Os instantes finais da carreira não foram de ansiedade para Gustavo Borges. Acreditando que escolheu a hora certa para dizer adeus, o nadador brasileiro deu fim a uma trajetória vitoriosa defendendo o país, que começou em 1991, nos Jogos Pan-Americanos de Havana, e terminou nas Olimpíadas de Atenas, mas sem o mesmo sucesso.
O 12º lugar da equipe brasileira no revezamento 4x100 m livre não foi o resultado que se esperava para fechar a carreira de um campeão. Mas serviu para que ele tivesse a sensação de missão cumprida -em 12 anos de carreira olímpica, Borges soma quatro medalhas e é recordista brasileiro de pódios ao lado do velejador Torben Grael. Sabendo de suas limitações, Borges, que completará 32 anos de idade ao fim do ano, até abriu mão de disputar os 100 m livre, prova em que obteve índice olímpico ainda antes dos Jogos Pan-Americanos de Santo Domingo, no ano passado. Ainda como saldo, leva para sua história pessoal o fato de ser o primeiro esportista brasileiro a ganhar medalha em três Olimpíadas seguidas. O sucesso de Borges só não foi maior porque teve de duelar nos Anos 90 com o russo Aleksander Popov, considerado um dos melhores nadadores de curta distância da história. Mesmo assim, Borges pode ser considerado o atleta que redirecionou a natação brasileira para a volta às conquistas. Antes de ele levar a prata dos 100 m livre, em Barcelona, a última vez que o Brasil havia subido ao pódio foi nas Olimpíadas de Los Angeles, em 1984, quando Ricardo Prado, ex-recordista e campeão mundial, ficou com a prata nos 400 m medley, perdendo para o canadense Alex Baumann. E tudo isso começou em uma prova repleta de confusão. Ao fim dos 100 m livre, a segunda prova mais rápida da natação, em Barcelona-92, o placar não apontava em que posição o brasileiro terminou. Após contestações de dirigentes brasileiros e revisões em videoteipe por parte de fiscais, foi dada a medalha de prata para Borges, que só terminou atrás de Popov. Popov, inclusive, foi o grande entrave de Borges nas competições dos Anos 90. Considerado um dos melhores nadadores de curta distância da história, ele voltou a ganhar de Borges nos 100 m livre em Atlanta-96 (dessa vez, o brasileiro levou bronze). A carreira do russo acabou abreviada por ter sofrido um atentado em que levou uma facada pelas costas -depois disso só voltou a ser campeão em 2003, no Mundial de Barcelona. Já sem o mesmo ritmo que lhe credenciou entre os favoritos nas principais competições, Borges foi para as Olimpíadas de Sydney, em 2000, pensando mais em contribuir com sua experiência. E comandando uma equipe que tinha apenas mais um "medalhão" (Fernando Scherer, em má fase), ele ganhou o bronze no revezamento 4x100 m livre, perdendo apenas para os "imbatíveis" EUA e Austrália. A conquista teve um caráter especial por ter sido a primeira de uma equipe brasileira de natação na história das Olimpíadas. Para chegar ao terceiro lugar, foi utilizada a estratégia de colocar na piscina primeiramente os mais rápidos. Dessa forma, Scherer e Borges foram os primeiros a entrar na água. Depois, vieram Carlos Jayme e Edvaldo Valério, o "Bala", que teve desempenho surpreendente, e fechou o revezamento. Nos Jogos Pan-Americanos, Borges tem história parecida. É o recordista brasileiro de pódios, com 19 medalhas, sendo oito de ouro. Despediu-se da competição no ano passado, em Santo Domingo, com uma vitória "saborosa" sobre a equipe norte-americana no revezamento 4x100 m livre. Fechou sua participação na República Dominicana ainda com duas pratas e um bronze. | | |