Murilo Garavello
Enviado especial do UOL
Em Atenas (Grécia)
O ouro olímpico era o único título importante que faltava na carreira de Ricardo e Emanuel. Em menos de dois anos jogando juntos, eles conquistaram o Campeonato Mundial e dois títulos do Circuito, inclusive o deste ano, por antecipação -após seis vitórias em 11 etapas. Agora, a carreira de ambos está completa.
O título em Atenas foi a "consagração", nas palavras do próprio Emanuel. E a medalha foi conseguida de forma perfeita: sete vitórias em sete jogos, com apenas três sets cedidos. Na decisão, os espanhóis Javier Bosma e Pablo Herrera não tiveram nenhuma chance: foram derrotados por 21-16 e 21-15. (leia mais sobre o jogo)
A dupla demonstrou na Grécia porque é a melhor do mundo: alia a força ofensiva e a altura de Ricardo, eleito em 2002 o melhor bloqueador do mundo à experiência, visão de jogo e ótima atuação defensiva de Emanuel. A química entre os dois, aperfeiçoada nos dois anos de parceria, tornou-os, quando motivados e focados, quase imbatíveis.
O ouro obtido pela dupla é inédito para o país no masculino -as mulheres foram campeãs em Atlanta-1996, na estréia da modalidade nos Jogos. Ricardo, 29, já havia chegado perto da conquista, em Sydney-2000, com Zé Marco, quando ficou com a prata. Para Emanuel, 31, um dos atletas mais premiados na história da modalidade, chegar à final olímpica foi inédito.
Após os títulos e a seqüência de vitórias nos últimos anos, a dupla brasileira desembarcou em Atenas como favorita. Para superar a pressão, que nas Olimpíadas anteriores foi fatal, a dupla usou o trabalho psicológico que realiza há cerca de um ano com Joyce Sttefanelo, formada em educação física e doutorada em psicologia do esporte. "Ela nos ensinou a ficar mais concentrados, captar momentos bons do jogo, perceber quando o adversário está negativo e aproveitar a chance", dizia Ricardo no início da Olimpíada.
"Depois que passamos a fazer também esse treinamento mental, melhorei muito durante os jogos. Aprendi a esquecer rapidamente os erros -no vôlei você erra muito, então precisa aprender a lidar com isso. Estou muito mais consciente dentro de quadra", afirma Emanuel.
Após o primeiro treino em Atenas, em suas declarações o atleta deu demonstrações práticas de que havia aprendido as lições. Questionado sobre o que poderia atrapalhar a dupla, respondeu: "nada. Viemos para cá sabendo que seria calor, sabendo que, ao contrário do que estamos acostumados, vamos ter intervalos de dias entre nossos jogos. Quando você já sabe como vai ser, não tem do que ficar reclamando. Se adapta e pronto", dizia.
Se, tecnicamente, com uma química perfeita, seria difícil para qualquer dupla enfrentá-los, com essa preparação mental e a determinação que transparecia nas palavras e atuações, o primeiro lugar foi questão de tempo. Ricardo e Emanuel terminaram a primeira fase sem derrotas, com apenas um set cedido. A caminho do ouro ainda coube à dupla "vingar" os compatriotas Márcio e Benjamin, derrotando facilmente os irmãos Laciga, nas quartas-de-final, em uma verdadeira exibição de força. Na fase anterior, os suíços haviam eliminado os brasileiros.
Após um jogo complicado contra outros suíços -Kobel e Heuscher- nas semifinais, Emanuel teve sua revanche particular na decisão. Bosma, um dos espanhóis da dupla vice-campeã, havia eliminado o brasileiro nas oitavas em Sydney, quando Emanuel era parceiro de Loyola e o espanhol jogava com Díez.
Emanuel começou no vôlei de quadra, sem muito sucesso. Sua carreira decolou apenas quando migrou para a praia, no início da década de 90. Com o primeiro parceiro, Aloízio, conquistou em 1994 o título do Circuito Brasileiro -hoje soma cinco.
Antes de formar a dupla quase perfeita com Ricardo, Emanuel teve Loyola, Zé Marco e Tande -todos excelentes jogadores- como parceiros. Não à toa, em toda sua carreira o paranaense ostenta a notável marca de seis títulos do Circuito Mundial e dois do Campeonato Mundial. Só faltava mesmo vencer a Olimpíada, em que ele colecionava decepções: primeiro, com Zé Marco, em Atlanta-1996. Depois, com Loyola, em Sydney-2000.
Com Zé Marco, conquistou o Circuito Mundial em 1996 e em 1997. Ao lado de Loyola, levou o título da competição em 1999. Com Tande, foi campeão em 2001. No fim da temporada seguinte, desfizeram a dupla. Na busca do parceiro ideal, Emanuel encontrou o baiano Ricardo, um jogador que, ao contrário da maioria, já "nasceu" na praia. Em 2003, quando a dupla foi formada, Ricardo também colecionava títulos com ex-parceiros de Emanuel.
Ao lado de Zé Marco desde 1998, chegou a Sydney como favorito. A dupla fez bela campanha, alcançou a final, chegou a liderar o primeiro set, mas em uma seqüência incrível de deslizes, perdeu o ouro para os norte-americanos Blanton e Fonoimoana com a derrota por 2 sets a 0.
Em 2001, já com Loyola, Ricardo conquistou o ouro no Goodwill Games. Eles seguiram juntos até 2002, ano em que o baiano de 2 metros de altura ganhou no exterior o apelido de "Block Machine" (Máquina de Bloquear). No fim de 2002, baseados em João Pessoa (PB), ele e Emanuel passaram a formar a melhor dupla de vôlei de praia do mundo. Leia mais
| Como o UOL Esporte noticiou |  | | | |
