UOL Esporte Natação
 
09/11/2009 - 07h38

Thiago Pereira alcança isolamento de Cielo nos EUA: "tenho mais disciplina"

Bruno Doro e Maurício Dehò
Em São Paulo
César Cielo sempre fala que o isolamento de Auburn, uma cidadezinha no meio do nada nos EUA, é um dos fatores que o tornaram o melhor do mundo. Para chegar, também, ao grupo dos grandes da natação mundial, Thiago Pereira imitou o amigo. Deixou Belo Horizonte e foi para a Califórnia.

THIAGO: "A DIFERENÇA É QUE AQUI, O NÚMERO DE COMPETIÇÕES É MAIOR"

  • Reuters

    Quais são as maiores diferenças para o Brasil? A parte técnica é diferente? Ou a intensidade?
    Thiago Pereira: Como eu sempre digo, a maior diferença entre os EUA e o Brasil não é o treinamento, mas o número de competições que se tem aqui. Esse, ao meu ver, é o maior ganho.

    Estar longe do Brasil, isolado, ajuda?
    Acho que vai ajudar bastante. Aqui você consegue fazer as coisas com mais disciplina. Não se preocupa com nada, só em nadar e estudar.

    O que falta, na sua opinião, para tirar a distância para as medalhas olímpicas e em mundiais?
    Só dar continuidade ao meu trabalho. No último mundial, a distância foi de apenas 20 centésimos para a medalha de prata.

    A qual nado você tem se dedicado mais a evoluir?
    Tenho treinado bastante o nado livre. Posso dizer que é o estilo que mais treinei durante o período que estou aqui. É claro que não deixei os outros de lado. Mas, na minha opinião, é o estilo que decide.

    Quando você deixou o país, ressaltou que iria nadar ao lado do Mellouli. Quem mais treina por aí?
    Treino ao lado do Ossama o tempo todo. Mas fora ele, ainda tem o Markus Rogan, a Rebeca Soni e o Kosuke Kitajima. Temos outros grandes atletas por aqui.

    E como é o relacionamento com o técnico Dave Salo?
    Muito bom. Estou gostando bastante dessa nova oportunidade. Estou aqui faz pouco tempo, mas estamos nos dando bem.


Estuda em uma universidade norte-americana e está longe do "oba-oba" que vivia no Brasil. "Aqui, você consegue fazer as coisas com mais disciplina. Você não se preocupa com nada, só pensa em nadar e estudar", explica Pereira. Nada de entrevistas, festas com os patrocinadores, gravações de comerciais, assédios de fãs.

"Todo atleta que chegou ao estágio que o Thiago chegou precisa disso [isolamento] em um ponto. Depois do Pan de 2007, ele passou a ser mais requisitado, dividia seu tempo não mais com os treinos e a família, mas com outra série de compromissos. Foi claro que ele sofreu com isso. Ele está há pouco tempo nos EUA, mas já deu para perceber que esse isolamento teve reflexos na dedicação aos treinos", explica Fernando Vanzella, seu técnico no Minas, que está no Brasil, mas fala semanalmente com o nadador.

Thiago está estudando no Santa Mônica College e treinando no clube Trojans. Seu técnico, Dave Salo, treina alguns dos melhores nadadores do mundo. O brasileiro nada, por exemplo, ao lado do japonês Kosuke Kitajima, lenda do nado peito, de Rebeca Soni, campeã olímpica e recordista mundial, do tunisiano Oussama Mellouli, ouro olímpico dos 1500m, ou do austríaco Markus Hogan, que já foi recordista mundial.

"Ter essa referência é importante. Ele está dentro de um grupo muito seleto de atletas. O Mellouli, por exemplo, é o melhor nadador das provas de fundo do mundo. Ter um desses ao seu lado, nadando, faz muito bem. E a prova do Thiago, os 400m medley, também é longa. Sem contar o Kitajima a toda a experiência de peito que ele tem. Só de estar junto, observando, você já pega algumas coisas", explica Vanzella.

A proximidade com o tunisiano, aliás, é a que mais ajuda o brasileiro. O nado crawl sempre foi a sua maior dificuldade e é justamente nele que ele está trabalhando, observando Mellouli. "Tenho treinado bastante o nado livre. É claro que não deixei os outros de lado. Mas, na minha opinião, é o estilo que vai decidir", conta Thiago.

Esta é a segunda experiência do brasileiro nos EUA. Em 2005, após brilhar nas Olimpíadas de Atenas, ele se mudou para Coral Springs, na Flórida. Estudou por lá, recebeu convites de universidades. Mas acabou não se adaptando e voltou para Belo Horizonte.

Agora, ele e seu técnico, Fernando Vanzella, fizeram uma avaliação cuidadosa. Escolheram onde e com quem o nadador iria treinar. Thiago está na Califórnia há um semestre e se diz adaptado. "Não tenho problema nenhum. É claro que falta do Brasil a gente sempre sente", admite.

Conciliar os treinos com os estudos, porém, tem sido um desafio. "Ele já me avisou que diminui o número de treinos em função da adaptação à faculdade. Aqui, ele treinava dez vezes por semana. Agora, está treinando apenas oito vezes. Mas é tudo parte do processo de adaptação", completa Vanzella.

A distância do Brasil, porém, acaba em breve. Thiago volta em dezembro, para a disputa do Open de natação, torneio que fecha a temporada da natação brasileira.

Compartilhe:

    Placar UOL no iPhone

    Hospedagem: UOL Host