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Esporte brasileiro já está na faculdade

Já vai longe o tempo em que se justificava -se é que algum dia já se justificou- a fama de pouco instruídos dos atletas brasileiros. Hoje, a maioria dos esportistas do país que disputarão as Olimpíadas de Atenas são, ou já foram, universitários.

Em mais uma reportagem da série "Raio X da delegação brasileira", UOL Esporte mostra que, de 245 esportistas* que vão representar o país nos Jogos, 148, ou 60%, já passaram por um curso de graduação.

Pelo levantamento feito com toda a delegação olímpica, 206 atletas já completaram o ensino médio. Isso sem contar os sete jovens que ainda não têm idade suficiente para isso. O resultado é que apenas 32 olímpicos, 13% da delegação, abandonaram a escola antes da formatura.

Segundo o IBGE (Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística), a média de escolaridade da população brasileira é bem mais baixa: 12,4 % dos brasileiros são considerados analfabetos e 27,3 % são analfabetos funcionais, com menos de quatro anos de estudo.

Alguns esportes, pela estrutura existente no país, acabaram beneficiados nessa área. O handebol, por exemplo, tem suas principais equipes patrocinadas por universidades. O reflexo disso aparece na seleção brasileira. Somadas as equipes masculina e feminina, apenas dois atletas não passaram por uma faculdade. Isso porque a dupla, Ana Amorim e Bruno Souza, deixou o país antes para jogar na Europa antes disso.

Outro esporte que se encaixa nesse perfil é a ginástica rítmica. Patrocinada por uma universidade de Londrina, as atletas vivem no campus. Da equipe de seis atletas, duas cursam a faculdade, um já tem pós-graduação e as outras três não saíram do ensino médio.

Não pense, porém, que o alto nível de escolaridade está presente em todas as modalidades que vão a Atenas. A equipe de boxe, que será representada por cinco pugilistas, é a menos instruída do grupo. Nenhum deles completou o segundo grau. Os treinos exigentes e as freqüentes viagens são a explicação para isso.

"Eu realmente gostaria de ter estudado mais, mas o boxe não deixou. Minha vaga (na escola pública) era sempre fechada. Eu me matriculava no começo do ano, mas dois meses depois tinha que viajar para um Brasileiro. Quando voltava, a vaga estava fechada", explica o peso-pena Edvaldo de Oliveira, o Badola.

Vôlei, basquete e futebol têm características parecidas. São esportes que, desde cedo, exigem dedicação integral dos jovens. Além disso, quando os atletas chegam às equipes adultas, o calendário, as viagens e até as mudanças de time fazem com que continuar estudando seja uma tarefa complicada. As delegações de vôlei e basquete, por exemplo, têm apenas um atleta que continua estudando.

No time de futebol feminino, apenas oito completaram o segundo grau. Dessas, só uma, a goleira Maravilha, completou o ensino superior. Outras duas começaram, mas abandonaram, faculdades, e só a zagueira Aline continua estudando.

Um outro grupo de olímpicos é formado por atletas de modalidades que não dão condições financeiras de sobrevivência. Esse é o caso da esgrima, do tiro esportivo e do pentatlo moderno. "Eu faço faculdade de administração para garantir meu futuro porque, infelizmente, na esgrima, que eu adoro, não ganho dinheiro", diz Renzo Agresta.

* UOL Esporte entrevistou 245 dos 246 atletas brasileiros que vão às Olimpíadas. André Sá, do tênis, só teve sua convocação divulgada na sexta-feira (6) e não foi incluído no levantamento inicial