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Belfort diz que abriria mão do TRT por luta pelo cinturão, mas vê injustiça

Maurício Dehò

Do UOL, em Boca Raton (EUA)

31/10/2013 06h00

Defendido por poucos e atacado por muitos, inclusive o chefão do UFC Dana White, o TRT (tratamento de reposição de testosterona) é um tema que sempre ressurge, a cada luta com um atleta que precisa de seu uso. É o caso de Vitor Belfort, um dos que mais escutam as críticas por nivelar seus níveis hormonais por meio deste método.

Próximo da luta com Dan Henderson, que também usa a medicação, e na expectativa de fazer uma luta por cinturão, o carioca falou ao UOL Esporte sobre o tema. Eles se encaram no dia 9 de novembro, em Goiânia, e o brasileiro sabe que uma vitória pode levá-lo à sua meta: a disputa de cinturão dos médios do Ultimate. Vitor admitiu que, caso ele tivesse um convite para lutar pelo título, mas fosse exigido que suspendesse o TRT, aceitaria. Mas vê injustiça nesse cenário.

Um dos grandes problemas com o TRT é que seu uso é considerado doping em outros esportes. Além disso, se um lutador se dopou durante sua carreira, uma das consequências pode ser a diminuição no nível de testosterona mais tarde. Portanto, uma reposição hormonal feita hoje pode ser culpa de um uso de esteroides no passado.

No caso de Belfort, ele alega um hipogonadismo. Diz que soube do problema há cerca de três anos e que foi aconselhado por um médico a repor a testosterona a um nível “normal”, para que pudesse treinar normalmente, sem prejuízo. “Eu não estou a mais (com o TRT), eu estou igual”, diz o carioca, afirmando que seu nível do hormônio é como o dos outros atletas, e não superior.

Confira a entrevista com Vitor Belfort, que explica mais da terapia, fala sobre exames antidoping e também sobre sua relação com o UFC, após algumas divergências em público com Dana White.

UOL Esporte: Vitor, você e Dan Henderson vão se enfrentar, e ambos fazem uso do TRT. É uma boa oportunidade para abordar mais o tema e desmistificar, explicar melhor para o público?
Vitor Belfort:
Eu acho que já desmistificou. O grande problema é quando o cara perde. O cara perde e fica dando desculpa, em vez de pegar, treinar e ganhar. Se você tem alguma coisa, precisa de alguma coisa, faça da maneira correta. É o que faço. Exame de sangue toda hora... É um processo que você tem de fazer.

Quando você começou a fazer esse tratamento?
Faz uns três anos. Foi quando eu fui fazer uma série de exames de sangue e eles relataram que havia essa falta (de testosterona). O médico estabeleceu: “Vitor, precisamos fazer uma coisa, não sei se você está de acordo, mas é importante você fazer isso”. E foi o que foi feito.

Se chegassem a você com a proposta de uma luta pelo cinturão, mas houvesse a exigência de que o TRT fosse interrompido, por conta de alguma comissão atlética, ou outros motivos, você aceitaria?
Eu já falei que, se isso fosse de acordo, sim. Mas já me falaram que esse não é o problema. Eles (UFC) não querem que eu entre de uma maneira desleal. O UFC me falou: ‘você não pode lutar em desvantagem’. Na realidade, eu não estou a mais (com o TRT), eu estou igual. O tratamento é isso. O grande lance que as pessoas não entenderam é que sou o único cara que faz o teste de doping no exame de sangue. Muitos lutadores não fazem, muitos usam muitas coisas ilícitas e não são testados, como eu sou.

Você é testado mesmo fora do período de competição?
Meu nível de teste é muito grande, é durante o treinamento, não é só na luta. São semanas, meses antes, então às vezes o cara fica usando o esteroide e, na realidade, ele usa durante o treinamento. Eu não. Tenho que estar o tempo inteiro no nível normal. É uma coisa para eu estar em justiça com o cara. O esporte é isso, você não pode estar numa posição que tenha uma vantagem sobre um rival.

Então, você aceitaria uma luta por cinturão sem uso de TRT?
Sem problema nenhum. Se acharem justo eu ficar em desvantagem, tudo bem...

Faz quatro anos que você voltou ao UFC. O que mudou no Vitor que chegou vencendo Rich Franklin no UFC 103 para o de hoje?
O que mudou mais foi a dedicação, são as prioridades. A gente vem evoluindo, essa é a tendência do ser humano, quanto mais velho, mais sábio, mais experiência. Se eu conseguir antecipar minha experiência, minha sabedoria, isso me faz ter um vantagem em relação aos meus oponentes.

Aos 36 anos, o corpo já não é mais o mesmo. Como você se sente?
Na verdade, o corpo sempre falha. Quando o corpo falha, o que determina é a mente. É desta maneira que devemos entender, que a mente é nosso músculo mais forte.

ENTENDA MAIS DO TRT

Depois da última vitória de Belfort, no nocaute contra Luke Rockhold, o blog Na Grade do MMA entrevistou o Dr. Márcio Tannure, diretor médico da Comissão Atlética Brasileira de MMA (CABMMA). Ele explicou o processo de liberação do TRT de Vitor e esclareceu alguns pontos.

“Nós participamos do processo de TRT do Vitor, mas não somos nós que indicamos seu uso ou não, quem indica isso é o medico dele, apenas avaliamos se realmente nos documentos apresentados existe comprovadamente essa necessidade clínica. O Vitor foi dosado mensalmente para ver se seus níveis encontravam-se dentro dos limites normais e todos estavam dentro da normalidade. Foi feito um exame de sangue após a luta para nova checagem”, disse ele. O UFC Jaraguá, não teve nenhum caso de doping.

Você e Dana White tiveram algumas divergências em público, mas você impôs sua vontade de não lutar como peso médio, a menos que seja pelo cinturão. Está satisfeito?
Já passou tudo isso. Eu não tenho o que falar, só tenho a agradecer ao UFC, por ele me dar as oportunidades de estar onde estou. Se não fosse a disponibilidade deles de acreditar e apostar no que eu fui e sou capaz. Agradeço ao Lorenzo, ao Dana e à organização.

Você chegou a se desculpar com Dana, também publicamente...
O grande segredo da vida é reconhecer seu erro. A única coisa que posso mudar sou eu mesmo, não posso mudar os outros. É uma organização do qual sou atleta e estou lá para trabalhar com eles. O Dana fala o que pensa, ele é muito aberto, é preto no branco. Isso é bom, facilita.

E encarar Dan Henderson, que é um rival que você pediu, é especial?
Nós não vimos nenhuma luta no peso que faria sentido, e o Dan Henderson é um cara que já me venceu, muito experiente, já ganhou dos melhores do mundo... Então, seria uma revanche que traria algo importante enquanto espero o vencedor da luta pelo cinturão e aguardo o UFC me dar essa luta para eu partir para dentro. A montanha que está na frente é Dan Henderson e é nessa montanha que estou pensando.

 

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