Ex-goleiro do Chelsea, paranaense vira peso pesado no MMA e sonha com UFC
Quando os ventos da mudança sopram alguns constroem muros. Outros constroem moinhos de vento. O goleiro Ricardo Prasel parou de jogar precocemente sofrendo com dores crônicas no quadril e achou que nunca mais alcançaria o estrelato através do esporte.
Paranaense de Guarapuava, uma cidade gelada no centro-sul do estado, ele tinha sido contratado pelo Juventus de São Paulo depois que um olheiro encontrou seu perfil no Orkut, cheio de fotos de Ricardo fazendo defesas mirabolantes. Seu auge aconteceu logo em seguida, em 2009, quando um empresário europeu o levou ao Chelsea.
Em Londres, foi aprovado nos primeiros testes e assinou contrato de experiência por seis meses. Viveu um sonho ao treinar todos os dias ao lado de alguns dos melhores jogadores de futebol da época: Didier Drogba e Michael Ballack entre eles.
Foram apenas seis meses nos quais ele atuou em três partidas pelo time B. De lá foi pra Bélgica. E na Bélgica, titular na segunda divisão, acabou diagnosticado com uma bursite crônica no quadril, consequência de constantes quedas no gramado. As dores se tornaram um pesadelo intratável, e Ricardo se aposentou. Ele tinha 21 anos.
Foi um trauma. Um jogador de futebol morre duas vezes, a primeira quando para de jogar. Sua vida tinha sido moldada desde a infância para uma carreira nos campos. De repente, Ricardo estava em casa com uma vida inteira pela frente e sem saber o que fazer com ela.
Por influência do irmão, começou a treinar jiu-jitsu.
No começo, não tinha grandes pretensões. As cores das faixas que enrolavam seu quimono foram ficando mais escuras. Há três anos, entrou de cabeça no MMA. Com 27 anos, 2,05 metros, 109 kg e a barba ruiva, Ricardo diz acreditar ser descendente de vikings. O sobrenome Prasel delata a ascendência germânica. Seu corte de cabelo moicano, pintado com as cores da bandeira alemã, indica a vontade de ser notado no meio de anônimos.
Ele já fez nove lutas até aqui e conseguiu nove vitórias, todas por finalização ou nocaute, e todas no primeiro round. Há duas semanas conquistou o cinturão peso pesado do Aspera FC, um dos maiores campeonatos do Brasil. Diz estar em negociação com o UFC. Acredita que agora chegou sua hora.
“Eu sempre falo que se fosse para escolher entre jogar na seleção brasileira de futebol ou lutar no UFC, eu prefiro o UFC. A adrenalina que eu sinto quando entro lá é uma coisa que eu nunca tinha sentido antes. Eu sou muito fã dos vikings, vejo a série, quero saber de tudo que é medieval, tudo que é sobre gladiadores, tudo isso. No MMA é onde eu fico mais perto de sentir o que eles sentiam.”
Assim é o resumo que Ricardo “Alemão” Prasel faz de sua carreira:
“Aconteceu como tinha que acontecer, pra eu ter uma história pra contar. Eu jogava nas escolinhas do Atlético-PR e depois no Joinville. O meu primo tinha uma churrascaria e um funcionário era amigo dos caras do Juventus. Esse cara mostrou as fotos do meu Orkut. Os caras gostaram e pediram meu DVD de goleiro, que eu guardo até hoje.
Fui contratado pelo Juventus. Isso foi em 2008, eu tinha 18 anos. Fomos eliminados já na primeira fase da Copa São Paulo [de júniores], mas eu já treinava com os profissionais. Meu empresário era italiano, e ele tinha um olheiro aqui no Brasil que fez toda a ponte com a Inglaterra.
Foi o momento ápice da minha carreia. A sensação de você entrar no Chelsea! Qualquer jogador queria viver isso, e eu tive a oportunidade de conhecer esse clube. Joguei pelo time B, mas treinava todo dia com os principais. Até me surpreendi de tão gente boa que eles eram porque os caras são tudo astro, mas todo mundo me deu moral, me acolheu.
Fiz três jogos no time B, atuei com o Alex zagueiro, e com o Mineiro, que não estava sendo muito utilizado nos jogos do time principal.
Não cheguei a fazer um contrato normal com o Chelsea porque estava numa fase de experiência. Eu passei nos testes e fui remunerado nesse período, mas era um contrato de experiência. Quando deu seis meses, como eu não tinha passaporte europeu ainda, teria que ser inscrito como jogador extra-comunitário.
[No futebol europeu, os clubes têm um limite de jogadores não europeus que podem ter em seus elencos. Por isso, a estabilização no continente é mais difícil para quem não tem passaporte europeu]
Então fui para Bélgica.
Fiquei dois anos no Royal de Liège, que na época estava na segunda divisão. Aí comecei a ter meus problemas. Fui pra ser titular, mas atuei poucos jogos, não conseguia mais jogar por causa da lesão.
Resolvi parar. Eu tinha de 20 pra 21 anos.
Foi traumático pra minha família toda. Meu pai sonhava com isso. Ele já é falecido e era o cara que mais queria que eu fosse além. A gente achou que tinha acabado pra mim, que eu não teria a chance de ser reconhecido pelo esporte. Hoje eu luto por ele, ele é a minha inspiração.
A bursite não me atrapalha na luta porque raramente recebo chutes na região do quadril. Entro no octógono sem dor. Pintei o cabelo como uma forma de ser lembrado, fica mais fácil das pessoas me reconhecerem. Comecei a sonhar com voos maiores. Meu empresário está conversando com o UFC. Acho que chegou a hora.”
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