Paulo A medalha de prata conquistada, em Atenas, além de ser o melhor resultado da história olímpica do Brasil nos saltos, teve gosto de redenção para Rodrigo Pessoa. O maior cavaleiro brasileiro de todos os tempos carregava há quatro anos o peso de ter chegado muito perto do ouro, quando era o grande favorito, e ter voltado para casa sem nada.
A forma da derrota foi especialmente dura: o cavalo Baloubet du Rouet, um dos mais vencedores do mundo, se recusou a saltar um obstáculo na final de Sydney-2000, eliminando o conjunto automaticamente. Baloubet virou até motivo de piada por causa do episódio que "ofuscou" inclusive o bronze que ele e Pessoa conquistaram por equipes, em Sydney, dias antes da final individual.
Pessoa considerou levar a Atenas montarias mais novas, ainda que a falta de experiência dos animais em Olimpíadas pudesse lhe custar as chances de medalha. O objetivo seria prepará-los para o Mundial de 2006.
O brasileiro ainda teria outra "derrota" com Baloubet. Na final da Copa do Mundo, em abril deste ano, quando buscava o título que não obtinha desde 2000, se retirou da competição porque o cavalo teve uma alergia lombar. Mas naquela oportunidade Pessoa já tinha decidido que apostaria outra vez no garanhão de 15 anos para os Jogos Olímpicos.
Pessoa precisava da experiência de Baloubet. E também queria lhe dar uma última chance. "Mudei de idéia porque ele começou a ir bem depois de setembro do ano passado. Então resolvi lhe dar mais uma oportunidade, pois ele não deverá ter idade para ir a outra Olimpíada depois de Atenas."
A aposta foi certeira. Pessoa chegou a Atenas como vice-líder do ranking mundial, mas não carregava o favoritismo. Nas duas oportunidades que exigiram a perfeição, o cavalo correspondeu. Primeiro, na disputa por equipes, quando confirmou o país na final.
Na decisão da medalha individual (leia mais), o conjunto carregava oitos pontos perdidos e não podia se dar a chance de mais uma falta. Pessoa e Baloubet foram perfeitos e entraram de vez na briga por medalha.
A prata veio no desempate com Chris Kappler, dos EUA. A montaria do norte-americano sentiu uma contusão e o ginete não completou o percurso, ficando com o bronze.
"Espero que agora o povo brasileiro perdoe Baloubet", desabafou Pessoa, com o indisfarçável sotaque francês.
Nascido em Paris, o cavaleiro de 31 anos nunca viveu no Brasil. É filho de Nelson Pessoa, o Neco, outra lenda do hipismo brasileiro e técnico da equipe brasileira em Atenas. Vive em Bruxelas (Bélgica), onde possui com pai um prestigiado centro de treinamentos.
Sua estréia em Olimpíadas foi em Barcelona-1992. Aos 19 anos foi o cavaleiro mais jovem na competição e terminou em nono. Com as inéditas medalhas por equipes em Atlanta e Sydney, só faltava uma conquista individual nos Jogos Olímpicos para coroar a carreira vencedora. Dela já faziam parte também três títulos da Copa do Mundo (1998, 99 e 00), conquistados com Baloubet, e ainda o Campeonato Mundial (1998).
O cavaleiro, que se tornou pai semanas antes de obter a prata, já fala em parar. Mas não sem antes tentar, outra vez, o esperado ouro. "Depois das Olimpíadas de 2008, vou sentar e determinar a data de parar. Estou há 15 anos no circuito, é uma vida muito intensa. Quero me dedicar mais à família. Devo continuar o envolvimento com os cavalos, com o esporte, mas com certeza não terei isso como o meu dia-dia."
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