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Goleiro de handebol do Brasil relembra racismo: "fiquei 4, 5 dias chorando"

Moacyr Lopes Junior/Folhapress
Imagem: Moacyr Lopes Junior/Folhapress

Roberto Oliveira

Do UOL, em São Paulo

19/01/2015 06h00

O dia 29 de novembro de 2014 nunca será esquecido por César de Almeida, o Bombom, goleiro e um dos destaques da seleção brasileira de handebol, que disputa nesta segunda-feira, contra Belarus, seu terceiro jogo no Mundial da modalidade.

Durante uma partida entre o seu clube, o Guadalajara, e o Benidorm, pela primeira divisão espanhola, no fim do ano passado, Bombom foi chamado de "macaco" por um grupo de jovens torcedores do time rival.

"Foi um dia marcante para mim. Eu fiquei uns 4, 5 dias chorando sempre que chegava em casa. Eu não acreditava que, em pleno 2014, tivesse sofrido insultos racistas, ainda mais vindo de um garoto de 14 anos", conta ele ao UOL Esporte.

À época, Bombom não se calou diante das palavras de preconceito, se posicionou publicamente sobre o caso e recebeu mensagens de apoio de diversos lugares. A pedido dele, o Guadalajara entrou com uma denúncia contra o Benidorm no Comitê Nacional de Competição, um dos órgãos da Confederação Espanhola de Handebol.

"A punição foi uma advertência ao clube. O presidente do clube e o treinador do menino de 14 anos me garantiram que ele seria punido com suspensão das atividades por 3, 4 meses."

Mais que punições, o caso gerou indignação e bastante repercussão na Espanha, onde o handebol é um dos esportes mais populares. Apesar da tristeza que sentiu, Bombom não guarda rancor e enxerga as ofensas como um episódio isolado.

"A Espanha foi um país que me acolheu e onde sempre fui tratado bem e com respeito. E pela reação dos meus companheiros de profissão, muitos que eu nem tinha falado antes, vi que eles não compartilham essa atitude isolada no mundo do handebol", explicou o goleiro, que espera o dia em que "as pessoas não julguem as outras por sua cor, religião ou opção sexual".

Bombom voltou a ser um dos destaques da seleção na derrota de 29 a 27 contra os espanhóis, no último sábado. Começou jogando e fez boas defesas, freando o ataque campeão mundial. Antes, na estreia contra o Qatar, já havia se destacado no segundo tempo, pegando dois tiros de 7 metros.

Com duas derrotas em dois jogos no Grupo A, o Brasil enfrenta Belarus nesta segunda, dois dias depois pega a Eslovênia, e encerra a primeira fase contra o Chile, na sexta (23). Para chegar às oitavas de final - melhor resultado na história – a seleção de handebol precisa de pelo menos duas vitórias nos próximos três jogos. ​