Topo

Judô brasileiro e sua volta ao mundo: 26 países em 12 meses

Rafael Silva foi um dos judocas que rodaram o mundo com a seleção brasileira - Rafal Burza/CBJ
Rafael Silva foi um dos judocas que rodaram o mundo com a seleção brasileira Imagem: Rafal Burza/CBJ

Bruno Doro

Do UOL, em São Paulo

30/10/2014 06h00

Na semana passada, o brasileiro Rafael Macedo conquistou o título mundial sub-21 de judô em Fort Lauderdale, nos EUA. Um mês antes, outra brasileira, a gaúcha Mayra Aguiar conquistou o seu próprio título mundial, na categoria principal, no Mundial de Chelyabinsk, na Rússia. Sabe o que os dois títulos têm em comum (além de estarem a mais de 6.500km cada do Brasil)? A volta ao mundo que o judô brasileiro dá para competir.

De janeiro a dezembro, as seleções brasileiras da modalidade vão viajar para 26 países. O roteiro tem destinos turísticos tradicionais, como Paris e Roma, até cidades que normalmente estão bem longe do roteiro de quem resolve tirar férias, como Ulaanbaatar, na Mongólia, Astana, no Cazaquistão, ou Tashkent, no Uzbequistão.

Usando apenas a distância entre São Paulo, de onde sai a maioria dos atletas nas viagens internacionais do judô, e essas sete cidades, seria possível dar duas voltas ao redor da terra – e ainda sobrariam 2.000 km, o suficiente para ir de São Paulo ao Rio de Janeiro cinco vezes. Imagine, então, se somarmos idas e voltas de todos os destinos dos judocas na temporada?

Esse número elevado de viagens tem dois motivos. O primeiro é o plano da Federação Internacional de Judô de ampliar o alcance da modalidade. Desde que o atual presidente, o romeno Marius Vizer, assumiu a entidade, em 2007, ele criou o circuito mundial de judô. Atualmente, são mais de 40 eventos espalhados pelo mundo, nos cinco continentes.

E o Brasil faz questão de estar em quase todos. É estratégia da Confederação nacional viajar muito para qualificar seus atletas. O país tem vários atletas em cada peso e usa planejamentos diferentes para cada um deles. “Nós fazemos planejamentos individuais para cada atleta. Os mais jovens viajam mais, para ganhar experiência. Os mais veteranos, viajam menos, em um calendário menor”, explica o coordenador da CBJ, Ney Wilson.

Essas viagens, porém, não são necessárias só pela experiência: fazem parte do processo de classificação para os Jogos Olímpicos. As vagas são definidas pelo ranking mundial, incluindo o chaveamento durante as Olimpíadas. Isso quer dizer que o caminho dos melhores ranqueados na busca pela medalha é mais tranquilo.

Some esses fatores com as grandes verbas com que a CBJ conta (a entidade lista oito patrocinadores em seu site oficial e, por causa da sequência de bons resultados olímpicos, é uma das que mais recebe verbas da Lei Piva, que destina parte do dinheiro das loterias para o esporte) e você explica porque, nos últimos anos, o Brasil tem tido tanto destaque no exterior. No quadro de medalhas que a FIJ mantém, o Brasil aparece em segundo lugar na temporada, com 39 ouros. Só o Japão supera os brasileiros, com 55 ouros. No número total de medalhas, o país aparece em primeiro lugar, com 127 conquistas (39 ouros, 26 pratas e 62 bronzes), ao lado da França (35, 32 e 60) – os japoneses têm 118 pódios na temporada.

Além disso, os brasileiros também aparecem bem no ranking mundial. Lideram duas categorias: Charles Chibana é o melhor nos meio-leves (66kg) e Rafael Silva, nos pesados (+100kg). E outros oito atletas (Felipe Kitadai é o 7º nos 60kg, Victor Penalber é o 3º nos 81kg, David Moura é o 8º nos +100kg, Sarah Menezes é a 2ª nos 48kg, Érika Miranda é a 2ª nos 52kg, Rafaela Silva é a 3ª nos 57kg, Mayra Aguiar é a 2ª nos 78kg e Maria Suelen Altheman é a 2ª nos +78kg) aparecem entre os dez melhores do ranking.

Rafael Silva, medalhista de bronze no último mundial, aprova a estratégia: “Eu gosto de estar sempre competindo. Ajuda a manter o ritmo e a conhecer os rivais”, conta o gigante de 2,03m e 150 kg. “O problemas são as viagens. Sou um pouco grande para aquelas poltronas de avião”, brinca.