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Zé Colméia se garante na "cova dos leões" e empolga na luta e nas palavras

Rodrigo Ferreira, o Zé Colmeia, mostrou personalidade e mostrou estar pronto pro UFC - Douglas P. DeFelice/Getty Images
Rodrigo Ferreira, o Zé Colmeia, mostrou personalidade e mostrou estar pronto pro UFC Imagem: Douglas P. DeFelice/Getty Images

José Ricardo Leite

Do UOL, em São Paulo

18/05/2020 04h00

A participação brasileira no UFC Jacksonville, no domingo (17), volta com um saldo positivo numérico de duas vitórias e uma derrota. Mas a matemática pura e simples não decifra tão bem o que significa cada uma delas e o que vem pela frente. Assim, fazemos um balanço dos três confrontos da noite envolvendo atletas nacionais no evento da Flórida.

Zé Colméia" empolga na "cova dos Leões"

A primeira luta da noite, ainda no card preliminar, foi a que mais empolgou dentre os brasileiros. Não só por seu desfecho, com uma finalização no segundo round, mas também pelas expectativas do primeiro debute no UFC de um personagem ainda não tão conhecido, o peso pesado Rodrigo "Zé Colméia".

Com 27 anos, idade relativamente jovem no MMA, e apenas sete combates até então na carreira, o mineiro demonstrou personalidade e frieza ao estrear na maior organização do mundo. Tudo bem que um evento sem público poderia esfriar um pouco os ânimos, mas não elimina totalmente o frio na barriga de sua maior prova na carreira até este momento. Mas, passou, com qualidade, na primeira barreira para entrar na "Cova dos Leões" que é fazer parte dos pesos pesados do UFC, e teve validado seu carimbo.

Contra Don´Tale Mayes, fez o que tinha que fazer: pensar na vitória primeiro, de maneira estratégica, e deixar o efeito "impressionar" para segundo plano. Fez um combate seguro, de pouco risco no primeiro round. Ainda assim, se soltando, foi levemente superior ao rival e mais à vontade, pouco a pouco. No fim do round, já conseguiu uma queda para impor seu forte jogo de chão e dar uma amostra do que viria pela frente.

No segundo, mais confiante, conseguiu mais uma derrubada até aplicar o mata-leão. "Confio bastante na minha trocação, mas a estratégia era levar para o chão e fazer o que tinha que ser feito dentro da minha área de conforto para vencer." A frase após o combate resume bem o quão cirúrgico Zé Colméia foi na aplicação, no sentido técnico e disciplinar, do que tinha que ser feito em seu primeiro passo no UFC. E, agora, o grande segredo, é respeitar cada passo.

Não foram poucos lutadores brasileiros que decepcionaram expectativas altas não por eles colocadas. Erick Silva e Charles do Bronx são alguns dos exemplos talentosos que desde suas estreias conviveram com o rótulo de grandes esperanças de cinturão antes mesmo de darem os outros passos rumo a esse caminho; e isso é perigoso.

Rodrigo, ou "Zé", tem que pensar no passo seguinte, ainda muito longe dos finais, como ranking top e disputa de cinturão. E, mais uma vez pareceu ter boa noção estratégica disso em uma das respostas após o combate. Mostrou personalidade ao não fugir da pergunta sobre preferência a um futuro rival. "Chase Sherman. Ele venceu no último UFC, e eu venci agora, acho que é uma boa luta", declarou.

Sherman, para quem não sabe, reestreou no UFC na vitória por nocaute sobre Isaac Villanueva, na última quarta (13), e não está entre os 15 melhores que ocupam o ranking dos pesados. É uma boa pedida, de poucos riscos, pra quem ainda é jovem e tem pelo menos sete anos de alto nível físico pra se testar. Zé Colmeia respeitou o passo, e mandou bem na resposta, em personalidade, e boa escolha estratégica. Se rolar esse combate, sou mais o brasileiro.

Edson Barboza liga sinal de alerta após derrota polêmica

Sem pachequismo algum, não concordei com a decisão dividida dos juízes na estreia de Edson Barboza nos penas. Para mim, foi clara sua superioridade no primeiro round e derrota no terceiro, mas entendo que no segundo desferiu golpes mais contundentes e parecia mais inteiro do que Dan Ige.

Passa que não é de hoje que estamos carecas de saber que há divergência de critérios para o valor de cada ação na cabeça dos árbitros laterais na hora de pontuar. Edson levou mais golpes, mas os seus pareciam mais fortes e castigadores do que os de Ige. Concordo com as falas de Dana White em sua análise.

À parte do resultado oficial, o brasileiro teve uma boa atuação dentro do corte de peso e mostrou pontos positivos, como uma aparente melhor absorção dos golpes nessa categoria. A vulnerabilidade de seu queixo sempre foi um ponto contestado quando ainda estava nos leves. No domingo, absorveu algumas pancadas, entre elas uma joelhada no primeiro round, de grande impacto.

Fato é que agora tem de ligar o sinal de alerta após três derrotas seguidas. É verdade que sua passagem no UFC é marcada por duelos contra muitos casca grossas, como Khabib Nurmagomedov e Tony Fergurson, entre outros, mas precisa de uma boa e convincente vitória na próxima luta em sua categoria para recuperar os trilhos. Fisicamente, gostei da performance ao descer de peso.

Gadelha supera knockdown e pede Sparza

Claudia Gadelha levou susto na vitória em decisão dividida sobre Angela Hill. Não só pela famosa decisão nas mãos dos árbitros, mas por suas condições físicas no terceiro e derradeiro round darem a sensação de estar claramente pior do que a adversária.

A contundência que teve no primeiro round com a queda e ground and pound sobre a americana aparentava uma tranquilidade que pararia por ali. No segundo levou até knockdown, e no seguinte assustou com os jabs e diretos sofridos, mas ao menos mostrou valentia na absorção dos golpes em estado tão cansado. Também concordei com a decisão dos juízes nessa.

Mostrou que continua com queixo duríssimo e sem nunca ser nocauteada na carreira -todas suas derrotas foram em decisões dos juízes. Para tirar a limpo uma dessas, mas no caso, uma vitória, pediu um novo embate contra Carpa Esparza, a quem venceu por decisão dividida há dois anos.

Confira todos os resultados:

Peso-pesado: Alistair Overeem venceu Walt Harris por TKO no 2ºR;
Peso-palha: Cláudia Gadelha venceu Angela Hill por decisão dividida;
Peso-pena: Dan Ige venceu Edson Barboza por decisão dividida;
Peso-médio: Krzysztof Jotko venceu Eryk Anders por decisão unânime;
Peso-pena: Song Yadong venceu Marlon Vera por decisão unânime;
Peso-meio-médio: Miguel Baeza venceu Matt Brown por KO no 2ºR;
Peso-médio: Kevin Holland venceu Anthony Hernandez por TKO no 1ºR;
Peso-pena: Giga Chikadze venceu Irwin Rivera por decisão unânime;
Peso-pena: Nate Landwehr venceu Darren Elkins por decisão unânime;
Peso-mosca: Cortney Casey finalizou Mara Romero Borella no 1ºR;
Peso-pesado: Rodrigo 'Zé Colmeia' finalizou Dontale Mayes no 2ºR.