Minotouro, o técnico Dórea e Júnior Cigano (d) na academia Champion, em Salvador |
Até os 21 anos, Júnior dos Santos nunca havia se aventurado no mundo das lutas. Seis anos depois, Cigano é uma promessa brasileira no UFC entre os pesos pesados, com cinco lutas e cinco vitórias. Foram quatro nocautes, sempre mostrando a força de seu boxe, forjado na academia de Luiz Dórea, o mestre de Acelino Freitas, o Popó, em Salvador (BA). Hoje, já se encaminha para sua primeira chance de deter um cinturão e não se intimida: “venceria [Brock] Lesnar na minha velocidade”.
Lesnar é um cara muito forte, destaca-se pelo peso e a força e me agradaria muito lutar contra ele. Acho que na minha categoria o que se sobressai em mim é a velocidade. Eu usaria isso contra ele.
A história de Cigano não começou na Bahia. Ele é natural de Caçador em Santa Catarina, na divisa com o Paraná. Lá, até conheceu o judô e a capoeira, mas não levou os esportes a sério. Aos 18 anos, resolveu mudar a vida de ponta-cabeça. Tinha alguns amigos em Salvador e partiu para a Bahia.
Para se sustentar, o peso pesado de 1,93 m e 108 kg acabou virando garçom, em busca de boas oportunidades. Antes de chegar às lutas, ainda conheceu sua mulher e com ela abriu uma loja de brinquedos.
“Infelizmente a loja começou a ir mal e, em 2005, com 21 anos, eu comecei a treinar”, lembra Cigano, durante um treino de boxe na academia Champion, de Dórea, no bairro Cidade Nova. Ele entrou em uma academia e passou a se dedicar ao jiu-jitsu, com o professor Yuri Carlton. A ligação com o esporte foi instantânea.
“Eu já era bastante grande, forte para o treino, e o professor Yuri viu que eu aprendia rapidamente e gostou do que eu apresentava. Mas eu não gostava do MMA, cai meio de paraquedas”, conta ele, que hoje vive do esporte. “Tinha um treino à tarde para o pessoal do vale-tudo, ele me convidou e acabei gostando.”
Em 2006 veio a maior mudança para o lutador principiante. Ele foi apresentado a Luiz Dórea, famoso por levar Popó ao título mundial de boxe. Além desta modalidade, Dórea já começava a evoluir na preparação de lutadores de vale-tudo, sempre com ênfase no pugilismo, junto aos seus pupilos no boxe Rodrigo Minotauro e Rogério Minotouro, grandes ídolos do catarinense. Colocado para se testar contra um veterano peso pesado, estreou com um nocaute “na raça”.
O diferencial de Cigano, segundo o próprio lutador, é sua força no boxe. Apesar de também se dedicar a outras modalidades, como o wrestling e o muay thai, treina no quadrilátero todos os dias, intensificando a variedade de artes quando os combates se aproximam. "O boxe está nas pernas, na movimentação e em como você se põe para golpear. Nas minhas lutas, eu me coloco. Não é só a força do murro, eu tento me posicionar bem para ter um golpe bom”, explica ele.
Acostumado a treinar Minotauro e Minotouro desde o início deles, ainda no boxe, Luiz Dórea vê em Cigano uma nova chance de formar um campeão longe no boxe, em sua investida no vale-tudo, modalidade à qual se dedica junto ao pugilismo.
Como você vê o Cigano atualmente?
Dórea: Não tenho dúvidas de que o Cigano será mais um campeão pelo Brasil. No passado, ele era esperança, mas hoje é uma realidade no UFC.
Que características você destaca nele?
Dórea: Ele é um peso pesado com muita habilidade nas mãos, assimila as técnicas com facilidade durante os treinos. E não só no boxe. Ele também é muito bom no jiu-jitsu e no wrestling.
E como é a preparação no período entre lutas?
Dórea: A luta está bem longe ainda, então seguimos dando ênfase ao boxe. Quando chega mais perto, começamos a misturar os estilos.
Com esta filosofia compartilhada com Dórea, ele chega a 12 lutas no vale-tudo. Destas, perdeu apenas uma, em 2007. Desde então triunfou em seis oportunidades, sendo cinco no UFC e incluindo vítimas como Cro Cop, na edição 103 do evento.
A série invicta e os resultados expressivos já colocam o peso pesado entre os lutadores que almejam o cinturão que foi de Minotauro interinamente. Atualmente, a disputa é entre Brock Lesnar e Shane Carwin. O segundo é campeão interino, devido a um período de inatividade de Lesnar, por doença. Eles se enfrentam no UFC 116, em 3 de julho nos EUA.
Apesar de Cigano não escolher adversários, ele comenta que vê chances de ficar com o cinturão, mesmo enfrentando gigantes como Lesnar. “Lesnar é um cara muito forte, destaca-se pelo peso e a força e me agradaria enfrentá-lo. Acho que na minha categoria o que se sobressai em mim é a velocidade. Eu usaria isso contra ele”, analisa Cigano, que ainda aguarda outros lutadores na “fila” pelo cinturão, como Cain Velsaquez.
O próximo combate, ainda não oficializado pelo UFC, deve ser na edição 117 do evento, diante do norte-americano Roy Nelson, de 33 anos. O provável oponente tem cartel de 19 lutas, com 15 vitórias e quatro reveses. O UFC 117, em agosto, terá Anderson Silva na luta principal, contra Chael Sonnen.
“Eu estou muito confiante, num momento especial da minha carreira e é uma oportunidade que vou aproveitar”, conclui Cigano, de olho no cinturão que poderia colocar o Brasil com três reinados simultâneos no UFC.
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