Murilo Garavello Enviado especial do UOL Em Atenas (Grécia) Adriana Behar e Shelda perderam a segunda chance consecutiva de conquistar o ouro olímpico. Mas a prata, desta vez, foi uma grande conquista, uma espécie de coroação da carreira da dupla mais premiada do Brasil e uma das mais vitoriosas no mundo -elas colecionam 107 títulos, entre eles cinco do Circuito Mundial e dois do Campeonato Mundial.
Em Sydney-2000, o vice-campeonato foi decepcionante. As brasileiras, então tetracampeãs mundiais -venceram o Circuito Mundial em 97, 98, 99, 2000 e 2001-, eram favoritas absolutas. No auge, perderam a final para as australianas Cook e Pottharst. E choraram no pódio, frustradas. Na Grécia, foi diferente: a dupla comemorou bastante o segundo lugar, primeira conquista relevante após um jejum de três anos sem títulos nos maiores campeonatos internacionais. O rótulo de principais candidatas ao título ficou o tempo todo com as adversárias da decisão, as norte-americanas Misty May e Kerri Walsh. Atuais campeãs mundiais, elas fizeram uma campanha perfeita até o ouro, sem perder um único set. Na final contra Behar e Shelda, deu a lógica: com um bloqueio excelente, uma defesa eficiente e um ataque matador, as norte-americanas passearam em quadra. E confirmaram a superioridade sobre as brasileiras: dos 21 duelos entre as duas duplas, May e Walsh ganharam 14. Antes e depois da partida, a excelente Walsh, grande destaque da decisão com seus bloqueios, prestou tributo às brasileiras. Primeiro, aplaudiu veementemente quando o locutor anunciou a entrada de Shelda. Campeã olímpica, deu longos abraços e murmurou diversas palavras ao ouvido das duas brasileiras. Behar e Shelda completarão nove anos juntas no próximo dia 11 de outubro, numa das parcerias mais longas da atualidade. Sempre tiveram como técnica a carioca Letícia Pessoa. Foi por intermédio dela que a dupla se formou, em 1995. Behar, 35, começou no esporte com a patinação artística. Aos 13 anos, iniciou-se no vôlei e, ainda dentro dos ginásios, passou três temporadas na Europa, defendendo equipes de Portugal e da Itália. De volta ao Brasil, a carioca trocou as quadras pela areia no início da década de 90. Sua primeira parceira foi Margareth, que deu lugar a Ana Richa no Circuito Brasileiro em 1993. Nos dois anos seguintes, jogou ao lado de Magda. Shelda, 31, baixinha (1,65 m) para o vôlei de quadra, viu na praia a alternativa para seguir no esporte, em 1991. Naquele mesmo ano, quase teve de abandonar a modalidade depois de sofrer um acidente automobilístico e machucar seriamente a mão direita. Contrariando a previsão dos médicos, a cearense voltou a jogar seis meses depois. Disputou alguns torneios com Isabel antes de formar a dupla com Behar. O sucesso da parceria foi rápido e estrondoso. No seguinte ao surgimento da dupla, elas obtiveram o primeiro título, no Circuito Brasileiro -a este hoje se somam outros seis. A primeira grande conquista internacional foi o ouro no Pan de Winnipeg-1999, que até hoje é lembrado pela dupla como uma das mais especiais. No mesmo ano, foram campeãs do Circuito Mundial -perdendo apenas em uma etapa na temporada 1998-99- e do Campeonato Mundial. Em 2000, como francas favoritas, não resistiram na final às australianas Cook e Pottharst, que venceram por 2 a 0. No pódio, Behar chorou sem parar. A dupla pediu desculpas à torcida brasileira. No intervalo de quatro anos, novos títulos vieram. E as regras do vôlei de praia mudaram. "Agora elas favorecem as duplas mais altas, o que não é o nosso caso", observou Behar, antes das Olimpíadas de Atenas. Elas chegaram à Grécia como líderes do ranking mundial, mas já não eram favoritas -a liderança se deve principalmente ao fato de elas terem atuado em mais etapas -Misty May, a exemplo das brasileiras Ana Paula e Sandra, sofreu durante boa parte do ano com contusões. Vencendo a decadência, foram implacáveis: ganharam todas as partidas e cederam apenas dois sets até a final. Depois de enfrentar adversárias muito inferiores na primeira fase do torneio, mais longo do que em Sydney, tiveram pela frente as "velhas conhecidas" Ana Paula e Sandra, no mata-mata brasileiro pelas quartas-de-final. Shelda fez a diferença no jogo mais equilibrado até então. No saque, confirmou a vitória sobre as compatriotas. E repetiu a performance na "vingança" sobre Cook, então com a nova parceira, Sanderson, para garantir um lugar na decisão olímpica. Na final, entretanto, não tiveram como vencer o jogo consistente de May e Walsh. Como o UOL Esporte noticiou | | | |