UOL Esporte Futebol
 
10/03/2009 - 14h00

Corinthians desfaz time feminino e deixa jogadoras desempregadas

Bruno Império
Em São Paulo
O Corinthians contratou Cristiane e sonhou com Marta após a medalha de prata conquistada pela seleção brasileira nas Olimpíadas de Pequim. A aventura, porém, durou pouco. Menos de um ano depois de anunciar o ambicioso projeto, o clube acabou com seu time feminino próprio e deixou diversas jogadoras desempregadas.

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Ao lado de Andrés Sanchez, Juliana Cabral participa de lançamento de carro do time
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Sem dinheiro e patrocínio para financiar uma equipe, a diretoria fechou uma parceria com o São Caetano/Unip e dispensou a maioria das atletas que integraram o grupo alvinegro.

As jogadoras dispensadas reclamam de terem sido traídas pela diretoria alvinegra. Segundo elas, o aviso de que o time acabaria foi feito em cima da hora, quando já tinham, inclusive, agendado a reapresentação do elenco para a temporada 2009 - que ainda não tem calendário definido.

"A nossa primeira reapresentação estava marcada para o dia 20 de janeiro. Aparecemos lá e pediram que voltássemos depois das eleições da presidência do clube. Passada a vitória do Andrés, nos ligaram dizendo que era para que retornássemos depois do Carnaval. Mas, quando voltamos, avisaram que essa parceria tinha sido fechada e nós estávamos dispensadas. Somente três jogadoras do antigo grupo foram aproveitadas nesse 'novo time' do Corinthians", afirmou a zagueira Juliana Cabral, capitã da seleção medalha de prata nos Jogos de Atenas-04 e também da equipe alvinegra no ano passado.

"O time com o qual o Corinthians fechou parceria já tem um elenco formado. A comissão técnica foi trocada e esta nova equipe só precisava de uma atacante, uma meia e uma goleira. Três das meninas que estavam com a gente e atuam nessas posições toparam ficar. Todas as demais foram cortadas", completou Juliana.

Karina, que também integrou o time que não conseguiu cumprir as metas traçadas pela diretoria - vencer o Campeonato Paulista e a Copa do Brasil -, reforçou o coro de Juliana Cabral. Ela, porém, focou sua revolta em Andrés Sanchez, presidente do clube.

"Depois que os campeonatos acabaram, o Andrés falou que teríamos mudanças, que teríamos um orçamento reduzido, mas garantiu que todas as jogadoras seriam mantidas. Mas não foi isso que aconteceu. Ele foi desleal com a gente. Ele deveria ter sido homem de ter falado a verdade para nós", disparou Karina.

"Ele [Andrés Sanchez] não gosta de futebol feminino. Chegou até a dizer isso em uma reunião. No começo, quando a Cristiane chegou, ele foi atencioso. Mas, na hora em que mais precisávamos de apoio, ele virou as costas", completou a jogadora.

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Cristiane, artilhera do Brasil na Olimpíada, foi a grande estrela do time do Corinthians
CONFIRA O PERFIL DE CRISTIANE
As atletas também denunciam que não possuíam qualquer vínculo com o Corinthians. Nenhuma delas jamais assinou um contrato com o clube ou trabalhava com carteira assinada. Elas recebiam, entretanto, um salário mensal que era depositado em uma conta no Bradesco e contavam com assistência médica da Medial, que, no ano passado, patrocinava a equipe masculina.

Sem acordo formal, elas prometem processar o clube. "Eu não queria isso. Mas tenho que procurar meus direitos", disse Juliana Cabral. "É uma situação complicada. Estamos saindo com uma mão na frente e outra atrás. Não podemos deixar isso barato", completou Karina.

Procurada pela reportagem do UOL Esporte, Cristiane Gambaré, dirigente que coordenou os trabalhos do futebol feminino na última temporada, afirmou que a inexistência de contrato com as jogadoras é procedimento de praxe no clube.

"Apesar de profissional, o futebol feminino é considerado esporte amador. Não precisa ter contrato, carteira assinada nem nada. Pagávamos uma ajuda de custo às jogadoras todo mês e o único vínculo que elas tinham com o clube era o da inscrição em campeonatos", afirmou. A exceção era a jogadora Cristiane, que além de acordo com o clube possuía contrato com o Hospital Villa-Lobos, que bancava o salário da atleta.

A diretora, que afirma não ter participado do fechamento da parceria com o São Caetano/Unip, está se distanciado da administração da equipe feminina. "Todo este acordo foi tramado pela presidência. O Andrés sabe o que é melhor para o clube. Infelizmente, não tínhamos como sustentar uma folha salarial que girava entre R$ 60 e R$ 70 mil sem um patrocinador. Por isso não pudemos manter as jogadoras", completou.

A reportagem consultou o advogado do Sindicado dos Atletas do Estado de São Paulo, Washington Rodrigues, sobre a situação das atletas. Segundo ele, os casos devem ser analisados individualmente, mas que a ação judicial é possível. "Não há como dar um parecer sem conhecer todas as circunstâncias. Tem a questão do direito de imagem, por exemplo. Se elas puderem comprovar vínculo empregatício, subordinação, é cabível. Porque nessa situação é necessário um contrato", disse.

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