Dórea posa junto ao cage usado para treinos de MMA na Champion, em Salvador |
Luiz Dórea divide seu tempo. Logo no início da tarde, parte para seu emprego oficial, como um respeitado investigador de polícia. Mas é pela manhã que faz o que realmente gosta. Em cerca de três horas, grita, sua e apanha de marmanjos suados e garotas musculosas. Mas tudo bem. É só a rotina de um técnico de boxe que ficou famoso por levar Acelino Freitas, o Popó, ao título mundial, e que tem aproveitado o crescimento do MMA para retomar seu melhor momento e dar nova direção à carreira.
O boxe costumava ser melhor (financeiramente), afinal, o Popó era um campeão do mundo. Mas já faz tempo que ganho mais no MMA
LUIZ DÓREA, sobre a mudança em sua carreira, agora com mais espaço no MMAO ex-pugilista baiano teve em suas mãos não só Popó, mas também Sertão, Pedro Lima e os irmãos Rodrigo e Rogério Nogueira, que começaram no boxe. Foram justamente estes dois últimos que há cerca de sete anos colocaram o mestre de boxe no caminho do vale-tudo, como forma de melhorarem a luta em pé, com os punhos. Em setembro, eles protagonizam o UFC 119.
“O MMA chegou para mim em 2003, com o Minotauro. Ele treinou boxe comigo desde os 15 anos, antes de entrar no jiu-jitsu. Depois, deslanchou, foi para os EUA, foi campeão no Pride. E então me ligou. Não esqueceu suas raízes e ligou para eu voltar a treiná-lo e dar uma base maior de boxe”, explica ele, em conversa na academia Champion, na Ladeira do Ypiranga, em Salvador.
Dórea já assistia à luta dos antigos pupilos, mas não imaginava na mudança que teria. Hoje, viaja quase todo mês, trabalha na maioria as edições do UFC e consegue dar condições aos treinos em sua academia de dois andares com o que ganha no vale-tudo e que já não lhe chegava pelo boxe.
Minotouro, Dórea e Cigano após treino na Champion, em Salvador
Lutadores fazem aquecimento em quintal, na academia de 2 andares
Índia, do MMA, é parte do grupo feminino que treina com Dórea
“Foi uma nova fase, de muito aprendizado. Viajava para o Japão e, vendo os melhores do mundo, passava o que eu sabia e recebia o conhecimento dos outros. Alguns de clinch, outros da característica de como lutar em cima, no chão”, conta o investigador.
“Como sou um estudioso de lutas, sei que com o boxe posso ajudar muito no MMA, porque a luta começa em cima. O boxe ensina a se deslocar, ensina a entrar no raio de ação é sair A base é o jiu-jitsu, mas hoje todos sabem lutar. Como os atletas hoje priorizam a trocação, o boxe e o muay-thay ganharam força”, analisa, sobre sua especialidade.
Os irmãos Nogueira chamaram atenção para uma série de outros lutadores, levando Dórea a ficar conhecido pelo talento no trato com o vale-tudo. O primeiro foi Gilberto Crocotá, que rendeu a estreia do técnico no UFC. Depois, passaram pela Champion Vitor Belfort, Anderson Silva, Demian Maia. “Todos que chegam ajudamos, porque a ideia é contribuir com o esporte brasileiro”, explica.
Agora, seu pupilo exclusivo que mais promete é Júnior Cigano, peso pesado com cinco lutas e cinco vitórias no UFC. “Não tenho dúvida de que o Cigano será campeão brasileiro. No passado, ele era esperança, mas hoje é uma realidade”, elogia, Dórea. O catarinense enfrenta o norte-americano Roy Nelson no UFC 117.
“O Dórea e o Minotauro sempre falam coisas que motivam. Isso me mostrou como é estar em cima de um ringue contra um top”, diz Cigano, sobre a confiança ganha na academia. O campeão do Pan do Rio Pedro Lima completa os elogios: “Ele é o tipo da pessoa que não faz por dinheiro. Aqui é uma família, com suas diferenças, como em qualquer outra, mas onde um ajuda o outro. É assim que trazemos os resultados.”
Há dois anos, Luiz Dórea viveu mais uma vez o sonho olímpico, com a presença de lutadores de sua academia nos Jogos Olímpicos de Pequim. O UOL marcou presença na preparação dos baianos, que acabaram voltando sem medalhas.
Não há dúvidas de que Luiz Dórea teve uma melhora considerável com a entrada no mundo do MMA, que fica clara na comparação das condições de sua academia de 2008 para cá. O local ganhou pintura nova, melhores equipamentos e até um Cage, importante na preparação do MMA, para a adaptação dos lutadores à luta na grade.
Mas financeiramente a época de Popó fica na saudade. “Nisso o boxe era melhor, o Popó era um campeão do mundo”, revela o treinador. “Faz tempo que ganho mais com o vale-tudo do que com o boxe, que não tem mais promotor. Modéstia parte, é muito difícil fazer o que fizemos com o Popó, tirando dinheiro do próprio bolso. Eu custeio, dou o mínimo para eles se manterem treinando, porque não há patrocinador. Ninguém quer fazer boxe.”
Se foi um dos primeiros a apostar com intensidade no MMA, Dórea quer ser pioneiro mais uma vez, em busca de um último objetivo. “Meu sonho é a medalha olímpica e não vou desistir. Sou um cara realizado, já conquistei tudo, e só falta a medalha. E tem boas chances de vir com o feminino. Está mais fácil com elas”, concluiu o técnico das campeãs sul-americanas Erica Matos (-51 kg) e Adriana Araújo (-60 kg).
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