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09/05/2008 - 08h32

Corinthians esteve na segundona em 1982 com Casagrande, Sócrates e democracia

Rodrigo Bertolotto
Especial para o Pelé.Net


SÃO PAULO - Foi no verão de 1982. Durante um mês o Corinthians experimentou a segunda divisão nacional, coisa que vai amargar pela segunda vez em sua história nos próximos sete meses a partir deste sábado.

O Brasil chorava a morte da cantora Elis Regina e esperava pelas primeiras eleições diretas para governador após o golpe militar de 1964. E os corintianos tinham pela frente rivais como Catuense (BA), Colatina (ES) e Guará (DF) para voltar para a elite do futebol.

Sinal que os anos passam (e lá se vão 26 deles), a vida levou algumas das personagens daquele Corinthians para destinos impensados: a revelação Casagrande atualmente se recupera em clínica de desintoxicação, o meia cerebral Sócrates é colunista de revista, o volante Biro Biro virou protagonista de uma propaganda de refrigerante, e o diretor de futebol, Adilson Monteiro Alves, vive hoje como dono de bingo.

UM MÊS SÓ NA SEGUNDA
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Junto ao zagueiro Wágner (esq.), o júnior Casagrande posa para foto após treino
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Ao lado do goleiro Rafael, o meia Sócrates se reapresenta prometendo o retorno à elite
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Diante de gravador avantajado, o técnico corintiano, Mário Travaglini, dá entrevista
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O volante Biro Biro segura rival do América do Rio na estréia com vitória na segundona
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O atacante Mário arremata no empate em 1 a 1 com o Colatina (ES) no Pacaembu
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Campinense (PB) foi o último adversário, vencido por 2 a 1 com gol de Casagrande
PÁGINA DO CORINTHIANS
PÁGINA DA SEGUNDA DIVISÃO
VEJA ÁLBUM DE FOTOS
Além de contar com um time talentoso, outros fatores atenuaram a estréia na segundona. Não houve rebaixamento: a nona posição no Campeonato Paulista de 1981 determinou sua vaga na Taça da Prata, afinal, só os seis primeiros no Estadual começavam a Taça de Ouro do Nacional (entre eles, os interioranos XV de Jaú e Inter de Limeira).

E para alívio alvinegro, o arqui-rival Palmeiras lhe fazia companhia longe do torneio principal do país - assim como a Portuguesa. Era um tempo de campeonatos inchados para atender os interesses políticos da ditadura e com regulamentos rocambolescos, bem ao gosto dos dirigentes.

Mas ao contrário dos palmeirenses, o Corinthians pulou na mesma temporada para a primeira divisão, onde só não fez a final porque parou nas semifinais do Brasileirão diante do Grêmio. Sócrates profetizou isso no início do ano para desconversar sobre sua transferência para a Europa. "Se tudo correr bem, vou pensar se saio ou não do país depois da Copa do Mundo. Antes temos que levar o Corinthians às finais da Taça de Ouro", prometeu.

E o período na segunda divisão foi frutífero para a equipe. Por um lado, o novo tipo de administração em que os jogadores eram ouvidos pela diretoria, a chamada Democracia Corintiana, se fortaleceu. Por outro, o time viu surgir uma de suas figuras lendárias, Casagrande, que já na sua estréia fez quatro gols.

A temporada começou no dia 7 de janeiro, com a reapresentação do elenco e uma reunião com diretoria e comissão técnica. O zagueiro Mauro se negou a ser emprestado ao XV de Jaú, enquanto os dirigentes recusaram os pedidos de empréstimo por Sócrates (do Botafogo-RJ) e por Casagrande (do América-RJ, justo o rival na estréia da Taça de Prata).

O Corinthians fez um amistoso com o Estudiantes, da Argentina. Mas a vitória por 1 a 0 foi amarga, afinal, Sócrates saiu contundido de campo. Três dias depois, no 24 de janeiro, o time fazia sua primeira partida oficial na segundona: um triunfo sobre o América carioca com dois gols do atacante Mário para os 18.352 pagantes no Pacaembu.

O aloirado Mário também foi o responsável pelo gol corintiano diante dos capixabas do Colatina, mas o jogo terminou em 1 a 1 porque os visitantes marcaram no final, após um recuo infeliz de Zenon. Também não era para menos, o técnico corintiano, Mário Travaglini, não tinha nenhuma informação sobre o rival. "Não sei muito sobre o Colatina. Só que é do Espírito Santo. Vamos conhecendo os adversários durante os jogos", confessou o treinador antes da partida. Vaias marcaram o final de uma partida em que o time estava irreconhecível diante de um Colatina que entrou em campo para não ser goleado (hoje o time pertence ao ex-palmeirense Edmilson).

A equipe fez sua primeira viagem para Alagoinhas, cidade do interior baiano, para enfrentar a Catuense, do vizinho município de Catu, mas sem estádio apropriado. O empate em 0 a 0 deixou o time paulista fora da zona de classificação, além de perder seu artilheiro, que saiu de campo contundido. Na volta a São Paulo, a torcida pediu reforços.

Foi nesse momento que o técnico tirou da manga um júnior cabeludo que tinha sido emprestado para a Caldense (MG), mas que retornara ao clube. "Pelo tamanho e estilo, ele me lembra o Roberto Dinamite", elogiou Travaglini antes do jogo. Aos 18 anos, Casagrande fez o que foi considerada a melhor estréia de um atacante no Corinthians: marcou quatro gols na vitória por 5 a 1 contra o Guará, do Distrito Federal.

A partir daí, a trajetória foi só ascendente. O time viajou para Salvador para um jogo decisivo contra o modesto Leônico. Mesmo machucado, Sócrates viajou para dar apoio aos companheiros. E voltaram para São Paulo classificados para a próxima fase da Taça de Prata com a vitória por 3 a 1 com gols de Wagner, Biro Biro e Casagrande.

O Corinthians caiu em um grupo com Fortaleza e Campinense (PB) e tirou de letra. Ainda mais com a volta de Sócrates. A equipe foi ao estádio Castelão, na capital do Ceará, e ganhou por 4 a 2, com três gols de Zenon e um do doutor corintiano.

A última partida na segundona aconteceu no dia 17 de fevereiro para um Pacaembu lotado. Eduardo Amorim, que depois seria técnico da equipe, marcou o primeiro. Casagrande aumentou. Mas no final do primeiro tempo, o lateral Zé Maria fez um gol contra, deixando a torcida tensa. A má atuação no segundo tempo gerou uma vaia na torcida.

O Corinthians foi promovido para a Taça Ouro. Brilhou em um grupo com Internacional, Atlético-MG e Flamengo. Eliminou Bahia e Bangu nos mata-matas. Mas parou no Grêmio nas semifinais. Esse time foi a base para no segundo semestre ganhar o Campeonato Paulista, o que se repetiu no ano seguinte.

A esperança corintiana agora é que o périplo pela segunda divisão de novo sirva de novo para o time ressurgir com força no cenário nacional. Como única coincidência, o time paulista vai reencontrar o Fortaleza na segundona, como fez em 1982, e isso vai acontecer logo na quarta rodada.

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