Demian resgata "filosofia Gracie" para trazer cinturão inédito ao Brasil
Você sabe por que o UFC foi criado? Muita gente não lembra, mas, em 1993, a organização era fundada por Rorion Gracie com apenas um objetivo: provar que o jiu-jitsu era capaz de superar qualquer outra arte marcial, independentemente de tamanho ou peso dos lutadores. E conseguiu com Royce, o menor dos irmãos da tradicional família, vencendo três dos quatro primeiros torneios do evento. Depois de quase 24 anos, essa filosofia se perdeu, exceto por um atleta: Demian Maia. No próximo sábado (29), o brasileiro volta ao octógono para mostrar ao mundo que a arte suave ainda pode prevalecer e trazer um cinturão inédito ao país.
Demian Maia é um dos poucos, para não dizer o único, que claramente ainda luta por uma modalidade. E não tem vergonha disso, muito pelo contrário. Resgatar a “filosofia Gracie” é um motivo de orgulho para o brasileiro, que venceu nove das suas 19 vitórias no UFC por finalização. O adversário deste sábado será Tyron Woodley, campeão do meio-médios (até 77 kg), na segunda luta mais importante do UFC 214, em Anaheim, Los Angeles (EUA).
“Eu não vejo alguém que busca lutar o jiu-jitsu, que quer provar algo. Hoje, não vejo ninguém defender [a modalidade] igual eu, mas pode aparecer mais gente. Depende muito do que a empresa quer. Se eles quiserem estimular esse tipo de lutador, que é especialista, é só dar oportunidade para esse tipo de lutador. [O UFC] foi criado pela família Gracie como uma forma de marketing do jiu-jitsu brasileiro, e, obviamente, como qualquer outra empresa, quando é vendida, vai mudando o direcionamento dela. E foi isso que aconteceu”, explicou ao UOL Esporte em um almoço com jornalistas em São Paulo.
“Eu, como público, acho interessantíssimo ver [especialistas]. Acho muito legal aquele negócio de quando eu era moleque: 'ah, esse é do caratê, esse do jiu-jitsu...'. É tudo como você vende o negócio. Eu acho legal ver o Lyoto [Machida] lutar, sempre achei. Pessoal reclamava que ele fugia da luta, mas era muito interessante ver o estilo dele [do caratê]”, acrescentou Demian, antes de comentar sobre a ‘massificação’ do UFC.
“Você ficar vendo o mais do mesmo, uma maneira massificada, fica chato alguma hora. É legal você ver um cara com uma arma diferente. Pegar alguém como wrestling, que dá só ‘quedão’... É interessante ver esses conflitos de estilos. Acho que todo mundo gosta disso. Não sei por que, mas o UFC foi para um caminho de massificação em tudo: uniforme, jeito de lutar... Tudo massificado. Acho que isso é uma forma de ver, mas perde um pouco de personalidade”, completou.
Para ele, essa ‘massificação’ pode ter sido um dos motivos para que sua oportunidade de uma luta pelo cinturão tenha demorado tanto.
“Acho que cai no gosto pessoal, não sei de quem, mas de lá de dentro... No fim das contas, de repente, o cara tem uma concepção de que o jogo de porrada é melhor para a empresa, mesmo que seja uma luta chata. Botou na cabeça que (meu estilo) não vende e não vai vender. Por maior que seja a empresa, por mais profissional que seja, ainda tem essas coisas. Ainda tem pessoas por trás que ainda tomam decisões pela emoção”, disse.
Demian Maia ainda fez questão de ressaltar a importância de se tornar um campeão sendo um legítimo representante do jiu-jitsu brasileiro.
“Isso, com certeza, acho que é principal. Importante mostrar que tem outro caminho, não só a porradaria. Mesmo como business é interessante. Acho que você ter mais Lyotos, mais Demians ou especialistas, te dá a possibilidade de criar cards mais interessantes. Hoje, as pessoas têm personalidades diferentes, mas o estilo de luta parecidos. Isso é legal para o público, quando um cara faz muito bem uma coisa, você quer ver, você gosta de ver aquilo. Quando ele é mediano em tudo [todas as modalidades], é menos interessante”.
ARRANCADA NOS MEIO-MÉDIOS
Apesar de chegar a disputar o cinturão dos pesos-médios (até 84 kg) há sete anos – perdeu para Anderson Silva –, foi nos meio-médios (até 77 kg) que o brasileiro realmente conseguiu encaixar seu jogo. Nesta divisão desde 2012, foram 12 lutas, com apenas duas derrotas e impressionantes 10 vitórias, sendo as últimas sete de maneira consecutiva. Para ele, o principal fator para essa melhora foi uma mudança em sua equipe, que, consequentemente, alterou algumas coisas em seu treinamento.
"Muita gente vai falar que a mudança é por causa do peso, do tamanho. Mas eu não acho. O principal é a equipe que eu consegui montar. Quando eu baixei, o Edu (Alonso) virou meu head coach. E a gente continua junto desde aquela primeira luta (2012). O Edu conseguiu ver coisas que as pessoas não vêem. As pessoas não entendem o que é lutar jiu-jitsu no MMA. Mesmo o cara que viveu a vida inteira no jiu-jitsu, campeões mundiais... Os caras falam coisas que faz você pensar: 'ele está pensando da maneira errada, não é dessa forma que é melhor jeito'. E o Edu (Alonso), sem treinar jiu-jitsu, conseguiu fazer isso. A gente conseguiu montar uma equipe boa, fazer sempre um tipo específico de treinamento, aperfeiçoar e melhorar, melhorar e melhorar”.
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