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Lutador vende jujuba no farol para bancar torneios de jiu-jítsu na Europa

Lutador de jiu-jistsu, Leonardo Novaes trabalha no farol para bancar campeonatos na Europa - Arquivo pessoal
Lutador de jiu-jistsu, Leonardo Novaes trabalha no farol para bancar campeonatos na Europa Imagem: Arquivo pessoal

Bernardo Gentile

Do UOL, no Rio de Janeiro

20/02/2021 04h00

Leonardo Novaes aprendeu desde cedo que a vida não é fácil quando a grana é curta. Pai aos 15 anos e envolvido no mundo das drogas, ele foi apresentado ao jiu-jítsu logo após o nascimento de sua filha —Maria Clara. A mentalidade do esporte mudou sua vida e o colocou em um caminho que enche sua família de orgulho. O lutador, além de tudo, descobriu que é muito bom no que faz e até já conquistou brasileiro e sul-americano na sua categoria —faixa roxa.

O sonho de Leonardo, de 20 anos, é disputar com os melhores e, para isso, quer participar de campeonatos na Europa. Há um empecilho evidente: dinheiro. Para isso, ele decidiu vender jujuba no farol, no Guarujá, onde reside. O objetivo é juntar a grana necessária para arcar com os custos dos desafios que tanto deseja.

Leonardo Novaes, lutador, vende jujuba no farol para bancar campeonato na Europa - Reprodução/Instagram - Reprodução/Instagram
Imagem: Reprodução/Instagram

"Eu tinha me afastado dos campeonatos oficiais por falta de tempo. Em 2019, competi duas vezes no ano por causa do trabalho. Até que um dia, acompanhei amigos que vendiam jujuba no semáforo para levantar uma grana. Fui ajudar e na lábia consegui vender toda a jujuba. Foi assim que começou. Minha meta era o Europeu, em Roma, no meio de 2020. Mas ocorreu a pandemia e mudou todos meus planos. As fronteiras estão fechadas. Só entra brasileiro que mora fora do país. Está tudo fechado", disse Leonardo Novaes ao UOL Esporte.

"Pretendo competir na Europa toda. Em cada país que for, pretendo passar pelo menos dois meses. Arrumar uns contatos para conseguir me hospedar e trabalhar, de faxineiro, qualquer coisa, até disputar o campeonato. Assim consigo ganhar em euro, que vale mais que o real. Isso é para conseguir juntar mais dinheiro e seguir competindo. Mas eu só vou conseguir botar esse plano em prática quando resolver a pandemia e reabrir tudo. Estou só arrecadando e esperando essa oportunidade. Assim que voltar ao normal eu vou para lá", completou.

Essa é apenas a primeira parte do sonho que faz parte de um pacote ousado. Para Leonardo, o auge seria ser campeão e ostentar o cinturão do UFC. Ele, inclusive, iniciará sua trajetória no MMA no próximo dia 28 em um campeonato amador. Já são quase três anos treinando artes marciais mistas, mas somente agora surgiu a oportunidade de debutar na nova modalidade.

"Sou novato no MMA. Vou ter minha primeira chance agora. Se eu tiver a oportunidade de lutar lá no exterior, claro que vou fazer. O foco agora é no jiu-jítsu, onde já percorri uma estrada. Mas o MMA é uma porta que pretendo ultrapassar mais para frente, sem dúvidas. Sempre foi meu sonho, meu desejo. Chegar no UFC e ser campeão, estar lutando com os monstros, pegar aquele cinturão e trazer para o Brasil. Mostrar para o pessoal que é do semáforo que saí e que é possível. Mas o jiu-jítsu foi o caminho que me mudou, me transformou numa boa pessoa, [me levou] a ganhar campeonatos importantes. Mudou minha vida. Sabem quem eu sou por causa do jiu-jítsu", completou.

E, de fato, o esporte teve um papel social na vida de Leonardo. Ele mesmo se definia como uma "sementinha do mal" quando era mais novo. Leonardo se envolvia em brigas frequentemente, o que o fez, inclusive, ser expulso de duas escolas. Amigos indicaram o jiu-jítsu que virou realidade através de um professor de história que fazia jornada dupla. Dizer "sim" ao esporte abriu novas portas e o tirou do caminho das drogas.

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Imagem: Arquivo Pessoal

"Tinha em mente ser jogador de futebol, mas vi que seria muito difícil dar certo. Migrei para o mundo da luta porque estava me metendo com coisa errada. Influências negativas que estavam muito presentes na minha vida. Estava me envolvendo no mundo errado e meus amigos da escola me chamaram para conhecer o jiu-jítsu. Meu professor de história no colégio virou meu professor do jiu-jítsu também. Eles me mostraram o que eu estava fazendo de errado e me ajudaram. Passei a ganhar campeonatos e tudo mudou na minha cabeça", afirmou.

Leonardo sonha alto e sabe disso. Tanto que estabeleceu para si uma rotina bastante puxada. Só assim ele terá chance de tornar tudo realidade. Folga? Somente aos sábados, quando arranja um tempo entre os treinamentos para se encontrar com amigos e passear com a namorada.

O primeiro treino do dia é bem longe da casa da minha namorada, onde fico. É 1h30 de pedalada para chegar 11h na academia e treino até 12h. Aí vou para o semáforo, onde fico das 13h às 17h30. Depois tem o primeiro treino de MMA, das 18h às 19h. Das 19h às 20h, eu treino jiu-jítsu. Depois tem muay thai até 21h. E finalizo com musculação até 22h. Ainda tenho mais 1h30 de bicicleta até voltar para casa. É uma rotina bem puxada.

Essa rotina fez com que os seguidores pedissem um canal no YouTube com os bastidores e detalhes da saga de Leonardo. Ele criou o "Atrás do Sonho" há poucas semanas e pretende manter tudo atualizado com conteúdos sobre a sua vida.