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Maurício Dehò/UOL Esporte

Dórea posa junto ao cage usado para treinos de MMA na Champion, em Salvador

29/07/2010 - 07h00

Mentor de Popó vira 'mago do boxe' para estrelas do UFC

Maurício Dehò
Em São Paulo

Luiz Dórea divide seu tempo. Logo no início da tarde, parte para seu emprego oficial, como um respeitado investigador de polícia. Mas é pela manhã que faz o que realmente gosta. Em cerca de três horas, grita, sua e apanha de marmanjos suados e garotas musculosas. Mas tudo bem. É só a rotina de um técnico de boxe que ficou famoso por levar Acelino Freitas, o Popó, ao título mundial, e que tem aproveitado o crescimento do MMA para retomar seu melhor momento e dar nova direção à carreira.

DO BOXE AO MMA

O boxe costumava ser melhor (financeiramente), afinal, o Popó era um campeão do mundo. Mas já faz tempo que ganho mais no MMA

LUIZ DÓREA, sobre a mudança em sua carreira, agora com mais espaço no MMA

O ex-pugilista baiano teve em suas mãos não só Popó, mas também Sertão, Pedro Lima e os irmãos Rodrigo e Rogério Nogueira, que começaram no boxe. Foram justamente estes dois últimos que há cerca de sete anos colocaram o mestre de boxe no caminho do vale-tudo, como forma de melhorarem a luta em pé, com os punhos. Em setembro, eles protagonizam o UFC 119.

“O MMA chegou para mim em 2003, com o Minotauro. Ele treinou boxe comigo desde os 15 anos, antes de entrar no jiu-jitsu. Depois, deslanchou, foi para os EUA, foi campeão no Pride. E então me ligou. Não esqueceu suas raízes e ligou para eu voltar a treiná-lo e dar uma base maior de boxe”, explica ele, em conversa na academia Champion, na Ladeira do Ypiranga, em Salvador.

Dórea já assistia à luta dos antigos pupilos, mas não imaginava na mudança que teria. Hoje, viaja quase todo mês, trabalha na maioria as edições do UFC e consegue dar condições aos treinos em sua academia de dois andares com o que ganha no vale-tudo e que já não lhe chegava pelo boxe.

OS TREINOS EM SALVADOR

  • Maurício Dehò/UOL Esporte

    Minotouro, Dórea e Cigano após treino na Champion, em Salvador

  • Maurício Dehò/UOL Esporte

    Lutadores fazem aquecimento em quintal, na academia de 2 andares

  • Maurício Dehò/UOL Esporte

    Índia, do MMA, é parte do grupo feminino que treina com Dórea

“Foi uma nova fase, de muito aprendizado. Viajava para o Japão e, vendo os melhores do mundo, passava o que eu sabia e recebia o conhecimento dos outros. Alguns de clinch, outros da característica de como lutar em cima, no chão”, conta o investigador.

“Como sou um estudioso de lutas, sei que com o boxe posso ajudar muito no MMA, porque a luta começa em cima. O boxe ensina a se deslocar, ensina a entrar no raio de ação é sair A base é o jiu-jitsu, mas hoje todos sabem lutar. Como os atletas hoje priorizam a trocação, o boxe e o muay-thay ganharam força”, analisa, sobre sua especialidade.

Os irmãos Nogueira chamaram atenção para uma série de outros lutadores, levando Dórea a ficar conhecido pelo talento no trato com o vale-tudo. O primeiro foi Gilberto Crocotá, que rendeu a estreia do técnico no UFC. Depois, passaram pela Champion Vitor Belfort, Anderson Silva, Demian Maia. “Todos que chegam ajudamos, porque a ideia é contribuir com o esporte brasileiro”, explica.

Agora, seu pupilo exclusivo que mais promete é Júnior Cigano, peso pesado com cinco lutas e cinco vitórias no UFC. “Não tenho dúvida de que o Cigano será campeão brasileiro. No passado, ele era esperança, mas hoje é uma realidade”, elogia, Dórea. O catarinense enfrenta o norte-americano Roy Nelson no UFC 117.

“O Dórea e o Minotauro sempre falam coisas que motivam. Isso me mostrou como é estar em cima de um ringue contra um top”, diz Cigano, sobre a confiança ganha na academia. O campeão do Pan do Rio Pedro Lima completa os elogios: “Ele é o tipo da pessoa que não faz por dinheiro. Aqui é uma família, com suas diferenças, como em qualquer outra, mas onde um ajuda o outro. É assim que trazemos os resultados.”

UOL VISITOU DÓREA EM 2008

Rodrigo Bertolotto/UOL Esporte
Há dois anos, Luiz Dórea viveu mais uma vez o sonho olímpico, com a presença de lutadores de sua academia nos Jogos Olímpicos de Pequim. O UOL marcou presença na preparação dos baianos, que acabaram voltando sem medalhas.

Vacas gordas, vacas magras

Não há dúvidas de que Luiz Dórea teve uma melhora considerável com a entrada no mundo do MMA, que fica clara na comparação das condições de sua academia de 2008 para cá. O local ganhou pintura nova, melhores equipamentos e até um Cage, importante na preparação do MMA, para a adaptação dos lutadores à luta na grade.

Mas financeiramente a época de Popó fica na saudade. “Nisso o boxe era melhor, o Popó era um campeão do mundo”, revela o treinador. “Faz tempo que ganho mais com o vale-tudo do que com o boxe, que não tem mais promotor. Modéstia parte, é muito difícil fazer o que fizemos com o Popó, tirando dinheiro do próprio bolso. Eu custeio, dou o mínimo para eles se manterem treinando, porque não há patrocinador. Ninguém quer fazer boxe.”

Se foi um dos primeiros a apostar com intensidade no MMA, Dórea quer ser pioneiro mais uma vez, em busca de um último objetivo. “Meu sonho é a medalha olímpica e não vou desistir. Sou um cara realizado, já conquistei tudo, e só falta a medalha. E tem boas chances de vir com o feminino. Está mais fácil com elas”, concluiu o técnico das campeãs sul-americanas Erica Matos (-51 kg) e Adriana Araújo (-60 kg).

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