UOL Esporte Ginástica
 
15/09/2008 - 14h01

Ex-ginastas acusam CBG de maus tratos e reforçam coro de Jade

Bruno Império
Em São Paulo
Depois de Jade Barbosa disparar contra a Confederação Brasileira de Ginástica revelando ter sofrido com negligência médica e maus tratos, outras ginastas decidiram revelar o que passaram durante o período em que estiveram no centro de treinamento de Curitiba. Segundo apurou a reportagem do UOL Esporte, as atletas também tiveram problemas com a direção e o departamento médico da entidade, que teriam escondido lesões e prejudicado suas carreiras.

Maíra dos Santos Silva, ex-ginasta que deixou a seleção brasileira em 2006, afirma que, enquanto integrou a equipe nacional, era mal tratada por técnicos e também pela direção da entidade. A atleta revela, inclusive, já ter sido ofendida pelos técnicos Oleg Ostapenko e Irina Iliyashenko.

"O Oleg já me chamou de burra. A Irina me chamava de gorda. Isso sempre acontecia, era até normal", revela a ex-ginasta. Para ela, entretanto, a maior humilhação ocorreu logo quando entrou na seleção brasileira permanente.

"Eu estava sozinha treinando no final da tarde e tinha magnésio espalhado pelo chão do ginásio. A Eliane Martins [coordenadora da seleção] virou para mim e perguntou se havia sido eu que tinha derrubado o magnésio. Eu disse que não, mas ela seguiu brigando comigo, me mandou ficar quieta e me obrigou a varrer o chão ", conta.

A ginasta decidiu abandonar a carreira justamente pelos episódios vividos na seleção brasileira. "Se eu soubesse que na seleção era assim, eu jamais teria entrado. Acho que se não tivesse ido para Curitiba, estaria na ginástica até hoje", afirma.

Eliane Martins afirmou que não se lembra do episódio, mas confirmou: "as meninas que deixavam magnésio cair eram obrigadas a limpar sim. Temos um ginásio muito limpo e zelamos por isso".
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É o caso de Maíra dos Santos Silva, atualmente com 17 anos, e que integrou a base da equipe nacional entre os anos de 2005 e 2006. Maíra abandonou a seleção após ter sido informada pelo diretor do departamento médico da CBG, Mário Namba, de que teria de fazer uma cirurgia no ombro porque estava com todos os ligamentos e tendões rompidos. Segundo ela, porém, a lesão ocorreu porque a entidade foi omissa em relação ao tratamento e chegou a mentir sobre a gravidade de seu caso.

"Sempre reclamava de dores para a comissão técnica e para o Namba. Eles apenas me davam um antiinflamatório e diziam que era frescura minha. Fiz vários exames e eles sempre disseram que as dores eram decorrentes de uma luxação, coisa simples. Até que um dia eu não agüentei mais competir e disseram, de repente, que eu tinha que operar", contou.

Maíra diz ter se machucado em uma queda durante uma série de treinos na paralela em fevereiro de 2006. Segundo ela, o departamento médico da CBG atestou que a ginasta tinha sofrido apenas um deslocamento do ombro e uma luxação e não permitiu que Maíra visse os exames. A atleta só foi operar o ombro em agosto, quando não agüentava mais treinar e competir. Pouco depois, quando decidiu deixar a equipe, descobriu que teria sido enganada.

"Eu fiz uma ressonância quando caí, mas não tive acesso a esse exame. Só quando saí da seleção e pedi todos os papéis foi que eles me deram o exame feito depois da queda. Foi só então que pude perceber que, já em 2006, havia sofrido um rompimento parcial. Mas não fiquei sabendo disso na época porque não foi isso que me disseram. Continuei competindo e a lesão foi se agravando", disse.

As queixas de Maíra preocuparam também a mãe da atleta, Sônia Maria, que também trabalhava na CBG como uma espécie de governanta do alojamento em que as ginastas moravam em Curitiba. Sônia chegou a consultar Eliane Martins, coordenadora da entidade, sobre a possibilidade de procurar uma segunda opinião médica sobre a lesão de sua filha, que chegava dos treinos reclamando de dores no ombro. Diz que, em resposta, foi ameaçada.

"Quando fui questionar a Eliane [Martins] sobre a lesão ela me disse: 'se você quiser levar ela em outro médico, você leva. Mas, se você fizer isso, nenhum outro médico da CBG irá mais colocar a mão nela. Depois, qualquer coisa ela tiver, ela vai ter que ser atendida em médico particular'. Achei um absurdo, mas como sou do interior de São Paulo e não conhecia nada em Curitiba, acabei aceitando aquela situação", afirmou Sônia, que atualmente voltou a viver com a filha em Presidente Prudente.

Procurada pela reportagem, a Confederação Brasileira de Ginástica respondeu, por meio da coordenadora Eliane Martins, que as acusações não têm fundamento. Eliane também negou que tenha omitido os resultados dos exames de Maíra.

"É curioso como, há algum tempo atrás, consideravam que a CBG realizava um trabalho de excelência. Agora mudou. Fazemos tudo errado. É interessante como essas pessoas só estão reclamando agora. Puro oportunismo", respondeu Eliane Martins.

Sônia ainda revela que a direção da CBG chegou a propor que Maíra competisse machucada. "Apesar da ressonância realizada no final de agosto ter apontado que ela precisava passar por uma cirurgia, a Eliane e a comissão técnica propuseram que ela não operasse porque queriam que ela competisse em novembro. O que iam fazer com ela eu não sei", disse.

O caso é muito parecido com o de Roberta Monari, outra ginasta que deixou a seleção. Segundo uma fonte ligada à ginasta que não quis se identificar, Roberta passou boa parte de 2006 reclamando de dores no pé direito e também não foi levada a sério.

"Quando ela falava que estava doendo e chorava nos treinos, diziam que era desculpa para não treinar, que estava com frescura. Até que ela sofreu uma queda simples durante o aquecimento do Campeonato Brasileiro em Goiânia e não conseguiu competir. Só então foram fazer exames nela e constataram que ela estava com o tendão de aquiles rompido. Eles ainda mentiram para ela. Porque já sabiam que existia um rompimento parcial desde abril e não contaram nada para ela. Quando anunciaram os resultados do exame, ainda disseram que não era um rompimento total para que ela aceitasse competir até o final do ano com uma espécie de botinha", disse. Atualmente Roberta Monari integra o elenco do Cirque du Soleil, no Canadá.

O médico Mário Namba, responsável pelo departamento médico da entidade, não foi encontrado antes da publicação da reportagem.

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