O ciclo olímpico que começou após Tóquio, no ano passado, e vai até Paris, em 2024, tinha tudo para ser duríssimo para o esporte brasileiro. Mas os resultados recentes, reforçados por medalhas no último fim de semana, mostram que, de forma geral, as coisas estão dando muito mais certo do que o esperado para o Brasil. A soma de pandemia com a crise financeira e a distância dos grandes centros afastou dos jovens brasileiros a possibilidade de intercâmbio no exterior. Com corte de patrocínios estatais e privados, há menos dinheiro — o que, via de regra, prioriza os medalhões do esporte. Tem sido assim desde o ciclo passado, quando o Brasil obteve poucos bons resultados nos Mundiais de base. Como o Brasil não plantou muita coisa no último ciclo, o natural seria que não tivesse o que colher por agora, exceto um resultado pontual aqui e ali. O que ninguém esperava, nem mesmo o Comitê Olímpico do Brasil, é que bons resultados fossem pipocar em todos os lados. No judô, depois de um ciclo duríssimo, quase sem renovação, o Brasil voltou a ficar nas cabeças do quadro de medalhas de um evento importante. No caso, o Grand Slam de Antalya, na Turquia, realizado no fim de semana. E com pódios de caras novas. O destaque foi Guilherme Schmidt (81kg), de apenas 21 anos, que foi campeão vencendo o primeiro e o terceiro do ranking mundial. Willian Lima (66kg) também lutou muito bem, ficando com a prata depois de derrotar os números 3 e 8 do mundo. Em fevereiro eu escrevi que os dois eram as grandes apostas do judô masculino para Paris. O feito cresce em relevância porque, desde maio de 2019, nenhum homem brasileiro que não fossem Baby, David Moura ou Daniel Cargnin tinha chegado ao pódio em um Grand Slam. Em Antalya, foram três medalhas de uma só vez, porque Rafael Macedo (90kg), outro que também deve crescer no ciclo, foi bronze. No feminino, o Brasil ainda ganhou bronze com Maria Portela (70kg) e com a quase novata Jessica Lima (52kg) — ela tem 24 anos, mas até chegar à seleção no fim do ano passado, só havia disputado um torneio internacional adulto. Na ginástica artística, a seleção feminina ganhou o reforço de Julia Soares, 16 anos, ouro no solo em sua primeira Copa do Mundo, em Baku, no Azerbaijão. Não que ela vire candidata a medalha em Paris, mas sua presença no time pode ser determinante para classificar a equipe para a Olimpíada de 2024, depois de o Brasil ficar fora de Tóquio como time — só Rebeca Andrade e Flávia Saraiva se classificaram, individualmente. No boxe, Luiz Oliveira, o Bolinha, neto do medalhista olímpico Servílio de Oliveira, foi campeão pan-americano no Equador, no fim de semana, vencendo na final Antonio Jahmal, dos EUA, atual campeão mundial. Em um torneio sem atletas de Cuba, o Brasil mais cinco ouros, com Wanderson Oliveira (67kg), Keno Marley (86kg), a medalhista olímpica Bia Ferreira (60kg), Beatriz Soares (69kg) e Bárbara Santos (70g). Os seis são prospectos para Paris, assim como Isaias Filho (80kg), que ganhou prata. Mesmo em modalidades sem grandes novidades, o Brasil tem alcançado resultados com atletas já consolidados que deram um passo adiante. É o caso de Darlan Romani, campeão mundial indoor no arremesso de peso no mês passado, Marcus Vinicius D'Almeida, prata no Mundial de tiro com arco no fim do ano passado, e Talita/Rebecca, dupla que abriu o circuito de vôlei de praia com bronze. Inclua na lista Thiago Braz, Rebeca Andrade, Bia Haddad Maia, Luisa Stefani, todo o pessoal do skate, todo o pessoal do surfe, Caio Bonfim (que ganhou a etapa da República Checa do Circuito Mundial de marcha atlética no sábado), Martine Grael e Kahena Kunze, Hugo Calderano, Ana Marcela Cunha.... hoje, a impressão é de que Paris-2024 pode ser ainda melhor do que Tóquio-2020 para o Brasil. |